Capítulo 28

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Antônio

Muitas vezes eu me perguntei o quão tolerante eu sou para dor. Eu aguento bem treinos pesados, aguento bem dores no corpo, aguento o frio, o calor, mas eu não estou aguentando a dor que invadiu meu coração quando Celina saiu da nossa casa. Meus pés pareceram criar raízes no lugar e minha voz falhou quando tentei chamar seu nome. Algo está errado, tem que estar. Não é possível ela me deixar assim, do nada. Estávamos felizes, eu a amava, ela me amava também, era nítido em seus olhos. Nós íamos dar um passo em nosso relacionamento, eu iria pedi-lá em casamento na virada do ano. Hoje.

Estou na parte externa da casa dos meus pais, no bar, tomando mais uma dose de uísque. Na verdade já perdi as contas de quantas foram desde que cheguei aqui. O restante dá família e alguns amigos estão se felicitando pela chegada de mais um ano. Eu vejo os olhares de pena que todos aqui me dão, é como o maldito inferno. Não quero piedade de ninguém, eu só quero a minha mulher.

E como sempre, pensar nela faz com que instantaneamente eu sinta seu cheiro, como se ela estivesse bem aqui do meu lado. O sorriso largo invade minha cabeça e o corpo todo lindo e sensual também, até mesmo as sardinhas de seu rosto delicado. Ela me fodeu para a vida sem ela. Eu mataria por informações suas, só não sou capaz de ir atrás dela e ser rejeitado. Há o medo, medo dela não me querer e de suas palavras serem reais e o seu amor por min ser uma ilusão criada pelo meu coração que sofre com sua partida.

– Feliz ano novo, irmão! – é Nícolas quem está ao meu lado, quando os últimos fogos explodem no céu.

Apenas aceno com a cabeça e olho para ele, procurando o olhar de pena, não o encontrando, mas sim algo parecido com decepção.

– Faz quantos dias que você não dorme? – pergunta, provavelmente notando meu semblante cansado e os olhos vermelhos.

– Desde que ela me deixou. – decido ser sinceros, sei que ele não aceitaria nada menos que isso.

Ele termina de tomar o líquido em seu copo e se levanta.

– Vem. – ele chama autoritário, com o mesmo tom que usava quando éramos mais novos e queria chamar minha atenção.

Sem forças para contraria-lo e muito menos para argumentar, levanto-me devagar por causa da quantidade de álcool em meu organismo, mas a tontura e inevitável. Logo Nick chega ao meu lado e me faz apoiar nele, caminhando para dentro de casa. Agradeço aos céus por meus pais estarem distraídos e não verem a vergonha de estar sendo carregado para dentro de casa. Subimos lentamente para o segundo andar e então meu irmão me leva para meu antigo quarto.

– Aguenta um pouco sozinho? –pergunta.

Concordo com a cabeça, sentindo uma súbita vontade de chorar.

Vejo Nick ir até a cama e retirar o edredom e voltar para me ajudar.

– Deite. – ele diz baixinho e eu o faço.

– Obrigado. – digo, como uma criança sendo cuidada pelo pai.

– Você precisa dormir, descansar e clarear sua mente. Amanhã você vai estar melhor.

Me permito sentir o cuidado do meu irmão para comigo, eu, com meus quase trinta anos, sinto-me como uma criança perdida.

– Obrigado, Nick! – agradeço mais uma vez, afinal, essa é a primeira vez que me deito desde o fim. Não me permiti descansar.

– Boa noite, Tony!

– Boa noite!

Vejo-o saindo e fechando a porta e só agora eu choro. Eu a perdi, perdi minha mulher, minha felicidade, minha dignidade, o sentido da minha vida. Agora eu quero apenas fechar os olhos e dormir.

Darling (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora