Eu não gosto de mim. Não gosto da cor dos meus olhos, não gosto da minha mente e não gosto da cor do meu sangue. Ás vezes sinto que nada é verdadeiro, que nem mesmo minha versão mais honesta que possa ser de mim mesma nunca vai ser tão original ou viva quanto poderia.
Sempre sinto que nunca faço o suficiente. Mesmo que me esforce todas as horas de todos os dias não conseguirei alcançar o que tanto procuro com tudo isso...
E o que você procura?
É uma boa pergunta... Mas não sei como responder. Sequer sei o que dizer ou como me sinto agora. É estranho, o vazio... Quase igual a dormir de olhos abertos e nunca realmente alcançar a superfície. Como estar presa.
Presa? Onde?... Dentro de você mesma?
Sim... Mas... Também presa nesse mundo. Destinada a uma universo e um tempo que não são meus. Perdida em uma realidade imaginária... Como não ter mais uma identidade verdadeira, apenas um monte de cópias que eu mesma criei.
Se eu perguntasse qual versão é verdadeira e qual é falsa, saberia me responder?
Não... Porque não acho que consigo ser sincera comigo mesma... Não mais.
Escuridão, silêncio e vazio. A mesma velha sensação fria em meu peito, o mesmo momento de paz naquela pequena fração de segundos onde nossos olhos se abrem para observar o vazio. Completamente perdidos na isolada falha de raciocínio entre ambas as realidades da existência humana. Exatamente onde eu estou desde de aquele dia.
Meus olhos se abriram devagar. Piscando com o cansaço em meus músculos e o formigamento em meu rosto. Os dedos apertaram o tecido frio abaixo de meu corpo e os lábios partiram. Buscando ar entre tremores de dor aguda espalhada por cada centímetro do meu corpo.
O gosto desbotado no fundo da garganta e o estranho suor eram acompanhantes dos calafrios poderosos, o pulsar calmo doía no centro do meu peito.
Tudo estava escuro para qualquer lugar que olhasse, não havia nada ao meu redor e por mais que pudesse sentir minha consciência, não tinha forças o suficiente para mantê-la. Algo estava errado, tinha de estar. Não podia me dar ao luxo da morte em um momento como aquele.
Meus olhos abriram e fecharam sem que os mandasse fazer. Corpo cansado e parado como pedra no que pensava ser uma cama, ouvidos momentaneamente tomados em ruídos e a mesma dor. Se tornando cada vez mais forte até que me fizesse duvidar da verdade. Até mesmo o real se parecia com uma grande mentira.
- "...Fox dois este é... Alguma... Câmbio." – Minha mãe falou em um sussurro distante.
Dedos se apertando novamente. Rosto franzido em esforço e com um gemido de dor ergui o braço esquerdo. Buscando algo que me tirasse da dormência e de algum modo me colocasse de pé. No entanto, o toque suave e carinhoso de pele contra minha mão trouxe a dormência de volta ao poder antes que eu pudesse abrir os olhos para encontrar quem segurava minha mão com tanto cuidado.
Minha mãe se tornou a opção mais lógica e eu apaguei, desejando ao máximo que pudesse apenas enxergar o que estava ao meu redor. Não podia ser o hospital, estava silencioso demais. Pouco menos a base, sabiam minhas ordens para aquele tipo de situação.
Em meus sonhos, o mesmo toque se repetiu por diversas vezes. Alguns beijos no topo de minha cabeça e cochichos que não podia compreender em meio ao insistente ruído. E ainda assim eu sabia exatamente quem me visitava como em todas as noites com sua doçura e carinho.
- Está tudo bem... – Clarke cochichou a minha esquerda, quase tão real quanto fazia antes. Pouco depois que acordasse de meus vários pesadelos. – Eu estou aqui com você, tudo vai ficar bem...
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EXITIUM
FanfictionUma escolha. Tudo de que precisa é uma escolha... Para um mundo mudar completamente, vidas serem perdidas e corações se quebrarem por completo. O peso do mundo de nada importa, muito menos o que custou para que chegasse até onde está pisando nesse e...