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  Depois de irmos realmente para um restaurante já voltamos para casa, está tudo escuro, a madrugada aparece linda com uma lua esplêndida que ilumina a sala do lugar escuro. Harry já era de se esperar vir o caminho pensativo, isso não me surpreende, cada um foi para seus respectivos quartos e amanhã mesmo já voltaria a trabalhar na empresa, daqui a três dias Mary voltará, não me disse quando que sua mãe irá embora e confesso que antes de tudo eu nem mesmo pensava na sua ida, não tão desesperadamente como agora, por mais que eu goste de Cristal e Shawn, tendo Débora aqui está sendo muito desagradável. Sei que não devo comentar nada com Harry, aliás, é sua mãe e me deixa surpresa, mesmo ele sabendo de tudo o que ela fez matou seu pai e muitas outras coisas, mesmo assim, abriu a porta da sua casa sem nenhum rancor.
 
  Ultimamente não sei o que Harry pensa, porque estou conhecendo um Harry diferente do de Nova York, um que faz ações todas pensadas e depois conclui, pode aceitar Débora e depois planejar algo. Assim como essa negociação sem pé nem cabeça, planeja alguma coisa e sei disso. Depois de sair do banho relaxante que tive, coloco um pijama quente e resolvo beber água, quando desço as escadas na ponta do pé percebo uma iluminação a mais na sala. Pego meu copo d'água e ando até o escritório de Harry, para o ver de moletom e um t-shirt branca, cabelos molhados e um copo exagerado de bebida.
  — Perdeu o sono? — me apoio na porta.
  — Pensamento longe — sorri de lado para mim, ando até sua beira sentando sobre uma poltrona, levo meus joelhos para perto dos meus seios e o abraço o olhando ver todas minhas ações — você canta? — meu cenho franze quando sua pergunta chega aos meus sentidos.
  — Sim por qu...
  — Cante para mim — meu coração gela rapidamente e me sinto ansiosa, por que isso agora? São duas da manhã.
  — O que quer que eu cante? — minha voz quase falha no fim da palavra, minha garganta ficou seca de repente.
  — Cante o que quiser — seus olhos fecham e a bebida vai pela sua garganta abaixo. Então respiro fundo.
  — Agora, aqui está você novamente — o vejo me encarar tão rápido quanto o verso que saiu. Era uma versão mais calma da versão original e pareceu gostar pelo olhar. — Você diz que quer sua liberdade, bem, quem sou eu para mantê-lo para baixo? É justo que você deva tocar do jeito que você sente, mas ouça atentamente o som — sua mão levantou me fazendo parar de cantar e um sorriso de lado surgiu.
  — Tem ótimo gosto para música Anna — sua voz surgiu arrastada não sei se está bêbado ou apenas sem interesse. — Gostei dos vinis — seus olhos tinham um tom avermelhado, parecia devastado. Observava-me como se quisesse algo. Algo de mim.
  — O que está planejando? — olho para seus olhos que estão tão claros que o vermelho quase os cobre.
  — Por que ainda está aqui? — me sinto confusa — por que não foi como todas fizeram? Deixaram-me. Depois que conheceram como sou podre, como sou tão sujo — Harry dizendo isso me surpreendia. Aliás, sempre pareceu tão seguro de si e está me mostrando um Harry vulnerável.
  — Me deixaria ir? — um pequeno sorriso e uma gargalhada rouca surgem baixos de sua garganta, acena que não e dou de ombros — por que diz isso?
  — Porque eu sou vazio Anna, sou uma pessoa que não se importa de te matar hoje, não sentirei nenhum rancor ou nenhum sentimento. Mato as pessoas muitas vezes por diversão. Não acha isso doentio? Bato nas mulheres por prazer — me olha — passo pela droga de um psicólogo uma vez no mês para ver se sou um... doido — enche mais seu copo — descobriu a droga que é minha vida fora da Imperius. Um mafioso de bosta que odeia estar por baixo de qualquer imbecil. Eu sou ruim Anna. Por que está aqui?
  — Você não é assim Harry — digo e quando estou prestes a falar novamente me interrompe.
  — Acontece que você só enxerga o lado bom das pessoas.
  — Mas, porque eu só vou ver o lado ruim das coisas? Eu já vi muitas coisas ruins acontecerem na minha vida e estar aqui contigo, não é nada que me faça me arrepender, bom talvez no início. Tenho uma ótima companhia que me protege e me entende, você não é ruim, se fosse, não aceitaria sua própria mãe aqui. Sabendo de tudo que ela fez, outros filhos no seu lugar fariam sei lá o que. Importa-se comigo, tenho certeza que se não se importasse, não mataria qualquer um que me olhe, não teria coragem de apontar uma arma para mim sem não sentir um rancor — falava com um pé atrás, Harry teria mesmo coragem de me matar? — se quisesse já teria o feito.   — Ficou quieto. Apenas engoliu sua bebida e continuou aquele silêncio perturbador olhando em meus olhos, passa a mão nos cabelos os afastando e respira fundo, me questiono a mim mesmo sobre minhas palavras. As disse tão confiante, mas agora penso realmente. Estou com Harry há meses, mas não o conheço ainda, coloquei confiança numa pessoa, mas estou conhecendo quem é ela agora, aos poucos.
  — Acontece que eu abri vaga para um amor que eu nunca pensei sentir. Sempre pensei que era igual minha mãe, sem sentimentos — pelas suas palavras colocadas certas, sei que não está tão bêbado
  — Por fora realmente é — deixo que meus pés toquem ao chão para encará-lo. — Por fora tem uma armadura inquebrável que não mostra essa pessoa gentil e amorosa que é por dentro. Quem te ver de longe imagina um homem frio, mas quem te conhece sabe que não é esse gelo todo. — O encaro nos olhos — fui capaz de derreter o iceberg que é o seu coração? — balançou a cabeça negativamente e sorriu.
  — Apenas cinquenta por cento dele querida — me olhou, estou em pé, apoiada na sua mesa, o olho nos olhos tomando um pouco da bebida do seu copo, era ruim, mas nada de tão horrível. Ficamos um bom tempo ali até eu me pronunciar novamente.
  — Não me disse o que planeja. — Sento e o encaro.

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora