Capítulo 8

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Milla espreguiçou-se na cadeira jogando braços e pernas para todos os lados, olhou para o relógio/peso de papel na mesa que lhe deram em uma das salas do canil da Segurança e suspirou, já havia passado das sete da noite, passara a manhã e o começo da tarde ensinando aos Espécies encarregados do canil algumas informações importantes, examinaram todos os animais do local, tiraram amostras de sangue e até escovaram os dentes dos cachorros, alguns tinham uns sérios casos de Tártaro, mas nada que uma raspagem não resolvesse, inclusive ensinou como fazer esse procedimento. A mulher gostava de ensinar, e ver o tremendo interesse que eles tinham em aprender a deixava ainda mais motivada.

As instalações do canil eram sem procedentes, não havia celas e nem correntes, todos os animais tinham suas camas e espaços próprios, Milla se perguntava como conseguiam manter todos na linha com todo aquele espaço aberto, até ver como um dos Espécies lidava com os animais, haviam lhe explicado que todos que trabalhavam lá eram caninos, e por isso havia um certo senso de matilha. Cada nova informação era como um novo mundo para ela, e realmente gostava disso.

Estava terminando de passar algumas informações por computador, quando a porta da sua pequena sala foi aberta e um novo Nova Espécie entrou, ele tinha a pele um pouco menos bronzeada que os outros, cabelos brancos e curtos, olhos de um azul quase branco, era tão alto quanto a maioria e um pouco mais forte - depois de passar tanto tempo próxima dos Espécies, Milla pôde identificar alguns padrões de tamanho, eram todos extremamente musculosos e viris, mas isso era algo comum entre eles -, ele olhou para ela de cima a baixo e ponderou algo, depois se aproximou.

-Doutora Martin? Me chamo Snow, serei seu Oficial de Segurança durante esse turno.

-Pode me chamar de Milla. - disse ela se levantando e estendendo uma mão em cumprimento, o Espécie a apertou com força moderada. - Obrigada por seu serviço.

-Fui informado de que já está trabalhando a muito tempo, é melhor descansar.

-Estou quase terminando, mais cinco minutos e acabo.

Milla viu como seu olhar percorria rapidamente ela de cima a baixo e depois para a mesa, como se buscasse algo, ao fim acenou com a cabeça e saiu silenciosamente. Algo nele era diferente dos outros, mas ela não sabia dizer o que exatamente. Voltou sua atenção ao computador e terminou o que estava fazendo, sua mente ia e vinha sempre pensando em uma única pessoa, uma pessoa que não estava lá.

Passara o dia todo procurando por Torrent em todos os lugares que olhava, sentira seu coração acelerar por diversas vezes sempre que via algum Espécie de cabelo preto cumprido, mas nunca era o Espécie que queria ver. Não sabia dizer porque estava tão fanática por ele, nem o que tinha a atraído, simplesmente sentia o que sentia e aceitava.

Passara muito tempo da sua vida simplesmente ignorando os homens, depois de alguns fatos traumáticos que marcaram sua adolescência, Milla desistiu deles e resignou-se a ser a Titia, apesar de não ter irmãos. Sua mãe sempre reclamava dizendo que queria netos, que não descansaria em paz até ter pelo menos meia dúzia deles, isso sempre fizera Milla sorrir.

Ao pensar na mãe, seu pensamento mudara logo para Diva, estava com saudades da companheira e seu peito doía um pouco pela separação. Se não fosse pela cadela, Milla não saberia dizer o que seria dela hoje.

A mulher balançou a cabeça tentando espantar os pensamentos, ficar longe de Diva lhe deixava triste, então tentaria não pensar nela por enquanto. Tirou o jaleco e o pendurou em um dos ombros, desligou o computador e saiu da sala encontrando Snow encostado na parede ao lado da porta.

-Para onde você quer ir?

-Para casa.

Ele a olhou sem deixar transpassar nenhuma emoção, quieto.

-Vou ligar para os portões então, seu carro deve estar no mes...

-Não, não. - Milla riu e mudou o peso do corpo. - Eu me referia a cabana na qual fui alocada.

Um leve sorriso brilhou brevemente nos lábios de Snow, fora tão rápido que ela se perguntara se realmente tinha visto. A impressão que ele lhe passava, era que não queria demonstrar seu verdadeiro ser, estava usando uma mascara, mas porque?

-Certo, me desculpe. Vamos então, nosso carro está no estacionamento.

Andaram juntos em silêncio, sempre que passavam por algum Espécie, ela os cumprimentava e se despedia como era de costume, como fora ensinada a ser. Do lado de fora o Sol estava se pondo em um grande show de laranja e rosa, a luz que penetrava as arvores era fascinante; como Milla morava numa parte menos arborizada da cidade, ver aquele espetáculo da natureza a deixava sempre boquiaberta, com uma pontada de saudades da fazenda da mãe.

Snow a conduziu até um Jeep e abriu a porta para que ela entrasse, o caminho até a sua cabana fora curto como outrora, menos de cinco minutos e já estavam lá, Snow foi o primeiro a sair, fez questão de abrir a porta para ela e de fechar também, ao chegarem na varanda, ele pediu para que ela esperasse enquanto ele verificava a casa. Milla esperou, lembrando de como seu pai tinha a mesma mania.

- Tudo bem, pode entrar. - a voz abafada de Snow soou de dentro da cabana.

Milla entrou e se deparou com a casa toda desligada, Talvez eles tenham uma boa visão noturna.Ela saiu tateando a parede em busca do interruptor, mas não fazia a menor ideia de onde ele ficava, não tinha prestado atenção nesse detalhe quando chegou. De repente todas as luzes foram acesas e ela ficou cega por alguns momentos.

-Precisa de alguma coisa? - perguntou ele indiferente.

-Ah... Não, tudo bem. - Snow acenou com a cabeça e começou a se retirar. - Sabe, Snow. Se não quiser ficar me vigiando, pode ir.

- O que? - perguntou ele confuso, demonstrando algo pela primeira vez.

-Acho que você não foi com minha cara. - comentou ela. - Então não precisa se forçar a isso.

-Eu já tive a minha conta de machos acasalados querendo me morder, só estou tentando evitar, não é nada pessoal.

-Mas... mas eu não sou um macho, - disse ela confusa. - e muito menos acasalado.

Snow riu pela primeira vez, acenou um tchau com a cabeça, como se tivesse um chapéu invisível e saiu fechando a porta a trás de si. Milla continuou olhando para a porta por alguns instantes, tentado entender o que ele queria dizer com aqui. Talvez seja alguma coisa de Espécies. pensou ela por fim.

Seu estômago roncou alto e Milla deu um risinho, deu uns tapinhas na barriga e foi pegar as malas em cima do sofá. Iria tomar um banho primeiro, e depois, se ainda estivesse com coragem, faria alguma coisa para comer, do contrário iria apenas deitar e descansar.

Se bem, que o que eu gostaria de comer agora, não está aqui...

I

Torrent - Novas espéciesOnde histórias criam vida. Descubra agora