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  Quando chegamos ao mercado Harry não demorou em abandonar o carro e adentrar o estabelecimento, seguro suas mãos e olho tudo ao redor, sigo ele para todos os cantos, seguro em seu braço enquanto dirige o carrinho, ao tirar minha mão para mim, me olha e a segura deixando-a novamente onde estava. Algumas pessoas ao nosso redor nos olha e desconfortável olho para meus pés, sendo guiada por ele.
  — Pode pegar o que quiser, o que gosta de comer — paramos no corredor e me olhou, agora sim, segurando a minha mão — eu vou buscar uma bebida — me encontre aqui.
  — Tudo bem — me viro de costas, mas ainda segura minha mão.
  — Será uma boa menina? — parece não se importar com as pessoas ao nosso redor, diz isso ao meu ouvido e minha pele arrepia, deixa um beijo no meu pescoço e logo depois me olha.
  — Sim, serei — solta minha mão, e sinto que o eu jogo está murcho, então deixo-lhe um beijo na sua bochecha, saindo da sua presença.

  Depois de um tempo eu volto com algumas coisas em mãos, tentando lembrar da minha lista nutricional, passada pela professora de tecido. Ao lembrar que não farei mais isso, me dói o peito.
  — O que foi? Ficou triste de repente — Harry pega as compras da minha mão, organizando perfeitamente no carrinho. O que te deu para se preocupar comigo? Não devo dizer isso dele, praticamente estar aqui, em Nova Iorque e sozinha com ele, foi o único momento que definitivamente estamos juntos e o vejo a mais tempo, desde que entrei para essa vida. Foi por isso que resolvi lhe dar uma chance, eu estou o julgando ser ruim, pelas imagens que tive de gente como ele, definitivamente as primeiras coisas que ele me mostrou comprovou isso, mas foram coisas rasas, conhecer ele ainda, eu não conheço. Quero saber desde quando eu penso desta forma, eu deveria estar no quarto, chorando, lamentando por ter sido tirada de casa, rejeitada pelo pai, chorando pela mãe, mas eu estou aqui, dando uma chance a um homem desconhecido, onde estar a coisa boa que vi nele para isso?
  — Eu só tive uma memória — me analisa por breve minutos, então um pequeno sorriso se forma ao olhar o cereal em sua mão.
  — Você pode compartilhar comigo a sua memória, ou é confidencial? — segura minha mão e coloca em volta do seu braço, só então começamos a andar, alguns olhares me incomodam, por que nos olham tanto?
  — Pensando na minha vida passada, antes de virar princesa em calabouço — sei que me olha, mas não respondo seu olhar. — Eu era a sua alternativa? — a pergunta parece pega-lo de surpresa.
  — Como escolha da dívida de Otto? Não, mas o que ele mais poderia me dar de valor? Se ele tivesse dinheiro havia me pagado antes mesmo de eu ir até ele. Otto sabe que eu não compareço na casa dos meus empregados, a não ser por caso de extrema importância, e vou te dizer, não foram muitos empregados que me viram — ele me olha e suas sobrancelhas estão franzidas, mas logo volta ao normal. Paramos no caixa e passou todas as comprar, a moça do caixa de vez em sempre intercala seu olhar entre mim e ele, Harry impaciente a batucar seus dedos no balcão, eu sem graça. Brigamos na saída para ver quem levava as sacolas, por fim, ele levou tudo sozinho. Entro no carro o esperando e pingos de chuva cai no vidro, assim que entra começa a chover mais forte. Suspira ainda com as mãos no volante olhando o tempo.

  Abro um biscoito enquanto estamos parados esperando o sinal abrir, o tempo fechou rapidamente, tudo está escuro e frio, estou encolhida no banco e forçando a vista vejo uma viatura mais a frente.
  — Pega para mim no porta-luvas os documentos do carro, por favor — faço o que pede entregando os documentos para ele, lá eu vejo o cartão do seu terapeuta.
  — Por que você tem consultas com ele? — a pergunta sai antes que eu possa raciocinar. — Me desculpe eu ouvia conversa antes de chamá-los para o jantar e, é alguma coisa relacionada com as punições ou o jeito que nos olham.
  — É um fetiche — ficamos em silêncio considerável enquanto esperamos em fila os outros carros. — As punições pode ser considerada parte dele, mas, desde que me conheço sou assim, eu odeio que as coisas não saiam como planejado, ou que não me obedeçam, ou que a ordem não seja feita. Parece para mim, que estou fora do controle. Imagine que você tenha toque, e alguém retira o quadro da estante e coloque na mesa de centro, logo depois de você ter posto na estante. Você ficaria com raiva, com agonia, é assim que eu me sinto. Eu tenho uma vida onde tudo deve ser a base de organização, até mesmo as duas pessoas que vivem em mim, às duas vidas que comando, às coisas que devo separar, as coisas que tenho que milimetricamente calcular, um fio fora do lugar, e todo o equipamento se destrói. — O policial interrompe nossa conversa, mas também depois que damos partida não continua mais, Tenho muitas perguntas a serem respondidas, uma delas é sobre sua ex namorada, mas disse a mim mesma não tocar nesse assunto, deve ser muito delicado, eu lembro que disse que machucou pessoas, e lembro como reage quando falam sobre ela, eu mesma fiz isso, o provoquei, não tinha o direito algum de ter o feito.

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora