Capítulo 26

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Milla observava a tela de seu celular com um pouco de preocupação, havia perdido três ligações de sua mãe quando estivera em uma das sessões de treinamento de primeiros socorros que realizara na Segurança, Jaded tinha lhe pedido para ensinar à seu povo aquele procedimento e mais do que feliz, Milla os ensinou tudo o que conseguiu, desde RCP até imobilização em caso de fraturas. A mulher estava agora sentada na calçada da área de laser da Segurança, havia acabado de almoçar –um pouco mais tarde por causa da sessão - e sentara ali para olhar o celular, quando enfim viu as ligações.

Enquanto se perguntava se ligaria ou não, lembrou-se de ter dito a sua mãe que passaria três dias na Reserva a trabalho, mas este era o seu quinto dia, por causa de Torrent e do trabalho, acabara esquecendo-se de ligar avisando que sua estadia ali se prolongaria um pouco... sem saber porque, estava meio receosa de ligar, talvez medo de que ela não aceitasse o relacionamento repentino com Torrent, apesar de acreditar que a mulher não implicaria com o fato dele ser Espécie, apenas... algumas questões do passado que ainda atormentava as duas.

Estava prestes a triscar na tela do celular e retornar a ligação, quando seu celular tocou mostrando uma ligação de "Casa", aquilo lhe foi estranho, mas atendeu no primeiro toque.

-Desculpe por não ter atendido antes, mãe. Eu estava dando uma pequena demonstração de primeiros-socorros.

Uma risada masculina soou do outro lado fazendo o sangue de Milla gelar, ela não reconheceu aquele som, muito menos a voz que veio em seguida.

-Me pergunto se anda se divertindo muito ai nesse curral, docinho.

Milla não reconheceu a voz, mas a forma como a palavra docinho foi dita lhe trouxe lembranças escuras de volta a tona, sua vista escureceu um pouco e se não estivesse sentada, tinha certeza que teria caído. Outra voz, mais jovem e tão arrogante e nojenta quanto à daquele homem lhe veio à memória e essa memória quase a fez vomitar seu almoço em seus pés.

-Achei que estivesse preso...

-Eu sou um bom garoto, Martin...

-O que faz na casa da minha mãe?

-Terminando uns assuntos que foram deixados em branco na nossa última visita...

-Não ouse tocar um único dedo na minha...

-Não grite docinho. A vida da sua mãe está em minhas mãos, não faça nenhum escândalo.

Milla mordeu a língua com força, sentindo o gosto de sangue, com medo de que alguém estivesse ouvindo sua conversa, olhou ao redor, mas viu que estava sozinha, respirou fundo tentando se controlar.

-O que você quer? Por que não nos deixa em paz?

-Docinho, não acha que é uma baita falta de educação falar assim? Estou chocado.

-É dinheiro? Eu posso te dar o que quanto você quiser...

-Vamos falar sobre isso pessoalmente, você sabe onde eu estou, não deixe a mamãe esperando.

O som do término da chamada foi como uma facada em Milla que mal conseguia manter-se ereta. Sentindo a onda de pânico quebrando seu ser como antigamente, a mulher enfiou a cabeça entre os joelhos e começou a respirar mais fundo tentando controlar a respiração, com muita luta ela conseguiu não vomitar e mais luta ainda acalmar sua respiração.

Seus dedos tremiam enquanto ela olhava para o celular entre as mãos, sua pele pálida a assustou, mas tratou de ignorar isso. Marcus havia lidado de sua casa, o que quer dizer que sua mãe estava no antigo sítio da família... aquele não poderia ser um local pior. As lembranças de um passado escuro ameaçaram levar Milla à beira do precipício de novo, mas a mulher teve força de não se render, levantou-se trêmula e respirou fundo mais uma vez.

Torrent - Novas espéciesOnde histórias criam vida. Descubra agora