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Anna

  Harry me sentou sobre a cama e se ajoelhou na minha frente afastando meus cabelos do rosto, minhas lágrimas caem sem parar, eu não sinto que não tenho mais controle sobre meu corpo, Harry passou a mão no seu médio cabelo, está crescendo e não se preocupou de cortá-lo novamente.

  — Me desculpe — sua voz saiu baixa num tom rouco e falho, não me olha e eu o vejo se torturando, levanto seu queixo vendo sua expressão triste.
  — Não foi sua culpa — me olha e abaixa novamente seu olhar balançando sua cabeça negativamente.
  — Se eu estivesse aqui não teria acontecido — ouvir aquilo fez meu coração quebrar, levanto de novo seu olhar, mas ele não me olha.
  — Sr.Vitsky? — não me responde. — Me olhe nos olhos — de imediato seu olhar se ergue e vejo o quanto isso o afetou, está sério, suas pálpebras estão baixas justamente com suas sobrancelhas, se sente culpado pelo que ia acontecer, não porque matou um homem — posso te beijar? — ele hesita um pouco assim como eu, as palavras saíram sem eu ao menos pensar.
  — Sim. — Me aproximo do seu rosto e meu longo cabelos faz cortinas entre nós, um beijo delicado ao lado da sua boca. As mãos dele que estavam sobre minha coxa, foram para minha nuca me puxando para seus lábios, um beijo lento foi iniciado e sua língua procura a minha com urgência, enquanto nossos lábios se mexiam em sintonia. Harry se distanciou e tomou fôlego, meu peito sobe e desce, eu não choro mais. Não sei porque o beijei, talvez o meu interno esteja agradecido, e não apavorado como deveria estar, eu mesma estou intrigada com as minhas ações desde que cheguei aqui, desde que estou ao lado dele, pois, nada mais parece me abalar, é como se trocamos de papel, eu não tenho sentimentos enquanto ele sente tudo por mim, noto no seu olhar.
  — Não se sinta mal, eu não estou — dizer isso pareceu uma facada no seu estômago, seu corpo todo se contraiu, seu rosto tomou diversas formas junto, como confusão, horror, ódio e preocupação. — O que ele fez não chegou aos pés do que o meu pai fazia — a declaração pareceu enfurecê-lo, pois, se levantou de imediato com um semblante revestido do mais puro ódio — meu pai me machucou mais do que simples e nojentos toques. — Sabe, a sensação de engolir o choro é horrível, você sente um nó na garganta, ao mesmo tempo, ela fica seca e você naturalmente tenta engolir o nada, seus olhos ardem e você fica agoniado com a sensação de querer engolir e sua garganta parecer fechada, como mãos ao redor do seu pescoço te estrangulando.
  — O que ele fez com você? — eu vi sua mão em punhos, uma técnica de controlar a raiva, tem sangue na sua camisa, mais uma com sangue de mais um cadáver.
  — Não foi à primeira vez, mas penso que a partir de hoje, na verdade, pensei que a partir do dia que você me prendeu no calabouço, seria o fim de tudo. Meu pai tentou abusar de mim duas vezes, não conseguiu, mas, me fez ver ele com prostitutas, me batia, assim como fazia com minha mãe, porém, com ela era diferente, muitas vezes ela apanhava em dobro e era estuprada por me defender — eu não consigo decifrar tudo o que ele sente, só o ódio aparente e a vontade de surrar a parede.
  — ELE NÃO TINHA O DIREITO! — esbraveja, sua voz é como um trovão rasgando o céu, mas parece doer na sua garganta, anda de um lado para o outro e parece sussurrar coisas para si mesmo, baixas demais para eu decifrar. Não quero chorar, mas não posso evitar, não tenho controle do meu estado emocional, não agora, não posso me fazer de forte enquanto as lembranças de cada toque sobre minha pele, de cada implorar, martela minha mente como se eu fosse o prego bruto. Ele sai do quarto e eu observo o corredor como se visse o seu corpo se distanciando. Engulo em seco e observo o quarto, a roupa amassada na cama junto aos lençóis, as cenas se repetem na minha mente junto às lembranças do meu pai. Lembro-me dos seus gritos e sobressalto no colchão como se o grito veio do corredor, então por um momento estou no meu antigo quarto, na minha antiga casa e com ele gritando na minha porta, meu peito sobe e desce até que eu volte à realidade, ao quarto vazio e escuro. Levanto e fecho com força meus olhos deixando uma lágrima solitária que carrega o peso das outras, cair. Só então vou para o banho tirar toda a sujeira e dor de mim.

  A porta do banheiro se abriu e o olhei, perto de mim me abraçou, ouvia seu coração bater irregular, enquanto minha cabeça está no seu peito, sua mão na minha costa e sua cabeça descansa na minha.
  — Ninguém nunca mais, vai encostar um dedo em você — sua voz sai falha pelo tempo sem uso, Harry se desfaz do nosso abraço me olhando e vi dor no seu olhar. Depois de tempo embaixo da água segura minha mão e me leva para o quarto me sentando na cama, trouxe em suas mãos pares de roupa, meu pijama, tira minha toalha e a joga para uma cadeira, coloca a blusa pela minha cabeça e o ajudo a vesti-la em mim, logo veste meus shorts abandonando a ideia da calcinha, deito na cama e senta ao meu lado, não demorou para que pegasse no sono.

  Acordo no meio da noite sem saber que horas são, mas Harry está na minha frente, sentado numa cadeira, jogado, um copo de bebida apoiado em uma das suas coxas e pernas abertas, suas mãos pousadas sobre os braços da cadeira, ele está de calças e seu tronco nu, seu cabelo parece molhado. Levanto e sento na cama, não tira o olhar de mim enquanto agora seu dedo mindinho está sobre seus lábios e parece pensativo. A luz da lua ilumina pouco, o que deixa seu rosto mais sombrio.

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora