16

9K 601 17
                                    

  Não ligou o carro, mas fechou o vidro, a chave está na ignição, só sua respiração é presente, isso me mostra que está furioso, mas isso não me impede de tentar me explicar.
   — Eu n...
   — Que caralhos! — sobressalto do banco e me escolho com seu grito rouco a rasgar sua garganta, ele aperta o volante com tanta força que os nós de seus dedos estão brancos, seu maxilar tão apertado que o osso da sua mandíbula se contraí, a bomba poderia explodir a qualquer hora bastava um simples 'click'. Meu coração está acelerado temia Harry ouvir ou até mesmo fazer um buraco nas minhas costas, eu o observo com medo, mordo meus lábios em frustração e de leve minha respiração volta ao normal, minhas pernas estão apertadas uma na outra, minhas mãos fechadas em punhos e meus dentes a perfurar a carne macia dos meus lábios de modo que fez eu sentir o gosto metálico do sangue. Fiquei calada, por medo do que ele poderia fazer, todas as cenas e lembranças do meu pai retornam a minha mente e abraço meu próprio corpo. O motor é ligado e em alta velocidade saímos do local, Harry nem longe tinha se acalmado, seu corpo está tenso e o meu mais ainda olhando os automóveis passarem cada vez mais rápido ao nosso lado.

   Assim que entramos na casa Harry tirou seu terno o deixando sobre o sofá, jogou todos seus pertences sobre a mesa de centro e me olhou, um olhar tão penetrante que eu temia que visse minha alma, raiva passa no seu cenho e apenas a luz da lua está no lugar fazendo assim tudo ficar mais assustador, Harry pôs sua postura no lugar e seus passos se direcionaram a mim com sua proximidade, recuo alguns passos para trás, mas antes de tudo sou empurrada com brutalidade com a parede me fazendo gemer em dor. Então eu murcho como uma fruta apodrecendo. Espremo o máximo o meu corpo e me cubro do que pode ser uma surra prestes a vir. Mas nada acontece e depois de um tempo eu o olho, está parado vendo a minha reação, ou melhor, do meu instinto protetor, minha mente quase oscila entre ele e Otto.
   — Por que? —  se distancia de mim passando as mãos nos seus cabelos, soca a parede e sua atitude me assusta, meus olhos enchem d'água e meus joelhos tremem, irá fazer comigo o que Otto fazia. Harry me olha e caminha rápido em minha direção, tento dar passos, mas estou contra a parede, suas mãos vão até seu cinto e eu me encontro paralisada, meu corpo treme, minha respiração trava e lembranças invadem minha cabeça. — Vá para o quarto e me espere sem roupa sentada na cama. — Arregalo meus olhos, pois o que acabou de ser dito por ele é pior que uma surra — agora! — saio correndo da sua presença e subo rapidamente para o quarto. Com os dedos tremendo imaginando o pior me dispo do vestido o colocando numa cadeira e já chorando sento no meio da cama. A porta é aberta e Harry me olha, ele agora está sem blusa sua calça tem o botão aberto junto ao seu zíper dando visão a sua boxer preta, seu cinto está sobre sua mão e me olha furioso. Caminha até mim e para a beira da cama. Meus cabelos são desfeitos do coque e amarrados em um rabo de cavalo, quando volta para frente onde posso o ver olho em seus olhos.
   — Estenda suas mãos — faço o que pede e vira de costas para mim abrindo uma gaveta da cômoda atrás de si, de lá tira uma corda.
   — Harry — uma lágrima cai e não fala nada, apenas se concentra no que irá fazer comigo. — Por que irá me punir?
   — Porque a Annastácia foi uma menina má — caminha até mim.
   — Eu não fiz nada, ele quem cheg... — parei de falar assim que me olhou, eu entendi seu olhar, nada que eu disser irá mudar sua opinião em me punir por algo que não fiz.
   — Não importa se você está certa ou não, não importa se foi ele quem chegou. Você está mesmo merecendo uma lição. — Está perto de mim a olhar-me nos olhos. Isso faz meu corpo gelar, puxa minha mão até seu alcance, mas antes de amarrar a corda nos meus pulsos sou virada com toda facilidade de bruços, percebo um leve puxão no meu cabelo e depois sinto a corda passar pelos meus pulsos e tornozelo, fico ali naquela posição, lágrimas na parede da minha garganta. Em minutos sinto algo bater contra minha nádega esquerda que está dolorida por mais cedo, o impacto involuntário faz com que mexa minhas pernas e ao mexer sinto um puxão forte no meu cabelo e mãos.
   — Um. — Mordo o lençol quando os outros golpes vem. Na minha mente está todos os gritos que já foram soltos por mim, todas as coisas que já implorei para que Otto não fizesse, e engraçado, todas elas eu nunca tive culpa de nada, assim como hoje, estou sendo punida, por um erro não meu.

Um Último Gemido - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora