Harry
Eu não consegui dormir pensando que ela poderia estar em perigo. Como eu pude acreditar nas conversas daquele homem, eu deveria ter analisado melhor, ter seguido meu instinto em não aceita-lo e deixar apenas os meus seguranças, se ao menos Dantas estivesse aqui. Ver o seu medo, a ver chorar como estava fazendo há horas antes me fez quebrar em mil pedaços, uma pessoa como ela não merecia isso — ninguém merece isso — eu não tinha cumprido com meu dever, não cuidei dela como devido. Pensar que passou por tudo isso nas mãos daquele filho da puta do Otto, ele não deveria encostar um dedo nela, ele não tinha direito.
— Harry — escuto sua voz, mas não a olho, meus olhos estão na bebida que balança calma no copo — está bem? — não, não estou bem Annastácia.
— Não. — Só então a olhei, a olhar é como... um fracasso, mas não ela, o que deixei acontecer, odeio essa sensação, ela se tornou um dos meus crimes, se tornou um dos meus trabalhos e deixar isso acontecer com ela foi como, perder o controle, eu não sei cuidar de nada a não ser planejar planos e esperar que saiam como planejado, nunca pensei nisso como uma pessoa, é por isso que eu vejo Emma em tudo, ela foi um fracasso assim como Anna está começando a ser, me olha atenta esperando que eu continue, na verdade, é a primeira vez que eu não tenho nada para ser dito, as cenas de muito mais cedo sobre Frederick estão na minha mente junto a sua morte. Não é notícia matar uma pessoa, mas o ódio tinha me consumindo, havia mexido no que era meu, muito mais do que devia, eu fui tão...
— Harry — agora está sentada a minha frente e Emma no canto do quarto, mexe as mãos no meu rosto para ver se eu acordo do meu pesadelo que são os pensamentos. Seguro sua mão a puxando, tiro o copo de minha coxa e a sento lá.
— Não estou bem. Achei que estava te protegendo e acima de tudo sofreu isso pelo seu pai. Me deixou te tocar só para me agr...
— Ei — colocou o dedo nos meus lábios — deixei que acontecesse porque eu quis! Tudo o que houve entre nós eu permiti, eu pedi, lembra? — aceno que sim.
— Vamos dormir — sorri para mim, acenando.
— Mas antes eu tenho uma pergunta — tomo o último gole da bebida no copo e a olho.
— Pode perguntar.
— Antes de tudo acontecer ele disse que foi contratado para me levar, por quê? Eu sou ou tenho alguma coisa que tantos querem? — a pergunta me pegou de surpresa.
— O que mais ele disse? — suspira e afasta os cabelos do rosto.
— Sobre muitas pessoas interessadas, não só uma — levanto a segurando e colocando na cama.
— Eu não sei de nada, mas vou ficar atento, a informação dele me diz que muitas pessoas virão atrás de nós.Quando acordei pela manhã ela ainda dormia, mas passei um bom tempo na cama pensando no ocorrido, eu nem mesmo dormi bem à noite, eu sei quem está atrás dela, porém, dizer a ela tudo o que a envolve e o que tem ao seu redor, não sei se ela estaria pronta. A deixo na cama e faço minha higiene matinal, já pronto desço para o segundo andar a fim de prepara-nos o café da manhã, mas antes que eu vá para a cozinha reparo em um bilhete em cima do móvel perto da porta. Está dizendo que o resto dos documentos que eu preciso está no escritório. Demoro entre três a cinco segundos para decidir se vou ao escritório ou à cozinha. Assim ouço os degraus da escada e guardo o bilhete indo até à beira da menina que desce o último degrau.
— Hoje eu que faço seu pequeno almoço — puxo-a comigo para à cozinha, senta-se no balcão enquanto procuro tigelas e ingredientes para fazer o que acho que ela gosta de comer.
— Vai chegar atrasado ao trabalho — a olho por cima do ombro e aceno que não, hoje não preciso sair para trabalhar, na verdade, estou inseguro de sair e deixá-la, por mais que os homens que estão lá fora trabalham há muito tempo comigo, sei que são de confiança. Mas o meu medo não me deixa sair sem saber se realmente estará bem
— Não. — Ficamos em silêncio enquanto só os talheres são ouvidos, nem mesmo os passarinhos estão cantando, hoje está um dia estranho, tenso até. O que aconteceu ontem não é coisa para se esquecer de um dia para noite, olhar para a sala e passar por ela me faz ver o corpo, eu não tenho culpa pela morte dele como tenho pela da Emma, eu tenho é ódio por mim mesmo de não ter cumprido uma simples tarefa, era tão pequena e ainda é, mas já quebrei um pedaço dela, já tirei um quebra cabeças daqueles que eu montei para pegar ela, por mais que eu disse para tentar parar de me cobrar, pois, isso não vai fazer com o que aconteceu ontem simplesmente suma da minha mente, não posso lamentar o leite derramado agora, preciso encher outro copo e seguir. Tenho que cuidar dela realmente e não deixar mais coisas acontecerem por minha causa. Os documentos no escritório são uma ameaça para ela por enquanto, na verdade, é uma ameaça para ela, mas também é uma ameaça para mim, eu nem mesmo sei o motivo real dela. Não sei porque minha mãe estava atrás da sua família, porque se estava atrás entregou ela para Otto, não sei porque meu pai a queira, só sei que ela está aqui e eu tenho que arcar com tudo o que vem junto com ela.
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Um Último Gemido - Livro 1
RomanceA vida de Anna muda assim que encontra um homem na sua sala de estar, seu pai que trabalha para a máfia inglesa deve muitos zeros para esse homem perigoso, tal que levará sua filha como pagamento. Mas o que Annastacia não sabia era que a partir dess...