PERSEGUIDOS

10 COMPLETUDE 00

O caminho de volta para a casa do Jefferson agora está mais longo. Eles terão de andar até a entrada do outro lado. Não chove faz dias, o asfalto está quente, e as ruas não têm uma corrente de vento para refrescar um pouquinho a noite; eles.têm a sensação de que o caminho está mais longo... Para piorar, estão muito cansados de correr a noite toda.

O Rio de Janeiro está numa região de clima tropical, as pancadas de chuva se formam bem rápidas, e é exatamente o que está acontecendo agora. Depois de algumas semanas finalmente vai chover. Há uma corrente de vento começando a soprar, nuvens começam a se formar no céu, as massas frias se chocam com as quentes, e os relâmpagos começam a rasgar o céu. Todos eles se lembram de uma passagem da Bíblia, em Mateus 24:27. Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem.

Os sons dos trovões assustam o cachorro Trovão, que coloca o rabinho entre as pernas e vem correndo andar do lado do Matheus; ele morre de medo do estrondo que produz o choque das massas quente e fria.

O clima já começa a mudar, esse momento de calmaria que antecede uma tempestade é muito gostoso, eles continuam caminhando, curtindo a corrente de frente fria que está soprando nas ruas.

Quando eles foram correndo tentar salvar o Patrick, os quatro amigos foram por uma rua, mas na hora de voltar, Jefferson sentiu de passar por outra rua, Juliana até achou que era paranoia dele, mas ele falou:

– Sei lá, mano, vai que alguém pá!, ficou de butuca em nós, aí a gente voltando por outra rua, nós dá perdido neles.

Todos concordam e eles vão por outra rua, ela está com pouca iluminação, eles vão andando e pensando em como será quando chegarem à casa de Jefferson. Como vão viver, o que vão fazer para conseguir comida para eles todos os dias, como vão comprar roupas, como vão conseguir trabalho, terminar os estudos, se tudo necessitava dos chips, como seria ter um filho naqueles dias, com o mundo daquela maneira. Eles vão pensando nessas questões, que em breve vão ter de enfrentar.

Quando Patrícia diz que vê alguém sentado no banco da praça, mais à frente, no escuro, todos ficam atentos. Juliana acha que é uma armadilha.

Mas eles são adolescentes e com adolescentes não adianta falar para não fazer o proibido; o que é arriscado exerce grande atração neles: os quatro vão pelo canto do muro para ver quem é.

Como a rua estava escura não dava para identificar quem era, ou se tinha mais alguém ali com ele escondido. Um relâmpago rasgou o céu de ponta a ponta, clareou e iluminou tudo. É assim que todos reconhecem quem está sentado na praça sozinho, e gritam:

– Patrick!

Ele estava com um fone no ouvido, ouvia música num volume bem alto, mas mesmo assim ele escuta, e vê seus amigos Matheus, Jefferson, Juliana e Patrícia vindo correndo na direção dele, ele se levanta, abre os braços e já começa a chorar de alegria.

– Meus amigos, eu pensei que vocês tinham me deixado, eu pensei que vocês tinham me abandonado, pensei que vocês tinham sido presos, eu pensei que vocês tinham morrido, eu pensei que eu estava sozinho no mundo, mas que bom que vocês me acharam.

– Mas o que aconteceu contigo, cara? – Pergunta Matheus.

– Matheus, eu não vou mentir, eu fiquei com medo.

– Com medo de que Patrick, eu estava lá com você e você desceu correndo, se despediu de mim e me deixou lá sozinha, que ligação foi aquela? O que houve, foram os seus pais?

– Não, os meus pais estão melhores que eu, já até soube que eles também foram arrebatados, o que aconteceu foi uma ligação que eu recebi do Cleiton, ele estava com o policial Charles, aquele filho do cão, ele fez o Cleiton me pedir para trair vocês, a coisa que eu mais prezo nessa vida, agora que perdi meus pais, são meus amigos, vocês são a minha família e tudo que tenho nesse mundo, aí eu fiquei com medo... O meu medo é que eu não sei o que sou, quem eu sou, eu não sei se sou crente, eu não sei se sou gay, até horas atrás eu era um gay assumido com namorado e tudo, agora estou fugindo para não negar o nome de Jesus.