PERSEGUIDOS

9 OS FRUTOS 01

O policial Charles conseguiu que a maior parte do efetivo em serviço do 21o Batalhão fosse deslocado para essa região, mais uma vez ele usou uma carta na manga, quando ele solicitou ao comandante que mandasse todas as viaturas para essa região.

O comandante disse que ele estava maluco, pois a noite estava com muitos focos de tensão e com várias ocorrências em diversos pontos diferentes da cidade. O efetivo de serviço já não estava dando vazão de cobrir todo o território; se concentrasse todo o efetivo num único lugar como o policial Charles solicitou, seria um grande risco de uma rebelião geral no em São João de Meriti. Ele pergunta ao policial Charles se ele queria uma anarquia geral no município, com lojas sendo saqueadas e apedrejadas? Casas invadidas? Pessoas aproveitando a oportunidade para matar por picuinha, raiva, brigas passadas, ciúme e vingança... O comandante pergunta se ele quer carros queimados, ônibus incendiados e todo tipo de terrorismo.

O policial Charles responde que não se importava, que tudo o que ele disse era problema dele, já que ele é o comandante.

O comandante então retruca que por ele ser o comandante não mandaria mais nenhuma viatura para lá.

Diante da recusa do comandante, o policial Charles então vai ao seu carregamento de arquivos on-line, seleciona a pasta "Alto Escalão Pedofilia" e escolhe um vídeo com membros do alto escalão da polícia junto com outras autoridades estaduais, federais e empresários em uma festa regada a meninas novas, – mas só as de doze anos para baixo – e manda para algumas pessoas, e diz que o comandante não queria atendê-lo em um favor, o comandante recebe uma enxurrada de ligações. Foi assim que o policial Charles conseguiu colocar Matheus, Jefferson, Juliana Patrick e Juliana em todas as listas de procurados como prioridade. Agora ele quer todo efetivo caçando Matheus e Juliana.

Foi por isso que o comandante designou o policial Charles para outro departamento; ele quer se ver livre desse tipo de coisa, mas mediante a pressão de superiores, teve que atender a solicitação de concentrar todo efetivo atrás de um casal de adolescentes.

Matheus vê na rua transversal em frente, luzes intermitentes; para de correr e se esconde, enquanto a viatura passa lentamente, antes dela terminar de patrulhar a rua já vem outra, Matheus ouve muitos sinais sonoros de viaturas se aproximando e luzes intermitentes cada vez com intervalo menor, Matheus se preocupa e se esconde em um terreno de uma casa.

Charles, não satisfeito, pois imaginava que eles poderiam se esconder em uma casa e ficar lá a noite toda, fez a mesma ameaça de publicar o vídeo de outras pessoas com influência e poder, que ligam para o comandante do BACF - Batalhão de Ação com Cães Farejadores e obrigam ele a atender a solicitação do policial Charles, que já tinha uma peça de roupa de cada um dos dois, o reforço policial com cães viria do Batalhão em Olaria, pois como o trânsito está livre por ser de madrugada e ainda haver um toque de recolher pela lei marcial anticristã, levará de vinte a vinte e cinco minutos até o centro do Vilar dos Teles.

Como o dono do morro da Vila Ruth foi solto ontem, a comunidade está em festa e há uma grande quantidade de droga e arma escondida hoje no morro, por isso foi enviado um cão farejador para o 21oA Batalhão para caso fosse necessária uma batida de emergência, o cachorro está na entrada do morro da Vila Ruth e com a convocação, o policial pega o cão farejador e vai verificar o perímetro. Matheus e Juliana estão algumas centenas de metros dali.

O patrulhamento aumentou significativamente nessa região, todas as ruas estão repletas de policiais.

Uma viatura para diante da casa onde o Matheus a Juliana se esconderam. Os policiais, com uma lanterna, iluminam o quintal, mas não conseguem ver os dois, que se esconderam atrás de um carro no quintal. Matheus vai ver se tem alguém em casa, para se esconder na parte interna da casa, para correrem menos perigo. Na residência não há ninguém, está vazia, mas ele não consegue entrar, pois a porta está trancada.

Os dois policias da viatura ficam em frente a casa, conversando e falando tudo o que o Charles está fazendo para prender, um grupo de cinco jovens, mas que agora ele só tinha na lista três nomes.

– O Charles disse que agora só faltam três, um tal de Matheus, que Charles disse que quando pegar ele vai dar um tiro de escopeta calibre doze direto na cara dele, uma tal de Juliana, que parece ser namorada desse tal de Matheus, e essa o Charles disse que vai fazer uma grana primeiro antes de matar, ele vai fazer ela trabalhar um pouco na casa dele de prostituição, e um tal de Jefferson, que ele vai mandar para um campo de concentração, isso, pois a menina equipolencista já estava tudo certo de ser presa e negar a Jesus e trair os seus amigos e o bichinha do grupo, que também estava indo se encontrar com seu namorado pois também iria negar a Jesus e falar onde os seus amigos estavam e o que eles estavam planejando fazer. Charles ainda zuou, falou que só tinha lugar para uma delação premiada, o quem desse com a língua nos dentes primeiro seria livre. Charles não satisfeito, ainda pediu reforço do Batalhão de Ação com Cães Farejadores, que devem estar chegando daqui a uns quinze minutos.

Matheus e Juliana ouvem isso tudo, um olha para o outro, a Juliana balança a cabeça negativamente não querendo acreditar que seus amigos os tinham traído e que o policial Charles tinha mobilizado dois batalhões para prendê-los com auxílio de cães farejadores.

As viaturas continuam passando em intervalos de no máximo três minutos, umas mais lentas, outras aceleradas, e dentro do quintal, escondidos, Matheus e Juliana ficam encurralados, não tem para onde fugirem, todo o perímetro do morro da Vila Ruth está lotado de policiais atrás deles. Nessa casa eles nem tem como fugirem pelos fundos, pois a casa é de três pavimentos, com grades de três metros de altura na parte interna do terreno, limitando o acesso para a parte detrás da residência e com grades em todas as portas e janelas, por isso não teria como se esconderem no interior da casa e nem escalarem as grades sem serem vistos pelos policiais na rua. O lote onde eles se esconderam está no meio de outros dois, que também construíram casas com três pavimentos, ocupando toda extensão do terreno, criando paredes de muro de nove metros de altura em cada lado, a única saída deles é pela frente da casa.

Matheus e Juliana ouvem latidos de cachorro e entram em pânico, pois já tem uma viatura parada diante da casa onde eles estão escondidos e agora o barulho de latidos dos cães, eles sabem que chegaram o BACF - Batalhão de Ação com Cães Farejadores. E era apenas uma questão de tempo acharem os dois.

Dentro do terreno tem um carro na garagem, junto à parede do lado direito. A garagem não tem fechamentos laterais, só um telhado de amianto, que se estende do muro que faz divisão com a calçada da rua até quase a fachada da casa. O telhado tem as medidas de três metros de largura e cinco de extensão. Matheus e Juliana estão sentados no chão, encostados na parede do muro de nove metros do lado direito, eles se abraçam e se beijam, há uma mistura de tristeza e despedida nesse ato. Matheus passa as mãos no cabelo black dela, bagunçando tudo mas ela o empurra. Matheus, que estava sentado, cai deitado no chão; Juliana olha para ele fala:

– Se eu for morrer vai ser com meu black ajeitado.

Matheus olha e vê algumas flores de petúnias no jardim da casa, entre todas, havia uma linda, que brilhava na claridade do luar, as suas cores em um degradê, vinho forte no centro e lilás nas pontas. Matheus vai até o jardim, pega essa flor e enfeita o cabelo de Juliana, ela ajeita a flor olhando o seu reflexo na tela do celular, não satisfeita por não conseguir se ver direito, ela liga a câmera frontal do seu aparelho celular para conseguir se ver de forma nítida, pois seu aparelho telefônico tem flash frontal para se olhar. Ela chama Matheus, para se filmarem.

Juliana tem a ideia de fazer uma gravação para deixar registrado os últimos momentos deles juntos. Matheus e Juliana estão curtindo seus últimos minutos juntos, mas os sentimentos deles vão da euforia a melancolia em questão de segundos, e nesse momento de pesares Juliana faz um vídeo para postar que deixou seus mais de quinhentos mil seguidores, somando os números de seguidores em todas as suas redes sociais, muito pensativo com uma pergunta. Geralmente, a pergunta que se faz é "o que você faria se soubesse que esse é o seu último dia de vida?" As respostas estão na ponta da língua da maioria, comportamentos egoístas, prática de orgias, crimes, prostituição, noitada e bebedeira.

Mas a pergunta dela é outra, Juliana pega o aparelho celular e vira a câmera para ela e fala:

– O que você falaria para a pessoa que ama, segundos antes de serem presos, e já sabendo que vão ser mortos?