Harry fez questão de me apresentar a mais pessoas dentro daquela festa, me disse que aquilo estava acontecendo para arrecadar fundos para crianças doentes em hospitais. Fiquei alegre com essa ação e por conhecer ainda mais esse Harry. Fez-me feliz demonstrar para as pessoas que não só tem um frio ali dentro, mas que tem uma gentileza maior que qualquer ódio que habita. Agora, estamos voltando para casa, recebo uma ligação de Meredith e vou o caminho todo falando com ela. Harry prestou atenção em mim em todo o trajeto o que me fez ficar até pensativa no que pensa.
Já no enorme jardim da mansão vazia Harry e eu andamos quieto um ao lado do outro, ele com suas mãos no bolso de seu paletó e eu apenas seguro a pequena bolsa com o batom dentro.
— O que achou da festa? — se pronunciou já no batente da porta e eu respiro fundo.
— Linda — olho em seus olhos, mordo meus lábios em nervosismo — mais linda ainda, foi pelo que ela foi organizada. — Coloquei minha mão em sua bochecha — é um homem de ouro Harry — sorri para ele e sem pensar lhe dou um beijo quente. — Agora vamos entrar que aqui está demasiado frio. — Faltam muito poucos dias para o natal e isso me alegra muito.Acabou que Harry foi para seu quarto e eu para o meu, faz um mês e alguns dias que eu estou longe de Otto, cinco meses que infelizmente minha mãe se foi e não tem um dia que não penso como aconteceu tantas coisas em meses. Parece que se passaram meses aqui dentro e em Nova York, mudei tanto em menos de três meses, matei uma pessoa e vi um ser levar um tiro na cabeça na minha frente. Entreguei-me para um homem desconhecido que confiou em mim para contar sua vida, em uma menina que conheceu em um mês. Amo alguém que me tirou do lar que cresci, mas que, ao mesmo tempo, me livrou do inferno que era uma casa e um homem que poderia chamar de diabo.
— Anna — ouço toques e logo vejo sua figura de cabelos molhado — ainda não se trocou? — suspiro e o olho.
— Me prendi em pensamentos nem percebi os minutos — acompanho seus passos para perto de mim.
— O que pensava? — dou uma pequena risada.
— O mesmo de sempre — suspiro.
— O que seria 'o mesmo de sempre?' — se senta ao meu lado.
— Em como em um mês confiou em mim, em um mês criei um amor por um desconhecido. Como o desconhecido me tirou do inferno que era minha própria casa. Como um mês parece uma eternidade — passo minha mão no seu rosto sentindo sua barba crescente — penso em como aconteceu esse reboliço todo em um mês. Como não perdi a cabeça? — me olha atento — surpreende-me a cada dia e eu mesma me surpreendo. Parece que um dia, é uma semana. —
Harry sorriu para mim e segurou minha mão, sem nenhuma palavra ou argumento de algo levantou. Caminhou comigo pelos corredores, o som do salto que ainda não havia tirado dos pés fazia barulho e o vestido que devia ter me livrado há minutos atrás se arrastava pelo corredor. Harry vestia uma calça moletom preta, não tinha blusa o que me dá a maravilhosa visão das suas costas nuas e fortes. Descemos as escadas e parada no meio da enorme sala pude lembrar que o ambiente que estava em Nova York era muito menor e mais acolhedor que esse, também parei para observar a casa que parecia tão estranha quanto à última vez que entrei logo quando cheguei aqui. Uma música calma é iniciada e posso ouvir da boca de Harry únicas palavras que me fez sorrir.
— Dança comigo — não foi um pedido, porque poucos segundos nossos pés se movimentam e nossas mãos estão coladas. São nove horas, Mary já havia ido pouco menos das oito da noite, não estaria aqui amanhã pela sua folga de sempre, consultas médicas, o que resulta em eu estar sozinha em um casarão sem nada para fazer e com medo, Shawn ainda não havia dado as caras, o que estaria a fazer? O fato de saber que minha vida está sendo observada por um homem misterioso não me faz ficar confortável.
— Está tão longe ultimamente — ouço a voz rouca que me livra dos devaneios ruins para os olhos verdes.
— Estarei sozinha aqui amanhã. Acostumei-me com a sua presença e me sinto assustada e nervosa — não desvio o olhar. Sei que Harry odeia quando faço isso.
— Não estará só. Dallas e os outros estarão aqui — dança suave enquanto me observa.
— Não é a mesma coisa de você está aqui, senhor — sorriu fraco.
— Faz tanto tempo que não me chama assim.
— Apenas dias — seguro em seu ombro.
— Para mim. Uma eternidade — se aproxima, mas não me beija. Sinto sua respiração leve no meu pescoço — tenho um presente — sei que meu semblante está em pura confusão, sou guiada até o sofá e ali me sento. Harry para a música e caminha até seu escritório enquanto eu me livro dos saltos altos e solto o laço do meu cabelo. Quando Harry volta tem em mãos uma caixa média, rosinha e com uma fita roxa — espero que goste.
— O que é? — pego na caixa e tento saber o que poderia ser com esse peso.
— O que acha que é? — odeio quando me responde com perguntas. Mordo meus lábios em confusão e o encaro.
— Não faço à mínima ideia — ele sorri e se senta encostado no sofá.
— Abra ou não vai saber — desfaço o laço da fita e abro a tampa da caixa para encontrar uma coisa rara e muito linda. Com certeza meus olhos brilham mais que o lustre dessa sala.
— É muito linda! — seguro em minhas mãos a peça girando a chave para ouvir a música da bailarina enquanto a bonequinha dança — obrigada! — sinto meus olhos marejados ao lembrar-se de minha mãe e o toque de Harry nas minhas costas percebo que não passou despercebido a minha comoção.
— Tenho que ir daqui a uma hora. Há coisas para tratar antes disso. Tome um banho e se arrume. Espere-me na cama em quarenta minutos. Contando de agora.
— Você já vai?
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Um Último Gemido - Livro 1
RomansaA vida de Anna muda assim que encontra um homem na sua sala de estar, seu pai que trabalha para a máfia inglesa deve muitos zeros para esse homem perigoso, tal que levará sua filha como pagamento. Mas o que Annastacia não sabia era que a partir dess...