EXITIUM

Patiently Waiting

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"Mas eis a hora de partir: eu para a morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém sabe, exceto os deuses..." - Sócrates.

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As ações de uns não podem ser igualadas as de outros, muito menos justificadas por suas circunstâncias ou objetivos. O caos é o mesmo, sendo ele intencional ou não, pessoas morrem e cabe aos vivos seguirem em diante tendo uma parte de si mesmo perdida entre o mar de túmulos e lápides.

Guerra é apenas guerra. Sem escolhas entre os mortos e desejos entre os vivos, porque no final todos morremos de alguma maneira. Deixando para trás o legado que muitas vezes não podemos escolher e menos ainda nos agrada.

Eram poucos os casos que podiam ser considerados "inocentes", crianças de longe em sua maioria, mas haviam também aqueles que se negaram a batalhas. Que desistiram em pleno combate, e que enquanto as balas e explosões cortavam o vento e perfuravam o chão, eles ergueram suas armas para suas cabeças e apertaram o gatilho sem pensar duas vezes. Escolhendo a morte que os aguardava do que viver naquele inferno.

Um sentimento que ela entendia bem e que por mais de uma dezena de vezes cruzava seu peito e mente. A sensação fria da pistola não a afetava mais, nem mesmo o gosto do álcool em sua língua. Nada era capaz de combater aquela desbotada e sufocante dormência, drogas eram o que mais se aproximavam ao efeito extasiante em seu sistema sempre que sentia o calor viscoso e avermelhado e ouvia os gritos e grunhidos.

- Não me importa, Salim! Eu quero os muros fechados para qualquer que seja o louco a sair nessa guerra! - O homem exclamou ao seu empregado.

Kabir Mysore, o conselheiro do presidente indiano e responsável pela segurança de uma das maravilhas mundiais marchou pelo chão de mármore lustrado com seus mocassins cinzas. O verde fosco de sua bata e o branco creme de sua calça de algodão quebrava os tons de amarelo, azul e verde claro do solo e paredes, se misturando aos desenhos feitos a ouro e pedras preciosas daquela enorme estrutura. Anéis em tipos variados de ouro em cada dedo e um longo colar com a imagem de Krishna, sentado sobre as pernas em sua meditação.

O Taj Mahal era considerado um ponto turístico diante dos olhos do mundo, mas para ele se tratava de seu domínio. Longe do alcance de qualquer pedinte da ralé ou político estupido o suficiente para tentar comprá-lo. Quando questionado sobre a estranha possessão logo depois de sua prisão preventiva, Kabir deixou claro que a linhagem de seu sangue era a mais pura e valiosa de toda a India. Sendo assim, o único digno de pisar naquele solo sagrado.

Claro, as coisas não funcionavam daquela forma e ele acabou afastado de seu trabalho por anos, mas assim que a guerra começou e a prisão se resumiu a uma montanha de pedras ele foi rápido em tomar posse daquele terreno com seu pequeno exército de ex prisioneiros e a ajuda de seu ingênuo lacaio. "Salvo" da cadeia de mesma maneira, mas preso por uma sentença completamente diferente.

Salim tinha apenas dezesseis, era uma criança brincado entre os grandes, mas de grande valia para Kabir. Já que apenas ele conhecia como a palma de sua mão as senhas e medidas de segurança instaladas pelo governo naquele grande mausoléu. Tudo gravado em seu cérebro assim como as milhares de informações decodificadas escondidas atrás do firewall da segurança nacional.

O garoto não era tão luxuoso como seu senhor, suas roupas se resumiam a uma bata curta creme de algodão surrado. Calça em mesmo tecido em cor cinza e sapatos de couro gasto com costuras desfiadas. Peças que Kabir aprovou pessoalmente com seu ego nada inflado e nem sequer frágil no caminho até o Taj. Não usava uma joia sequer, demonstrando que sua riqueza vinha de outro e não de sua família. Que o abandonou no orfanato em seus primeiros meses de vida.