EXITIUM

Past That's Yet To Come - Parte 2

    A guerra.

    Um encontro catastrófico de explosões momentâneas entre ideais, estilhaços de crenças e balas de discórdia destroçando o próprio ódio para levar ao chão corpos já sem pensamentos. Paralisando vontades, interrompendo crenças e drenando vitalidade por uma ferida recém-aberta impossível de se fechar, até mesmo com o tempo.

    Erros serão remediados no futuro, mas as consequências serão sempre guiadas no passado. Uma fagulha de um simples fósforo é tão poderosa quanto a grande chama tomando prédios, casas... Lares. Largados as cinzas de uma história já contada, que mesmo que seja escrita novamente ou erguida com novos tijolos, o próprio solo se lembrará dos desastres já acontecidos e carregará marcas do toque impuro da humanidade para a eternidade.

    Vaso ruim não quebra, eles dizem. Mas ninguém nunca parou para pensar o quão triste isso é na realidade. O quão digno de pena é uma estrutura tão pequena quanto essa não ser capaz de fazer algo tão simples. Estando presa as suas cicatrizes, presa ao seu passado com o mesmo monótono futuro diante dos olhos.

    Sempre acumulando mais rachaduras e arranhões, nunca conhecendo o fim de verdade. Isso é a guerra. Um compilado de cicatrizes em uma porção de vasos ruins que a muito deveriam ter se partido em dezenas de pedaços, mas ainda estavam ali. Perdidos em meio a cicatrizes, buscando na escuridão das nuvens de fumaça e chuva de cinzas negras.

    A grande resposta, que ao mesmo tempo que nos assusta é a única que pode trazer sentido a cada bala, a cada morte, a cada grito de dor, cada família desabrigada e inocente largado em uma poça de seu próprio sangue. Tão quente quanto o destino que nos aguarda depois de um julgamento já premeditado.

    Valia a pena? Tudo aquilo valia mesmo a pena?

    Eu pensava saber a resposta. Se me questionassem a dias atrás eu não só diria com todo o orgulho de que tudo aquilo era necessário, mas agora só o que restava era mais perguntas. Vergonha de minhas ações, vergonha de meu passado e vergonha da minha própria imagem. Eu ainda estava disposta a lutar, me agarrando a o que conhecia com o restante de minha vontade, mas já não sabia se ainda era necessário.

    Um guerreiro fora de sua guerra, preso a uma época que não a sua. Não passava de cinzas sobre o chão queimado e infértil. Não tinha um propósito. E assistir a aquilo diante de meu rosto era o suficiente para me fazer duvidar da realidade.

    - Jane, olhe para mim. – Ordenei, me remexendo sobre a cadeira. Punhos presos sob tiras de couro, tornozelos firmes nas pernas da grande madeira sobre a plataforma de metal, uma tira grossa apertando minha garganta como uma coleira e o capacete tomado de fios no topo de minha cabeça. – Jane! – Exclamei.

    Nada chamava sua atenção. A ruiva apenas digitava no teclado logo à frente do painel de controle completamente enferrujado. As telas piscavam entre tons de azul e verde, dígitos rapidamente surgindo em longas linhas de símbolos e números misturados a códigos que não conhecia. Logo ao lado de sua mão direita uma pistola escura, que eu sabia muito bem a quem pertencia, aguardava seu uso.

    - ONDE ELA ESTÁ?! – Exclamei, tentando livrar meus punhos.

    O cômodo em que estávamos era frio e úmido, o chão tinha raízes grossas misturadas a cabos e tubos que escapavam dos motores no canto escuro a minha esquerda. Diante de mim quatro jaulas de barras grossas, uma delas, a mais escura e logo ao lado dos geradores, tinha o chão banhado em sangue vermelho. O mesmo sangue que sujava minhas roupas e pingava de meus lábios quando finalmente retomei o controle.

    A última coisa de que me lembrava antes de estar ali era a floresta, minha mãe completamente fora de si. Meu coração acelerou e eu gritei por qualquer um que pudesse me ouvir, rezando para que a terrível maneira com que as peças se encaixavam estivesse errada.