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  Ao descer, Annastácia ainda está na cozinha, antes de ir comer junto a ela vou ao escritório, preciso ver se o documento que está lá bate com o que recebi, seus documentos. Adentro o escritório e me sento, então vejo que alguma coisa está errada. Mexeu no computador, ligo para assim que a tela abrir ver a última coisa que entrou, o documento.

   Sentados à mesa comemos quietos, parece inquieta e ajo naturalmente, então de repente explode como uma menina assustada.
   — Eu sei que viu que eu mexi no seu computador! Mas, eu juro que foi sem querer! Eu estava atrás de uma receita e de repente surgiu uma pasta. Eu juro para você que eu não li nada! Juro! — olho em seus olhos, está vermelha e ofegante.
   — Eu não disse nada, você está se entregando — aponto o garfo para ela com uma batata que levo a boca.
   — Não vai me punir?
   — Iria, se não me dissesse a verdade. Mas, não vou — termino de comer os legumes — porém. Eu tenho uma dúvida.
   — Eu realmente não li — desvia o olhar — talvez só o nome.
   — Você tem tudo em mãos para me denunciar, por que não o faz? — a pergunta parece pegar ela em choque. Parece desorientada.
   — Mesmo se eu quisesse — para e abaixa seu olhar — não adiantaria, eu não teria provas, isso não é um crime seu, você tem pessoas como meu pai para serem incriminadas. — O que mais me da raiva é a menção de Otto, e como o chama de pai e o que me intriga, é a tristeza não aparente.
   — A comida estava ótima — me olha e sorri, um mínimo sorriso.

   Saio da cozinha para ir ao escritório, passo pela janela vendo Frederick ainda lá fora, checando o horário faltam trinta minutos para ir embora, atravesso a sala e sento na poltrona atrás da secretaria, respiro fundo colocando um pouco de uísque em um copo e sinto dor, abrindo e fechando as mãos meus dedos estão doloridos, olho para eles vendo os nós roxos, consequentemente me lembro de mais cedo.

  Me olhou com sangue jorrando da sua boca e entre o líquido grosso tossiu.
   — VOCÊ ERROU O TRAJETO DE VINTE, VINTE MULHERES! — mais um soco em seu rosto e cai nos braços dos seus comparsas.
   — Eu peço perdão, os nomes dos clubes...
   — Me diz se isso é parecido! — mostro lhe um folheto com o nome do clube. — Sabe o que pode acontecer? Descobrirem que as mulheres são de contrabando, e se elas ouviram alguma merda que vocês falaram? O QUE PODE ACONTECER? — tento me acalmar — eu deveria arrancar uma das suas orelhas e dos seus olhos para você lembrar que deve ouvir e ver melhor o que é planejado, mas eu vou matar você, para que isso não se repita — antes que reaja atiro na sua testa, o sangue respinga para todos os lados — vou matar quantos for preciso para entenderem que esse trabalho não é feito de qualquer jeito. Agora tratem de recuperar as mulheres.

   Em meio aos devaneios reparo que fora do escritório está escuro, respiro fundo e me levanto tomando um gole de uísque. Subo para o quarto encontrando a menina na cama.
   — Sério que não está bravo comigo? — paro no caminho ao banheiro e a olho — não vai me punir?
   — Por ser bisbilhoteira? Não — me viro completo para olhar para ela, quando meu pai fez um plano para cumprir, nunca pensei que eu iria executar o seu crime, nem mesmo que eu poderia estar aqui assim com ela. Qual a minha nota sobre Annastácia? Ela é uma menina atrevida, que é má por me tirar do foco de me sentir menos desprezível e horrível, eu sei que não sou uma boa pessoa e deixar de bater por prazer e dominar por prazer, não me fará uma pessoa melhor. Matei, mato, tiro pessoas de vidas boas e as transformo e alguma coisa para o meu bem, ajudo bandidos, embebedo homens que batem em suas mulheres e sou o inimigo da polícia que, portanto, sou da sociedade. Nada que eu fizer me fará ser melhor. Essa menina é minha perdição.
   — Não estava nas regras não bisbilhotar, mas é claro isso é algo que você não deveria fazer. Agora, mentir sim estava nas regras e você sabe bem delas! Entretanto, você me contou a verdade. Não irei te punir por isso. — Está sentada me olhando.
   — Eu vi o nome dela, Laura. — Então você realmente leu — ela é algum crime seu? — sorrio para ela.
   — Hm? Vamos dizer que sim? — seus olhos se abrem mais um pouco, pois suas sobrancelhas se erguem. — Não se preocupe ela está em boas mãos.
   — Isso é muito reconfortante — sinto o ar irônico e sarcástico no seu tom e uma pequena risada escapa dos meus lábios.
   — Eu não queria te punir, queria fazer uma outra coisa — me aproximo dela.
   — Como? — sinto a vibração da sua voz.
   — Você aceitou isso. Pediu por isso, espero que esteja com a mesma coragem que naquele dia. — Ouço sua risada e me olha sorrindo.
   — Não estou amarelando — sorrio e vou ao armário pegar os brinquedos. Volto com a bolsa na mão e ela está arrumando a cama.
   — O que está fazendo? — tiro tudo da bolsa e me olha. Parece avaliar o que está em minhas mãos — e então?

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora