Say It

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    Lá está eu, presa naquele sofá mais uma vez. Diferente de momentos atrás, não eram os encantos de Clarke que me mantinham naquele acolchoado. Agora era o mais simples e irritantemente imparável cansaço, pesando em minhas pernas o suficiente para que não pudesse ficar de pé por minha conta.

    Waverly recebeu a ajuda de Dolls no caminho de dentro e o restante do esquadrão veio atrás. Passando pela porta como balas apenas para me encontrar no sofá. Sentada como um bêbado que sequer pode se mantar parado, em seus últimos minutos de consciência.

    - Eu vou pegar a maleta. – Waverly comunicou, caminhando em direção aos degraus apressadamente.

    - Jane, eu preciso do antídoto. – Jeremy pediu, se voltando para ruiva um tanto incomodada com minha expressão derrotada para a parede.

    Ela levou a mão ao colete, desprendeu o botão na entrada do bolso e puxou para fora um compartimento de pano. Oferecendo para o rapaz, que o colocou sobre a mesa de centro e abriu com cuidado. Uma porção de ampolas surgiram entre as alças escuras e uma seringa pequena, ainda sem sua agulha, foi retirada da base de couro.

    - Isso já aconteceu antes? – A voz embargada de Clarke me fez virar o rosto na direção contrária à sua presença, no canto direito de minha visão.

    - Mais vezes do que eu gostaria. – Minha mãe respondeu com um murmúrio.

    - Okay, isso vai ser rápido. Mas vai doer... – Jeremy alertou, aproximando a seringa de meu braço direito. – Muito.

    - Maravilha. – Respondi sem animação alguma.

    A conhecida pontada veio mais uma vez, observei o metal gelado penetrar a pele e o líquido incolor ser injetado em minhas veias. O toque gelado abaixo da pele se espalhando mais e mais, até que algo como uma lâmina acelerasse em uma linha reta em direção a meu ombro. Queimando em uma chama fria para alcançar a lateral do meu tórax e se espalhar para todo o corpo.

    Meus músculos tensionaram, o frio alcançou meu pescoço e minha coluna pendeu para frente. Uma respiração rouca e o princípio de vomito se misturando ao tossir desesperado de quem parecia ter engolido ácido. Ardendo na garganta e me impedindo de respirar.

    - Isso é normal? – Indra se fez ouvir, trocando o peso entre os pés.

    - É uma das etapas. – Jeremy respondeu. – Não vai durar muito, só alguns segundos.

    A dor apenas aumentava, fechei meus olhos impedindo que lágrimas escorressem e senti o toque de Baioneta em minha perna esquerda. Tentando ao máximo me confortar enquanto um grunhido baixo e curto ocupava o silêncio. Tudo ficou ainda pior quando todas as pontas frias espalhadas pela pele se voltaram para a fonte do veneno.

    Eu podia jurar que alguém havia enfiado outro punhal em minha carne, com o dobro de seu tamanho, quente e sem medir forças. Girando a lâmina dentro da mais nova abertura e a retirando apenas para me acertar novamente.

    Minha coluna pendeu para frente outra vez, meus dentes serram e minha mão direita apertou a ferida com a ponta dos dedos. Respirar apenas piorava aquela horrível sensação, e quando pensei que fosse perder a consciência a dor simplesmente desapareceu. Deixando o alívio profundo que me fez pesar as costas contra o descanso do sofá.

    - Deus, já estava doendo em mim. – Wynonna assoprou em desconforto.

    - Quantas vezes vou ter que usar isso? – Perguntei, ainda evitando os olhares ao meu redor.

    - Ahn... Essa foi a primeira de oito ampolas, então...

    Minha nuca bateu no sofá e meus olhos piscaram para o teto algumas vezes, a estranha sensação de ardor em minha garganta diminuindo lentamente. Passos apressados na escada se fizeram ouvir e Waverly voltou ao grupo, quase tão ofegante quanto eu.

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