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  Não sei o que pensar sobre a conversa que ouvi, então preferi nem mesmo pensar. Fui até a cozinha onde Mary anda de um lado para o outro, está tudo iluminado, mas ainda tenho a sensação de tudo está apagado, as cores distribuídas não ajudam em nada.
  — Boa noite Mary — a senhora me olha e sorri pequeno.
  — Boa noite querida, vá chamar os meninos para o café da noite, por favor — sorrio para a mesma que está a pôr a mesa. Ando até o escritório, respiro fundo e bato na porta ouvindo um 'entra', coloco minha cabeça para dentro antes de empurrar meu corpo. Olho o garoto de cabelos num castanho escuro e olhos negros antes de encarar nos olhos do homem sentado atrás da mesa.
  — O jantar está pronto e posto à mesa.
  — Já iremos — a voz sem emoção se pronuncia e eu saio do lugar.

  Voltando novamente para a cozinha espero a companhia dos rapazes para começar, mesmo que eu esteja louca para atacar essa deliciosa refeição. Quando Harry vem, o homem de antes já não estava ao seu lado, então comemos sozinhos em um silêncio agradável, e com os talheres batucando de vez em nunca na louça. Assim que me retirei para o quarto Mary já havia ido embora. Entro no meu quarto tomando um banho demorado de banheira e ao sair coloco uma blusa azul claro e calças. Ao sair do banheiro encontro um Harry apenas com o lençol em seu quadril, seu abdômen está de fora, o que faz aqui? Já está dormindo? Será que ele está sem roupa? Vou até ele olhando-o, está realmente a dormir. Ainda com receio apago as luzes e caminho lentamente para a cama, confesso que estou talvez nervosa. Deito-me no lugar vago e me aconchego, logo sinto o lençol em cima de meus braços e os braços fortes de Harry a passar por minha cintura, com certa força ele me puxa para ele e sinto sua respiração no meu pescoço fazendo arrepios percorrer meu corpo inteiro, as mãos de Harry faziam círculos por cima da blusa fina. Estava acordado então esse tempo todo.

  Acordei e estava só na cama, só me lembrei da sua presença pela noite quando sentia suas mãos me puxando para ele. Hoje ele está de folga e eu quero fazer algo diferente, desde que cheguei aqui há três dias eu não faço nada a não ser dormir e dormir o dia inteiro. Arrumo meus cabelos e o vestido e saio do quarto para os corredores. Ao descer Harry está a ler um jornal no sofá, ando pela sala e nem mesmo percebe a minha presença, então acabo por entrar em um corredor, o mesmo que achei o seu escritório, mas vou mais fundo, e acho uma pequena sala com estantes de livros, posso começar a aprimorar a minha leitura. Ao sair com um livro que demorei muito para escolher, volto a sala e continua a ler o seu jornal. Assim que adentro à cozinha não vejo Mary o que me fez gelar um pouco. Eu estava segura de mim porque tinha esquecido que Mary estava no seu dia de folga e eu agora estou insegura em saber que estou sozinha neste lugar com um homem mais velho que eu. Observo que há só uma pequena xícara de café no canto, tenho fome e não é de café. Abro os armários à procura de algo que eu saiba preparar para o pequeno-almoço. Termino as panquecas de chocolate e coloco uma xícara de café para mim, como o tanto que me satisfaz e deixo o resto sobre a mesa caso o homem que está sentado na sala queira. Saio da cozinha reparando que o mesmo ainda está a ler o jornal, é como Mary disse, ele ler bastante. Olho para o livro em minhas mãos e reparo nas cortinas vendo o lindo sol que faz e bate no chão de paralelepípedos. O portão tinha apenas uma cabine que suponho ser o porteiro que abre e fecha o portão, vários pontos pretos eram vistos e também no teto, seguranças, olho para Harry e mordo meus lábios.
  — Harry — já estava a me olhar e me pergunto se, já esperava que eu falasse alguma coisa — posso sair? — odeio o silêncio, é intimidador e desconfortante uma hora dessas, sabendo que está sobre o olhar de um homem mais velho a não ser meu pai, é intimidador uma vez que só tive um olhar a não ser de Otto sobre mim, de um homem apenas.
  — E quem sou eu para impedir? Só não fale com ninguém — não pude evitar sorrir, não iria mesmo falar com ninguém só queria ler e sentir o sol. Abro as grandes portas e saio da casa sorrindo como uma criança quando ganha doce, meus olhos demoram em acostumar com a claridade, me sento à grama e deixo que a quentura me entorpeça.

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora