Capítulo 54 - "Diz-me, quem é o afortunado?"

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Abri a porta de minha casa com uma cópia da chave que a minha mãe me tinha dado. Ao entrar encontrei a família a jantar. Surpreendeu-me não terem ficado muito contentes ao me verem novamente em casa, a minha irmã fulminou-me com o olhar. O que se passava?

- Olá família – saudei contente deixando as malas de lado e atirando as chaves para cima de um móvel – O que se passa? Porquê que estão com essa cara?

- Hoje não pude ir à sessão de terapia já que NINGUÉM teve tempo para mim – reclamou Marta.

Tinha-me esquecido completamente das sessões de terapia da Marta. Como é que me consegui esquecer de uma coisa tão importante?

- Marta – sussurrei.

- Sabes que nós não podemos porque trabalhamos Sara, tu também o fazes mas tu tens a oportunidade de ir porque te dão autorização e a nós não – disse a minha mãe.

- Desculpem – disse um pouco triste.

- Já não importa, já passou – disse o meu pai.

- Prometo que nunca mais se vai repetir.

- Não te preocupes mana, todos cometemos erros – aproximei-me dela e ela deu-me um abraço – Tinha muitas saudades tuas.

- Acredita, eu tive mais – dei-lhe um beijo – Como têm estado vocês? – Perguntei aos meus pais.

- Com muito trabalho mas bem – respondeu o meu pai.

- Vais comer alguma coisa, Sara? – Perguntou a minha mãe – Estás mais magra, não comias bem lá naquela casa?

- Está bem mãe, serve-me algo para comer.

Uns minutos depois estava sozinha com a minha mãe na sala pois a minha irmã tinha ido dormir e o meu pai também.

- Diz-me, quem é o afortunado?

Afortunado? Do que é que a minha mãe estava a falar?

- Do que estás a falar mãe? – Perguntei confusa.

- Dos teus olhos, uma mãe conhece muito bem os seus filhos e vejo que estás muito mais contente, tens os olhos com um brilho especial, isso demostra que estás apaixonada ou que gostas de alguém.

- Mãe… – Sussurrei.

- Conta-me – acariciou ternamente o meu cabelo – Confia em mim, eu confio sempre em ti.

- Sei que isto é uma loucura e não sei como vais reagir. Acho que me estou a apaixonar.

- Por quem? – Perguntou sorridente. Por um lado estava emocionada mas por outro sabia que eu já não era uma menina.

- Mãe… – Sussurrei de novo.

- Diz-me Sara, não tenhas medo.

- Estou a apaixonar-me pelo Ross, o filho mais velho dos Lynch.

- O que te trata mal?

- Tratava – corrigi.

- Sara – disse num suspiro.

- Mãe, eu não sei como aconteceu, mas aconteceu.

- Eu percebo. Não mandamos no nosso coração, não te vou criticar – sorriu – Mas diz-me, os pais dele sabem? O quê que ele sente?

- Os pais dele não sabem de nada e não sei o que ele sente, é difícil para ele – comentei.

- Porquê?

- Já passou por muito – suspirei lentamente ao recordar tudo o que ele passou – A sua namorada morreu num acidente de carro, iam no seu carro e chocaram, sente-se culpado pela sua morte, ninguém o apoiou quando mais precisou, teve de sair daquele momento obscuro sozinho.

- O que me estás a contar é horrível, Sara – admitiu.

- Eu sei… Quando estou com ele esqueço-me de tudo… Mas também tenho medo de me estar a iludir.

- Sara vive a tua vida, se gostas mesmo dele, luta por ele, luta com unhas e dentes para afastar as outras raparigas que andam atrás dele. Ajuda-o a superar o seu trauma – aconselhou – E se o fizeres de certeza que te amará para o resto da vida – sorriu.

- Não és muito boa a dar conselhos – ri-me.

- Não? – Perguntou, neguei com a cabeça – Então faz o que o teu coração te diz… Mas vai para a cama, amanhã tens de te levantar cedo para ir trabalhar, descansa bem.

Fechei-me no quarto, deitei-me e cobri-me com os lençóis. Ouvir o meu coração? Mas o que é que é precisamente ouvir o meu coração? Tinha de aprender a ouvi-lo e a entendê-lo. Lentamente, fechei os olhos e depois tudo se tornou negro.

Um dia de quarta-feira estava a amanhecer, recordei que já não estava em casa dos Lynch, agora tinha de apanhar um táxi para ir trabalhar. Levantei-me da cama, há muito tempo que não dormia tão bem, não trocava a minha cama por nada deste mundo. Depois de ter tomando um duche bem merecido penteei o cabelo, lavei os dentes e vesti-me. O dia estava agradável.

Cheguei a casa dos Lynch, estavam todos na sala de jantar a tomar um pequeno-almoço em família, olhei de revés e consegui notar logo que Ross estava aborrecido, a única coisa que o entretinha era comer.

- Sara, olá – saudou dando-me um beijo na bochecha.

- Olá Dallas, como estás? – Perguntei – Não te vi há pouco.

- Estou bem – sorriu – Sabes? Queria fazer-te um convite.

- Ah.. Sim? O quê?

- Digamos que é uma surpresa… Mas… Gostavas de… – Disse nervoso.

- Está bem – aceitei, recebi um forte abraço e um sonoro beijo na testa.

Tinha aceitado sem pensar no Ross. Mas porquê que pensava nele? Era uma saída com o Dallas e não tinha absolutamente nada com Ross, não devia importar-me com o que ele pensava. De todos os modos há muito tempo que não saía para me divertir e precisava bastante. Ultimamente andava a exigir muito de mim própria e isso não é muito bom para a saúde.

- Olá Sara – cumprimentou Ross.

- Olá Ross… O que fazes aqui?

- Já acabei de tomar o pequeno-almoço – sorriu – Tens muitas coisas para fazer?

- Não, quer dizer… Sim, sim – confirmei – Tenho que arrumar a casa toda.

- És muito trabalhadora para a tua idade.

- Já não sou assim tão jovem, tenho dezoito anos.

- Por isso mesmo, demasiado jovem – fez uma pausa e mudou completamente o rosto para um mais sério – Então vais sair com o Dallas…

- Há algum mal nisso? – Perguntei.

- Não – negou – Não tem absolutamente nada de mal, és livre de fazer o que quiseres – o seu tom de voz tinha mudado para um mais duro do que o normal – O que quiseres – repetiu.

Já não podia negá-lo, Ross estava a deitar fogo pela boca, os seus ciúmes notavam-se a milhas. Mas porquê que eu era a única que não reparava?

- Sei isso perfeitamente, Ross.

O que eu não sabia era que Ross se ia vingar, ia pagar-me na mesma moeda. Ia convidar Brook para jantar. Sim, a odiosa Brook, ele não gostava dela mas com ela ia conseguir fazer-me ciúmes. Ansiávamos tremendamente por estar juntos mas nenhum de nós se atrevia a dar o primeiro passo. Éramos tão imaturos que de certeza que Rydel era mais madura do que nós.

Tínhamos passado muito tempo sem discutir. Os nossos corações estavam a unir-se e nós simplesmente não nos dávamos conta. Ross não se apercebia mas pouco a pouco o seu coração estava a curar-se daquela ferida.

Ross tinha saído chateado da cozinha, pude notar com uma simples vista, conhecia-o perfeitamente e sabia ver quando estava chateado ou feliz. Sorri ao aperceber-me que estava com ciúmes, estava a começar a sentir algo por mim.

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