Not The Same

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    Ela sentiu o toque suave de um par de lábios em sua testa e algo parecido com um murmúrio do qual não pode entender muito. Seu coração disparou contra as costelas e os olhos se abriram devagar, buscando as conhecidas orbes verdes diante de seu rosto, brilhando em toda a dor e tristeza na premissa daquela dolorosa despedida.

    Clarke piscou, aos poucos a mente encontrava os pequenos detalhes do teto em vigas de madeira acima de seu corpo, deitado naquela grande e macia cama rústica. As pupilas diminuíram, se acostumando com o toque morno das primeiras luzes do sol em sua beleza alaranjada e agarrou o cobertor de pele negra. Sentando sobre o móvel para vasculhar o ambiente novo e desconhecido.

    Um quarto de aproximadamente dez metros quadrados. A longa e peluda cama de casal com sua arquitetura em madeira clara tomava boa parte da ponta oposta ao par de portas claras, logo à frente do sofá vinho.

    Ela moveu a cabeça para a direta, o nó na garganta se tornando sufocante quando a brisa que escapava da fresta entre a viga da janela e a grande cortina de seda, da mesma cor que o tapete e sofá, encontrou seu rosto de maneira gentil. As sobrancelhas franziram ao avistar a floresta de longas e estreitas árvores do lado de fora do cristal transparente. A luz do sol escapando entre as copas de folhas levemente amareladas, como cortinas finas e brilhantes, misturadas aos pequenos pontos brancos. Flutuando pela atmosfera fresca.

    A saliva quase não pode contra o ardor de sua garganta, os olhos azuis brilharam, vasculhando a esquerda do quarto para encontrar apenas uma escrivaninha ao lado da porta do banheiro e o que mais tarde descobriria ser um closet. O par de portas de vidro em frente ao pé direito da cama lhe proporcionavam uma linda vista do vale e as montanhas com picos brancos despontando nas bordas da grande parede natural.

    Aquela não era a única mansão erguida de madeira de pinheiro e carvalho, haviam outras exatamente iguais a aquela. Com mesma mobília, decoração, extensão e cumprimento, suítes e grandes cozinhas, além de salas de lazer, até mesmo piscinas aquecidas e banheiras de hidromassagem. Todas estrategicamente posicionados entre as árvores e relevos, completamente camufladas para as tão insistentes aeronaves de reconhecimento ou até mesmo de ataque. Nenhuma delas podia encontrar aquele tão bem protegido paraíso, e o melhor de tudo... Nenhuma das defesas havia sido montada por interferência humana, apenas o sutil e maléfico dom da natureza.

    De alguma maneira nem mesmo a própria vegetação se importava em atravessar os limites da borda da floresta, apenas se mantendo em seu tão importante trabalho. Cobrir as estradas de pedra, gravetos e folhas, fazendo da conexão entre cada estrutura completamente segura e invisível aos olhos de indesejados.

    Uma das paisagens mais belas que os olhos de Clarke já tiveram o privilégio de assistir, calma, natural em uma beleza plena. Longe do sangue, da dor, da morte... Mas do que aquilo lhe importava agora? Não era o que precisava, estava longe de ser, então por que perder tempo observando?

    Ela deu as costas para o belíssimo e puro mundo do lado de fora, seu coração gelou assim que os olhos encontraram o pequeno e singelo envelope sobre a escrivaninha de carvalho, apoiado na lateral de um vaso de rosas verdes. Das quais não fazia ideia da existência até uma romântica noite em Polis, um presente que agora era apenas mais um detalhe que a fazia perder o ar.

    Os dedos se agarraram ao tecido da cama outra vez, engoliu em seco e deixou que seu pé descalço tocasse o chão de placas de madeira lustrada. O peso de sua imobilização na perna direita não a incomodava mais. Estava tão focada no envelope que também não percebeu a bermuda branca de algodão e a regata em mesma cor e tecido que vestia. Piscou, se empurrou para longe do móvel e avançou para a escrivaninha com respiração ofegante. Os cabelos loiros e ondulados caídos sobre os ombros se moviam junto a brisa e o peso de sua angustia, escapando dos lábios em sopros quase imperceptíveis.

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