Capítulo 30

1.4K 190 13
                                    

Celina

Acordei com a cabeça latejando de uma forma surreal. A primeira coisa que eu fiz foi esticar meu corpo para ter noção do tamanho do estrago. Minhas costelas do lado esquerdo doem demais e meu maxilar também, não sinto minha intimidade dolorida, o que significa que ele não fez nada comigo depois que apaguei, suspiro aliviada e me sento para levantar.

Sinto uma umidade entre minhas pernas e deduzo ser por causa do xixi, sigo para o banheiro e no meio do caminho sinto algo escorrendo pelas minhas pernas, quando olho para baixo vejo sangue. O frio que percorre o meu corpo me faz tremer e instantâneamente levo uma mão ao ventre, como se isso pudesse proteger o meu bebê. Tudo que eu penso é preciso ir ao médico e a primeira pessoa que penso é na Rafaela.

Volto para o quarto e vejo que já se passa das dez da noite, ligo para ela que atende na terceira chamada.

- Celina? Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? - sua voz preocupada me dá vontade de chorar.

- Eu... Eu tô sangrando. Eu tô perdendo meu bebê.

Ouço um barulho como se ela estivesse se levantando. Tento controlar a tremedeira do meu corpo, mas falho.

- Oh meu Deus! Eu tô me trocando, me passa seu endereço que estou indo aí.

Passo meu endereço para ela e decido tomar um banho para limpar o sangue, quando termino coloco um moletom limpo e passo um pouco de corretivo no hematoma perto da minha boca e dos olhos que está ficando roxo. Pouco tempo depois o porteiro interfona avisando a chegada da Rafaela, desço para encontra-la e entrego a chave do carro para que ela possa dirigir. Pouco tempo depois chegamos no hospital.

- Liguei para uma colega da faculdade quando estava indo para sua casa e ela conseguiu marcar uma consulta de emergência com a ginecologista obstetra daqui. Vamos subir.

Cinco minutos depois estamos na sala da médica que deve ter por volta de seus cinquenta anos, ela me faz umas perguntas que eu não consigo responder já que descobri hoje sobre a gravidez. Depois ela me instruiu a deitar na maca numa posição um tanto quanto desconfortável e em seguida introduz uma sonda na minha intimidade, iniciando a ultrassonografia transvaginal.

Dois minutos depois, ela continua séria e eu tensa.

- Doutora o meu bebê está bem? - pergunto baixo, com medo da resposta.

- Bom Celina, aparentemente foi só um susto, o seu bebê está perfeitamente bem.

Solto todo o ar que estava prendendo.

O alívio toma conta de mim.

Graças a Deus.

O meu bebê está bem.

☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️

Antônio

Depois que Celina me deixou eu simplesmente entrei na fossa, nunca imaginei que ficaria tão mal por alguém assim. Já vai fazer três semanas que ela foi embora, eu me sinto doente e vazio, mas a uma semana atrás eu decidi que era hora de seguir em frente. É difícil pra caralho e nem me esforço para tentar parecer bem. Minha mãe disse que a encontrou outro dia em frente uma farmácia com uma mulher e que ela parecia doente e emagreceu, também não quis conversa. Fugiu o mais rápido que pode.

Eu quis ligar. Quis não, eu liguei. Inúmeras vezes mas em determinado momento eu só desisti. O bebê do meu irmão nasceu, alguns dias depois da virada de ano e todos nós estamos babando na criança, o que é bom, pelo menos assim o foco sai de mim e do meu estado lamentável.

Foquei demais no trabalho e meu projeto mais importante enfim está pronto. A casa que eu tinha planejado nos mínimos detalhes, a casa dos meus sonhos, a casa que tirei do papel para que fosse meu lar com a Celina. E agora, eu me encontro aqui, olhando o lugar e pensando no que eu fiz de errado para tudo ruir de uma forma que eu fui incapaz de identificar o motivo. Ela literalmente escapou entre meus dedos.

Saio dali apressadamente quando as lágrimas escapam de meus olhos. Dói. Meu Deus como dói. A saudade do seu corpo quente junto ao meu, seu cheiro doce. Eu a quero com todas as minhas forças.

Dirijo com os olhos nublados até o centro em busca de um lugar para beber, já que o único momento que anestesio a dor é quando meu corpo está entorpecido pelo álcool. Não sei se pela saudade ou qualquer outra coisa mas quando estou passando em frente uma farmácia vejo uma mulher de costas que parece com a minha Celina. Imprudentemente​ paro o carro na hora e volto de ré, agradecendo aos céus por ser uma rua tranquila e não ter ninguém atrás de mim. Quando volto o suficiente para conseguir ver a mulher, meu coração chega falhar algumas batidas quando identifico Celina rindo de alguma coisa que outra mulher de cabelo curto pondo um jaleco fala. Elas percebem a presença do meu carro e quando Celina me vê seu sorriso morre. Eu não sei o que fazer, o medo de chama-la e ser rejeitado me deixa paralisado no lugar. Antes que eu possa fazer alguma coisa ela fala alguma com a mulher ao seu lado e caminha até o meu carro e para na janela do passageiro.

- Antônio? O que você tá fazendo aqui? - percebo seu tom distante, como se minha presença te incomodasse.

- Oi. - engulo em seco sem saber o que falar - eu estava só passando e vi você. Será... Será que a gente pode conversar?

Ela olha para trás, para a mulher que ainda nos observa, ela está hesitando e isso dói.

- Tá. - ela entra no carro e coloca o cinto. - podemos ir a praia?

Concordo com a cabeça e seguimos para a praia em um silêncio incômodo. Esperei tanto por esse momento que agora que estou com ela aqui, não faço ideia de como reagir. Quando estaciono, nós descemos e começamos a caminhar lado a lado sem falar nada ainda. Ela está com uma calça jeans e uma camiseta de manga longa, é evidente o quanto ela emagreceu.

Paramos quando as ondas alcançam nossos pés, nos obrigando a tirar nossos sapatos. Viro-me para ela que faz o mesmo. Ver seu rosto sob a luz do sol e suas sardas evidentes me dá vontade de toca-la, porém, quando minhas mãos estão quase alcançando seu rosto, percebo uma marca roxa na linha do seu maxilar e outra do lado do olho esquerdo, obviamente ela tentou esconder com maquiagem.

- Celina, quem fez isso com seu rosto? - pergunto já sentindo uma raiva tomar conta de mim.

- Nós precisamos muito conversar Tony. Muita coisa aconteceu.

Nada no mundo poderia me preparar para o que eu ouviria a seguir.

Darling (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora