Capítulo 53 - "Fui só eu que o beijei"

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Eram oito da tarde e Ross ainda não tinha chegado com a sua amiga turista. Onde estarão? Estava impaciente, sentada a pôr as últimas roupas na mala para depois partir para o meu lar, suspirei e deixei cair o meu corpo na cama. Sentia-me tão diferente, a minha vida e o meu estado de humor dependiam dele. Nunca pensei que trabalhar na casa dos Lynch me trouxesse tantas surpresas, jamais pensei que me fosse apaixonar aqui, muito menos por uma pessoa tão fria.

Ross precisa de alguém que lhe dê amor, carinho, que realmente goste dele, ele não é uma má pessoa, só que a vida foi muito injusta com ele, sofreu e já passou por coisas muito fortes.

Gostava de ter estado com ele naqueles momentos em que se fechava no seu quarto a chorar lembrando-se da sua namorada. De certeza que não esteve lá ninguém que o pudesse consolar, que lhe dissesse “Tudo vai ficar bem” e “Tudo vai passar”. Podia agradecer ter tido uma família que sempre me apoiou e me deu todo o carinho que necessitei.

Já não aguentava mais, mas a que horas é que iriam chegar? Tinha de admiti-lo, estava a morrer de ciúmes, só conseguia imaginar as piores coisas. Levantei-me daquela cama e saí do quarto. Olhei pela janela enquanto passava pela sala, o carro de Ross estava a chegar, estacionou-o no jardim. Vi-o a sair do carro dando um pontapé na porta para esta se fechar. Será que está chateado? Nem sequer abriu a porta a Brook.

Ross entrou em casa abrindo a porta bruscamente, nem sequer me cumprimentou, entrou e subiu as escadas para ir para o seu quarto, estava chateado. O que será que lhe tinha acontecido? Brook entrou pela porta normalmente, sem nenhum rasto no rosto de estar zangada.

- Olá – cumprimentou.

- Olá Brook. Não sabes o que se passou com o Ross? – Perguntei – Parecia zangado.

- Ah… O Ross… – Suspirou – Fui só eu que o beijei e ele armou um escândalo por isso, zangou-se e trouxe-me de volta – riu.

Tinha-o beijado? Zangou-se? Agora era eu que estava zangada, se pudesse matava-a, dava-lhe um tiro, uma facada, o que fosse preciso!

- Bem… Vemo-nos por aí Sara – disse Brook e subiu as escadas.

Ross estava chateado, era melhor não o incomodar. Tinha de ir sem me despedir dele… Suspirei e voltei ao meu quarto para ir buscar as minhas malas.

Saí de casa com as duas malas nas mãos, amanhã voltaria a fazer o mesmo de sempre, trabalhar. Tinha de ir sozinha, assustava-me um pouco já que era de noite. E se me acontecia algo de mal? Ok, nada me podia acontecer.

Caminhei pelo passeio esperando que um táxi passasse para que me pudesse levar à minha adorável casa. Como não via nenhum decidi continuar a andar.

Quinze minutos depois ainda continuava a caminhar lentamente, até que por fim um carro parou ao pé de mim, olhei para ele, aquele carro não era desconhecido.

- Porque não entras e paras de andar?

- Como sabias que estava aqui, Ross? – Perguntei parando.

- Não foi difícil seguir-te – respondeu saindo do carro.

- Pensei que não ias sair do teu quarto até amanhã.

- Porquê? – Perguntou.

- Estavas muito chateado quando chegaste a casa.

- Ah… Isso – disse quando estava à minha frente – Só passei um mau bocado.

- A Brook apanhou-te desprevenido e beijou-te – afirmei.

- Como sabes? – Perguntou surpreendido.

- Ela disse-me. Levas-me a casa por favor? – Pedi para mudar de tema.

- Vim para isso – agarrou nas minhas malas e pôs no porta-bagagem, depois voltou e abriu-me a porta.

- Estás chateada? – Perguntou-me quando já estávamos os dois dentro do carro.

- Porque deveria estar? – Respondi com uma pergunta.

- Não sei – fez marcha atrás – Desculpa ter-te ignorado quando cheguei a casa.

- Não importa, já estou habituada à tua indiferença – disse sem pensar, estava a ser muito dura com ele, houve um silêncio profundo – Desculpa o que te disse.

- Não peças desculpa, tens razão.

- Não, não tenho. Tu mudaste e não mereces que eu te trate assim.

- Mereço todo o teu desapreço.

- Ross por favor, não quero discutir por isso.

- Nem eu – apoiou.

O caminho até minha casa foi curto, fomos a falar o caminho todo. Ross estacionou perto de minha casa.

- É aqui? – Perguntou para ter a certeza que não se tinha enganado.

- Sim, é aqui – respondi olhando para a janela, tirei o cinto de segurança – Podes abrir o porta-bagagem? – Pedi.

- Sara – disse num suspiro – Sei que ainda estás chateada.

- Não Ross – neguei – Não tenho nada que estar zangada – sorri – Não somos nada, se achas que fiquei chateada por causa do que aconteceu com a Brook estás enganado – suspirei – Tu és livre e para além disso ela é muito mais bonita, é da mesma classe social que tu…

- E tu achas que isso me interessa? – Perguntou rindo.

- Se calhar a ti não mas à tua família sim.

- E tu achas que se eu me apaixonar pela pessoa mais pobre do planeta me vai interessar a opinião dos meus pais? – Perguntou.

- Conhecendo-te como conheço, duvido.

- Até pode ser que a Brook seja mais bonita assim como tu dizes mas não gosto dela, não é o que procuro numa mulher.

- E o que procuras numa mulher? – Perguntei curiosa.

- Que seja fiel – suspirou – Que saiba ouvir-me, que sofra e ria comigo, que confie plenamente em mim – sorriu – Que me ame de verdade, que os seus sentimentos sejam puros, ternos, que saiba beijar bem – riu – E o teu Sara? Como seria o teu homem perfeito?

- Bom – sorri – Primeiro que tudo tem de me amar verdadeiramente – suspirou – Respeitar-me… Ser-me fiel, que me entenda, que goste de mim e que me aceite tal e qual como sou – baixei o olhar – Claramente, esse homem perfeito não existe.

- Se calhar não procuraste bem – disse tirando a chave do carro.

- Se calhar – mordi o lábio – Ajudas-me a tirar as malas, se faz favor?

- Está bem – dito isto saímos do carro.

- Obrigada por me teres trazido.

- De nada – sorriu – Então vemo-nos amanhã – num improviso beijou-me apanhando-me desprevenida – Cuida-te.

- Também tu – sorri.

Vi-o a ir-se embora do lugar, o meu coração palpitava a cem quilómetros por hora. Sorri para mim mesma e agarrei nas malas para entrar na minha querida casa, aquela casa de que tinha tantas saudades.

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