Capítulo 18

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"Hoje eu quero apenas ser mulher. Preciso me libertar de mim mesma e me permitir um pouco de diversão. Tenho que liberar a tensão e o sofrimento que estão há muito me consumindo."

(Empoderada – Adriana Vaitsman – Theo e Laura) 

Will deu a partida assim que coloquei o cinto de segurança. Uma música instrumental suave quebrou o silêncio. Assim que pegamos a via principal, tocou minha mão que descansava sobre a perna. Eu tremia sem saber o real motivo. Levou-a até a boca e depositou um beijo casto.

— Fique tranquila. O carro é blindado. Estaremos seguros. – sorriu

As luzes da cidade passavam pela janela do carro. Busquei lembranças que pudessem fortalecer minha decisão. Lembrei-me de nossos encontros furtivos na minha casa e no prazer que sempre nos proporcionamos, lembrei-me do dia que transamos pela primeira vez. 

Foi depois assistir um seminário de tema muito peculiar; "A Vida Sexual Feminina na Idade Média". A tese defendia que mulheres buscavam sua própria satisfação sexual, usando artifícios em busca de prazer. Para os homens não existia sexo sem pênis, já que a função da mulher era procriar. Eram tão alienados que acreditavam que só a posição "papai e mamãe", produzia herdeiros do sexo masculino e que qualquer outra mais criativa, faria com que o diabo deixasse o filho com alguma deficiência.

Provavelmente eu vá para o inferno, mas sempre zoei Nica com isso, já que nossos pais adoram contar que ela foi concebida debaixo do palco, no festival de música, durante a apresentação de um grupo punk. É, eu sei, não dá pra nascer normal nessas condições.

Sem direito ao prazer com seus parceiros, a homossexualidade feminina era uma realidade. Acreditavam que "instrumentos diabólicos" os "dildos", popularmente conhecidos como "consolo" eram manipulados, proporcionando satisfação sexual e desafiando a hierarquia do contato sexual, que deveria partir do homem. Já a plebe, talvez por excesso de trabalho, não tinha tempo para isso. Mas como mulher arruma jeito para tudo, criaram artifícios simples e singelos, para dar aquela aliviada. Tive que segurar o riso, afinal, tinha uma gaveta cheia de "artifícios".

A ilustração de uma máquina de tear foi projetada e tudo fez sentido. A atividade mais comum entre as mulheres era o trato do linho e da lã. Nesta maquineta, elas se sentavam para movimentar a roda e produzir os fios. Essa movimentação fazia um dispositivo, colocado estrategicamente entre as pernas, subir e descer, resolvendo ao mesmo tempo dois assuntos importantes: Trabalho e prazer. 

Ponto para as minhas ancestrais!

Os risos contidos, outros nem tanto, e a troca de olhares, principalmente entre as mulheres que assistiam ao seminário, foram inevitáveis. Para ser bem sincera, a primeira coisa que reparei naquela imagem, foi um "caralho de madeira" com cabeça avantajada e roliça. Imaginar a mulher medieval, sentada "inocentemente" em uma roca de fiar, com aquilo bem no meio das coxas, fazendo vai e vem, o dia todo em sua vagina, fez minha mente viajar e inevitavelmente fiquei excitada.

Imediatamente me lembrei da coitada da Bela Adormecida. Quando criança, não entendia por que uma princesa furaria o dedo no fuso de uma roca de fiar. Fala sério? Ela era princesa. Não precisava fazer esse tipo de trabalho. Porém, na faculdade, descobri que muitas mulheres, mesmo pertencendo à realeza, cumpriam atividades apenas para entretenimento, já que não tinham muita coisa pra fazer. Muitas eram impedidas de educar os próprios filhos.

Então uma revelação se abriu na minha frente como um filme de Quentin Tarantino, sangrenta, visceral e passional. O lance não era impedir Aurora de encontrar o amor verdadeiro, já que em muitos reinos as moças se casavam aos dezesseis anos com homens que, muitas vezes, nunca haviam visto e sim, impedi-la de ter prazer.

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