3 TRICOTÔMICO 02

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Matheus já está em São João de Meriti, ele atendeu todos os clientes de hoje, e fechou todas as propostas das visitas, por isso se encontra cheio de dinheiro no bolso.

Matheus chega, passa em casa para trocar de roupa, sua mãe ainda está na igreja, na oração, intercedendo pela vida dele.

Na oração, a irmã Ângela – que não é membro da igreja onde está tendo a oração e ela não conhece a vida das pessoas ali, mas na consagração ela teve algumas visões –, fala para a igreja, chorando:

– Eu vi os anjos com as trombetas que vão soar no céu para convocação dos santos, para o arrebatamento dos santos já em suas bocas, e os via como já começando a iniciar o soar das trombetas, eu ainda via Jesus de pé, caminhando para buscar os seus servos, eu não sei se é agora, daqui uma hora, duas horas, se é logo mais, amanhã, semana que vem, mas Deus me fez entender que está muito perto a vida do Filho do homem, o nosso Senhor e salvador Jesus Cristo.

A irmã Ângela volta-se para a irmã Rose, mãe de Matheus, e diz:

– Mulher, eu vi um vendaval entrando na sua casa, que deixava tudo de pernas para cima, o vento era tão forte que eu vi você e seu marido muito tristes, depois disso, mulher, eu via o seu filho, correndo muito, mas muito mesmo.

A irmã Ângela entrega mais visões, ela fala para toda a igreja agora:

– Eu vejo cinco jovens que entravam por essas portas, esses jovens estão afastados, mas Deus manda dizer para as mães, que ele vai trazê-los de volta, e isso será muito rápido.

A igreja está em campanha pelos jovens, e as mães dos que estão desviados, estão orando pela salvação dos seus filhos. Nesse dia, na consagração, a irmã Rose, mãe de Matheus está entregando um jejum de vinte quatro horas, com o propósito da salvação da vida do seu filho.

Enquanto a mãe está na igreja orando por ele, Matheus já saiu de casa, ele está na rua conversando com uns adolescentes envolvidos com roubo, tráfico e que são usuários de droga. Entre os jovens rola um cigarro de maconha, cerveja, uísque caro, bebidas energéticas e Chandon. Um dos adolescentes está com a mala do carro aberta tocando um proibidão.

Eles falam de vida do crime, drogas e de uma adolescente que está no morro fazendo orgia com todos os caras da boca de fumo, referindo-se a Marcela. Combinam de se encontrarem no baile, mais tarde.

Escova, um dos adolescentes, diz:

– Caraca, mermão, o morro tá como, arregadão, chegou uma carga da pura, mermão.

– Cara, você viu no face, a mãe da Marcela procurando ela, a coroa tá como desesperada, já rodou tudo, até IML ela foi, a tia disse que ela tá sumida há dois dias de casa. – Diz Dico.

– Mas essa novinha não tá no morro, Dico?

– Tá, mermão, mas a mãe dela num sabe, pô... Mermão, ela chegou no morro anteontem, deu pra boca toda, geral comeu, que novinha safada.

– E era crente, hein, essas novinhas da igreja quando desviam ficam pior do que as do mundo.

Dico dá um trago e passa para o Matheus, que fala antes de tragar:

– Pô, geral comeu cara, só eu que não.

Dico, prendendo a fumaça da erva, fala:

– Hummm bandido, tá de bobeira, ela deu o papo, vai ter repeteco mais tarde, vai fazer a alegria da rapaziada que é envolvida, vai dar pra geral...

Todos riem e falam:

– Já é, tô firmão mermão, esse baile não perco por nada.

Matheus está tão concentrado no assunto e fumando seu cigarro de maconha, que dá um trago, e nem percebe que está passando a irmã Jussara, mãe do Jefferson, que vê essa cena e continua o seu caminho.

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