Countdown

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    Todos nós chegamos em um momento de nossas vidas onde uma escolha vai mudar o futuro e dar um sentido ao passado. Uma trilha de dois caminhos, sem sinalizações ou avisos. Sem certo ou errado, visível em alertas. Apenas o instinto, a sensação em seu peito e algo que te puxa para o que julga ser certo.

    E ainda assim, somos enganados por nossos instintos. Difamados por nosso cérebro e largados as traças, presos entre os restos do que antes costumava ser alguém, e agora... Não restava nada.

    Eu me lembro da sensação, me lembro de como era olhar no espelho por quase horas. Assistindo cada detalhe de um rosto que simplesmente não ilustrava quem eu era por dentro. Acordar com corpo pesado, desistindo de respirar a cada piscadela. Sentindo que nada se encaixaria e que eu estava simplesmente errada em tudo.

    Infelizmente, ao mesmo tempo em que todos sentimos que não pertencemos a nós mesmos, nem todos terão o privilégio de encontrar a resposta para seu dilema. Porque nunca pertencemos a nós mesmos, e sim a outra pessoa. Pessoa essa que eu já havia encontrado e que nunca mais deixaria partir.

    Oito da manhã, sol encontrando meu rosto em diferentes formas. Todas desconfortavelmente quentes, como brasa. Apenas esquentando até que finalmente desistisse de me remexer e abrisse os olhos.

    Bocejei, olhos quase se fechando em meio a claridade e corpo pesado em toda a movimentação de ontem. Me virei para a esquerda e o pequeno sorriso ao me lembrar da luz da lua sobre nossas cabeças, simplesmente desapareceu.

    Clarke não estava ali. Nem a minha direita.

    Me sentei sobre as cobertas e assisti o cômodo em madeira, fios de luz escapando dos buracos e da cobertura aberta acima das almofadas. Levantei, buscando minhas roupas e percebendo que as de minha noiva também haviam sumido.

    Vesti a calça depois das peças intimas, coloquei a pistola no encaixe de minha coxa e parei quando um baque profundo e o estilhaçar de vidros ecoou nas paredes de madeira. Agarrei minha camiseta sobre a vitrola e corri para as escadas com pés descalços. Praticamente saltei metade da estrutura até meu antigo quarto e passei para o corredor vestindo a camiseta sobre meu ombro. Repetindo o processo para alcançar a cozinha e parando diante do caos.

    Clarke estava paralisada, talheres em ambas as mãos. Cabelos bagunçados, rosto lindo como em meus sonhos, olhos arregalados para o armário caído no chão. O mesmo armário que deveria estará preso a parede.

    - Bom dia... – Comentei e ela rapidamente se moveu. Achando meus olhos e buscando o caos de madeira e cristal partidos. – Problemas em achar os copos?

    - Ahn... É. – Ela assentiu e eu sacudi a cabeça. Cuidadosamente pisando entre os cacos de vidro e a encontrando para um longo, caloroso e apaixonado beijo de bom dia.

    O perfume em sua pele ainda estava ali, mesmo depois das gotas de suor pela noite. Nunca mais poderia sentir a fragrância de uma rosa sem me lembrar de um par de olhos azuis e o macio par de lábios.

    - Me desculpe, eu estava procurando por uma frigideira quando o armário simplesmente caiu. – Ela comentou, se virando para trás com braços ao redor de meu pescoço. Ainda confusa com a situação.

    - Está tudo bem. – Garanti e ela sacudiu a cabeça. – Mas podia ter me chamado. – Beijei sua têmpora, chamando sua atenção para mim mais uma vez.

    - Você foi muito gentil em me trazer aqui e com seu refúgio... – Relembrou. – Eu também queria fazer uma surpresa.

    - E fez, pode acreditar. – Ri. – Não precisa fazer surpresas para mim só porque eu fiz para você.

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