Não seria a primeira, não seria a última, mas doía de maneira descomunal toda maldita vez. Coração dolorido e acelerado em meio a arritmia de mais de uma mente que não a minha, lutando com toda a raiva, dedos trêmulos se fincando na minha própria pele. Apertando o crânio diante do ruído absurdo ao meu redor.
Tudo parecia perdido, errado e irremediável. Solidão, medo, culpa. Tudo o que eu sentia era a mais pura destruição de uma alma pesada sobre meus ombros enquanto partes da minha existência se dissipavam em uma guerra pelo controle. Me destruindo e reconstruindo por dolorosas horas, como um engenheiro destrói um projeto apenas construí-lo de maneira correta.
Meu cérebro era o projeto, eu era o engenheiro junto a tantas outras vozes. Cada uma delas lutando pela superfície, atropelando seus inimigos sem se importar com a dor descomunal de quem quer que fosse o comando. Como criaturas sedentas no fundo de um poço escuro e frio, subindo sobre os outros em meio ao sangue para alcançar a luz.
Estava exausta, fisicamente e mentalmente. Sentia como se nada que eu fizesse fosse o suficiente para impedir aquilo, como se não importasse o quanto tentasse as vozes e o legado em meu sangue sempre estariam dezenas de passos à frente, mesmo que os fantasmas tivessem partido a muito tempo atrás.
Não existe vitória sem a derrota, não existe o bem sem o mal ou o progresso sem a dificuldade. Eu sabia disso, sentia na pele o peso daquelas palavras, e por mais que doesse reconhecer todos os meses de derrotas, golpes invisíveis e uma dor latente em meu peito eu não desistiria. Não me deixaria abater, porque em algum momento aquilo pararia... Tinha de parar... Minha vida era mais do que aquilo.
Eu me recusava a apenas sobreviver. Amarga com o passado e desiludida por um futuro que ainda desejava conquistar, atacada por meu próprio corpo, derrotada pela indiferença de inimigos que existiam apenas em minha mente em todo seu destrutivo poder. Não importava o quanto doesse, qual o preço que devesse ser pago eu continuaria ali. De pé, lutando.
As vozes ainda estavam presentes, muito mais altas do que tudo o que a cela pudesse me causar. Ardendo em meu cérebro, eletrificando a ponta dos meus dedos e língua enquanto o formigamento inundava meu rosto. Tirando meu ar e revirando meu estômago.
- MAIS ALTO!! – Exclamei pela quinta vez.
- "Impossível realizar a ação. Níveis máximos de contenção atingidos." – O homem respondeu.
- NÃO IMPORTA! – Rebati com ódio explodindo na garganta.
- "Confirmação de violação das normas de segurança requisita." – Ele se fez ouvir com sua irritante e calma voz. – "Por favor, informe sua-"
- Alexandria Woods, quinta Heda. Neta de Marry, fundadora dos Grounders! Ignorar medidas de segurança! – Lhe interrompi com dor escorrendo dos olhos.
- "Autorização registrada. Iniciando protocolo Ômega." – Alertou.
O ruído grave oscilou para um tom estridente e metálico, subindo a um agudo e perfurante caos em minhas orelhas. Meus olhos se apertaram com força, meus dedos se fincaram ainda mais na pele e o desconforto em meu estômago foi engolido pela dor profunda em meu cérebro. As vozes desapareceram completamente, não haviam mais pensamentos ou qualquer outra informação registrada em minha consciência que não a dor profunda e angustiante antes que meus músculos adormecessem. Corpo caindo para a direita, testa roçando contra a parede e o frio em minha garganta subindo mais e mais. Alcançando meu rosto até que eu finalmente perdesse o pouco de consciência que me restava e tudo ficasse completamente escuro.
A anos atrás eu passaria pelo mesmo em uma cela suja e fria coberta por meu sangue e o de outros, largada ao relento e perdida em minha própria existência. Uma medida de segurança para que pudessem me locomover entre os corredores do manicômio sem destroçar a garganta de alguns guardas como costumava fazer de tempos em tempos.
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EXITIUM
FanfictionUma escolha. Tudo de que precisa é uma escolha... Para um mundo mudar completamente, vidas serem perdidas e corações se quebrarem por completo. O peso do mundo de nada importa, muito menos o que custou para que chegasse até onde está pisando nesse e...