Capítulo 10 - "Nem tudo gira à sua volta"

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- E o que é que isso te interessa? - Gritou.

- Vê? Vê como fica? Está a representar alguém que não é.

- Não te pedi conselhos de como devo ser, devias deixar de te meter nas vidas das pessoas, és só uma empregada, não és minha mãe nem nada.

- Devia valorizar as pessoas, não pela sua situação económica nem ao que se dedicam, valorizá-las pelo que são. Aprenda a ser si próprio, não seja outro, só lhe digo isso - aconselhei e fui-me embora.

Ross estava confuso, as memórias atormentavam-no sempre, mesmo que ele queira esquecê-las elas estão sempre lá para arruinar a sua vida, não conseguiu estar com nenhuma mulher depois daquele acidente, sentia-se culpado pela sua morte.

Eu disse-lhe para mudar a sua personalidade, que se mostre como realmente é mas porquê que ele ia dar ouvidos a uma simples empregada, a uma pessoa como eu que a única coisa que sei fazer é meter-me na vida dos outros?

Entrei no meu quarto a pensar no que tinha acontecido, onde o vi chorar, onde descobri que afinal ele tinha sentimentos e que estava a sofrer em silêncio. Um dia vai chegar uma pessoa que o vai fazer mudar, para bem ou para mal.

Vesti o pijama e deitei-me na grande cama, sentia-me tão sozinha, precisava da minha família, dos meus pais e da minha irmã, nesta casa a única coisa que tinha era maus tratos e raiva.

De tanto pensar deixei-me dormir profundamente.

Ross por outro lado não conseguia pregar olho, estava inquieto na sua cama, estava com vontade de tomar um banho ou beber um copo de leite para relaxar, incomodava-o que tivesse sido eu a vê-lo chorar, de certeza de que se ele se atrevesse a chatear-me eu me comportava como uma miúda e dizia que os homens não choram etc.

No dia seguinte levantei-me, tomei banho e vesti-me, saí do quarto para me dirigir à cozinha e fiquei espantada com o que vi, Ross Lynch acordado às oito da manhã a tomar o pequeno-almoço na cozinha, nem acreditava no que os meus olhos viam, ele levantado e a tomar o pequeno-almoço àquelas horas era uma coisa que não se via todos os dias, de certeza que não tinha dormido bem esta noite.

- Não quer comer mais nada? - Perguntei pondo o avental.

- Não.

Comecei a lavar uns pratos sujos que estavam lá, hoje ia ser um dia duro, a Glória tinha de ir ao médico e por isso tinha o dia livre enquanto eu tomava conta da casa.

- Olha, o que viste ontem à noite... Sobre... - Disse nervoso.

- Sobre o que se passou ontem não se preocupe - disse deixando a loiça de lado para olhar para ele - Não vou contar a ninguém se é isso que lhe preocupa, não sou dessas pessoas, e não pense que sou daquelas que acham que um homem não tem o direito de chorar - expliquei.

- Ok, dás-me mais sumo por favor?

- Claro - disse pondo mais sumo no seu copo.

Esperem aí! Ele pediu "Por favor", ele nunca tinha pedido nada assim, estava demasiado surpreendida com a sua atitude, será que resolveu seguir o meu conselho? Não era algo que esperava mas se o seguiu, melhor para ele.

- Quando acabares de lavar isso podes tratar do meu quarto? - Levantou-se da cadeira - Ah! E aviso-te que vou chegar tarde por isso não faças almoço para mim.

- Está bem - respondi.

Ross saiu, viu-o entrar no carro e sair. Um prato menos, assim não tinha de cozinhar muito, só para Riker, Rydel e para Amanda. Amanda não era muito do meu agrado, a única coisa que queria dela era que se fosse embora o mais rápido possível, levantava-se a qualquer hora e só me chateava.

Já eram quatro da tarde, eu passeava pelo jardim à espera de Rydel que chegaria da escola daqui a uns momentos, passeava tocando nas lindas flores que estavam no jardim, flores de todas as cores, o pasto bem cuidado, ainda me surpreendia com a beleza da casa, era como as casas das princesas dos contos, filmes ou novelas, sentia-me sortuda por poder trabalhar ali.

De repente veio-me à cabeça as sessões de terapia da minha irmã, hoje era quinta-feira e começavam na segunda-feira, desejava tanto que ela pudesse andar e que disfrutasse da sua infância, magoava-me vê-la sempre assim, sentada na cadeira de rodas aborrecida, nem amigos pôde fazer porque não gosta de sair. Os meus pensamentos foram interrompidos por uma buzina de um carro, dele saiu Rydel e correu até mim.

- Como correu a escola, linda? - Perguntei pegando nela ao colo.

- Super bem, tenho TPC e é de desenho.

- Precisas de ajuda?

- Não, no desenho saio-me muito bem - informou.

- Bom - disse pondo-a no chão - Então vai lá fazer, vou levar-te bolachas e um copo de leite.

A menina disse que sim com a cabeça e correu até casa ao contrário de mim que fui a caminhar lentamente, ao longe vi Amanda que procurava alguém por todos os lados. De quem é que anda à procura? Perguntei-me a mim mesma. A loira pouco a pouco aproximou-se de mim.

- Hey tu! - Chamou.

- Sim? - Perguntei.

- Viste o Ross? Já o procurei por todos os lados e não o encontro.

- Ele saiu cedo e disse que voltaria tarde, não disse onde ia, só disse isso - informei.

- Atreveu-se a sair sem mim - disse como se fosse desmaiar.

- Tem de se dar conta de que nem tudo gira à sua volta - nem sei porque lhe disse isto, saiu-me.

- Parece que gostas das minhas chapadas.

- Dói-lhe assim tanto que lhe diga a verdade? - Perguntei.

- Sabes? Porque não calas a tua maldita boca empregada de quinta? Não vou descer ao teu nível, nem sei como te aceitaram nesta casa, não és um bom exemplo para ninguém.

- Muito menos você - respondi defendendo-me.

- Pelo menos tenho dinheiro e não vivo numa casota para cães.

- Posso não ter dinheiro nem uma casa luxuosa mas tenho coração, tenho educação, tenho dignidade e não sou burra, isso é algo que você não tem - disse fulminando-a com o olhar e passando ao lado dela roçando nos seus ombros.

A loira ficou boquiaberta, nem sabia que palavra articular mas via-se a fúria que tinha, até estava vermelha.

Entrei dentro de casa com um sorriso no rosto, gostei de ter deixado a loira sem palavras, senti-me poderosa por um momento.

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