Blink Twice

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    O suspiro que escapou da minha garganta não era nem um pouco parecido com alívio, as alças das últimas duas bolsas de roupas caíram no chão de madeira ao lado do sofá e minhas mãos seguraram minha cintura. Olhos evitando o solo para me voltar em direção a janela, caminhando com certa insegurança ao cruzar os braços. O roçar gelado em minhas costas parecia congelar meu peito.

    Eu não podia afastar a sensação em meu peito. O medo de que o que vivia não passasse da minha própria imaginação de que talvez eu estivesse mesmo morta e que aquele momento fosse meu pequeno paraíso. Da mesma maneira que Clarke e eu havíamos conversado.

    Confusão e ansiedade me definiam, eu estava dividida. Aliviada por não estar naquela horrível situação e aterrorizada pela possibilidade de uma mentira. Como eu poderia acreditar em minha própria mente quando a única certeza é que havia mesmo enlouquecido?

    Os outros não levariam muito para chegar, aparentemente já estavam a caminho antes mesmo que pedíssemos pela extração. Algo que minha mãe não quis entrar em detalhes até que estivéssemos cara a cara.

    - Okay, essa é a última. – A voz de Clarke me tirou um pequeno acelerar no centro do peito e eu me virei. A observando colocar a mochila com mantimentos na mesa, Baioneta sentada na poltrona com sua conhecida casualidade recebeu um sorriso da loira antes que ela se virasse para as bolsas restantes. – Pegou todas? – Ajeitou a camiseta sobre a arma atrás de suas costas.

    Assenti e me voltei para a bagagem com um suspiro, meu coração acelerando ainda mais ao encontrar o cabo da pistola escapando do tecido. A sensação da bala em meu abdômen tão real que eu ainda podia sentir a pontada e a conhecida fraqueza, Clarke observou meu rosto e eu abaixei os olhos para o chão. Me arrependendo no mesmo instante e encarando a janela mais uma vez.

    Procurei por qualquer possível intruso que viesse da floresta, como eu pensava que havia acontecido antes. Músculos tensos em uma batalha que sequer havia começado e talvez não fosse acontecer, reflexos e sentidos aguçados demais para um momento como aquele. Toda a fibra no meu corpo gritava.

    Dedos deslizaram por minha cintura, uma das mãos serpentando para dentro da camisa enquanto os dois olhos azuis me observavam com um brilho preocupado. Pisquei e em apenas um flash o rosto triste surgiu a minha frente, meu coração gelando no peito. Meu braço esquerdo se colocou ao redor de seu pescoço e meus dentes se prensaram em ansiedade.

    - Você está bem... – Ela garantiu, descansando o rosto na curva do meu pescoço. – Ninguém entrou na cabana. Estamos a salvo...

    Respirei fundo, apertando seu corpo contra o meu. O cheiro do seu perfume, condicionador e o calor humano desaparecendo completamente enquanto o disparo se fazia presente outra vez, me fazendo tremer em antecipação pela dor e me afastar rapidamente. Encarando meu abdômen na procura do ferimento.

    Clarke partiu os lábios procurando algo para dizer, eu engoli em seco. Podia jurar que sentia sangue escorrendo por minha pele, mas não havia nada. Era tudo parte da minha imaginação e suas memórias, que já não sabia mais se eram reais ou não.

    O olhar dolorido que recebi de minha noiva colocou um nó em minha garganta, me apressei em tentar me desculpar pela maneira como me afastei, mas não tive tempo.

    - Está tudo bem. – Ela me interrompeu. – Eu também estaria um tanto confusa se fosse comigo... – Sorriu, mas não da maneira que eu tanto amava.

    - Clarke-

    - Sem desculpas, Lexa. – Ela me interrompeu. – Você não fez nada errado.

    Parti os lábios e tudo o que ela fez foi arquear as sobrancelhas suavemente, tentei mais uma vez e ela repetiu o gesto com mais intensidade. Me fazendo respirar fundo em um princípio de impaciência que a tirou um sorriso mais verdadeiro do que anterior.

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