Not A Bad Verdict

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    Eu não dormi. Fechar meus olhos era um convite para as vozes em minha cabeça e mantê-los abertos simplesmente não me impediria de sair por aquela porta em uma estranha marcha sonolenta para me encontrar no andar de baixo ou do lado de fora algumas horas depois. Mais uma vez não havia algo certo a se fazer quando o medo de duas possíveis ocasiões me petrificava por dentro.

    Não sentia tanta dor quanto antes, e ainda assim meu corpo estava cansado demais para que eu pudesse sair daquele quarto tão cedo. O banho quente que tomei não passou perto de ser o que precisava para me aquecer, foi estranho encontrar energia no chuveiro quando toda a cabana era mantida a base de velas. Talvez os outros tenham usado de um gerador, em algum lugar daquela propriedade.

    Descer as escadas estava fora de cogitação. Clarke estava dormindo no sofá e mesmo que me sentisse horrível por tê-la tratado daquela maneira não queria atormentar seu sono ou tirar seu descaço. Apenas uma mulher exausta naquela casa já era o suficiente.

    Com o tempo, eu perdi as forças e finalmente mergulhei em minha mente com pálpebras pesadas, respiração profunda e corpo suavemente relaxado. Pelos ainda levantados sob o grosso cobertor e arrepios se multiplicando entre o bater de dentes que me acordou alguns momentos pela noite até que finalmente apagasse completamente.

    A mesma voz da noite passada me fez abrir olhos com desespero e respiração apressada, meus dedos apertaram o tecido da cama e minha coluna se levantou em meio a dor. Grunhi com dentes serrados, me puxei para descansar as costas na parede com testa suada e cabelos levemente úmidos.

    Insultei o ar, tirei o cobertor de cima do corpo e me voltei para a fresta da janela ao lado. A escuridão agora era preenchida por uma porção de faixas de luz suave e esbranquiçada em meio ao dia. Bati a cabeça contra a parede, me castigando por ter adormecido e com uma pontada dolorida levei os pés para o chão na lateral da cama.

    Meus pés ainda estavam gelados e suavemente doloridos, as pontas dos meus dedos estavam um tanto brancas e meus lábios ardiam. Bufei, me colocando de pé para procurar algo para calçar pelos cantos do quarto enquanto caminhava em direção a penteadeira e suas inexploradas gavetas.

    Sacudi a cabeça, reconhecendo minhas próprias roupas dobradas e guardadas cuidadosamente nos compartimentos de madeira. Calças, camisetas, peças intimas e qualquer coisa que pudesse estar em meu antigo armário. Até mesmo as jaquetas e minha pistola, colocada cuidadosamente descarregada entre as camisetas escuras, três cartuchos a sua esquerda e minha faca a direita.

    Suspirei, agarrando a primeira camiseta preta dentre as várias, me voltei para a gaveta de baixo para escolher uma calça jeans, peças intimas e meias. Dei as costas e caminhei para o banheiro com a mão sobre meu ferimento. As peças de roupa foram colocadas sobre o pequeno gabinete e meus olhos finalmente tiveram coragem de encarar meu reflexo por mais de um segundo.

    Engoli em seco, pisquei e em derrota tirei a camiseta devagar. Me voltando para o espelho apenas para encontrar o dobro de linhas escuras da última vez que observei aquela área, virei para a direita, observando mais facilmente os mesmos traços ao redor do curativo.

    Abri as gavetas aleatoriamente, buscando um dos vários pequenos kits de primeiros socorros que sabia que Clarke havia espalhado por todos os lados daquela cabana da mesma maneira que fazia em nosso apartamento. Minha mão se manteve na pequena maçaneta amarelada e meus olhos pararam sobre o par de compartimentos. Um deles em plástico branco era justamente o que eu procurava, o outro era algo que não sabia o que esperar.

    Pisquei, deixando de encarar a maleta de alumínio para retirar o kit da gaveta. Endireitei a coluna com um longo suspiro e prensei os lábios, me voltando para curativo mais uma vez apenas para puxar a ponta do adesivo lentamente.

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