Rose Of Thorns

246 10 29
                                    

Pneus em peso sobre o asfalto, ronco do motor ecoando pela rua enquanto o volante se movia com a leveza de uma pena entre meus dedos. Até mesmo o CD que havia deixado dentro do leitor ainda funcionava, e mesmo que tinha certeza que precisaria checar o motor, gasolina e avaliar toda peça do lado de dentro do capô, amortecedores e ligamentos, não havia nada no mundo que pudesse me tirar a felicidade daquele momento.

T.N.T do AC/DC era de longe a melhor trilha sonora para meu reencontro com essa perfeição.

A paisagem pacífica de Polis aos poucos se moldava diante de nossos olhos. O verde parecia mais verde, o azul era vivo como nunca havia visto e o tom amarelado do sol sobre nossas cabeças trazia felicidade e harmonia a uma cidade que a alguns meses era o retrato do caos em toda sua potência.

Meu sorriso não desaparecia, a cada rosto e aceno do lado de fora da janela. Velhos amigos como Tedd O'Malley, o dono do pub que passei longas noites antes do desastroso baile, era um dos vários que mereciam muito mais do que apenas uma rápida buzinada. Era bom ver que aquela barba digna de um dos Discípulos e bandana ainda estavam como antes, mesmo que o rosto havia ganhado uma cicatriz graças a um estilhaço de granada.

Jake estava tão confortável no novo ambiente tomado em buracos nas paredes e velas apagadas sobre as mesas riscadas muito antes do ataque que se permitiu desfrutar de uma garrafa de whisky recém-aberta por meu velho amigo. Conversando por quase duas horas no balcão enquanto Tedd repetia o já automático costume de limpar o balcão e lustrar copos.

O Capitão chegou a gargalhar quando a história do início de nossa amizade entrou em pauta. O'Malley fez questão de dizer que estava certo sobre a dosagem e que o fato de termos explodido o frasco da sala de ciência era completamente minha falta. Eu não recusei, estava ocupada demais sendo alvo de olhares incrédulos quando deixei claro que aquela foi a única nota vermelha em meu histórico.

Depois de mais alguns minutos de conversa, Baioneta ganhou um lenço preto estampado com pequenos ossos em traços brancos. Quase levou Tedd ao chão em agradecimento e aquela foi a nossa deixa para continuarmos o passeio sem destino, mas apenas depois de prometer que lhe visitaríamos outra vez junto a Clarke.

E lá estávamos nós mais uma vez, no meu lindo, perfeito e imponente Mustang. Ah, mas que carro...

Eu fiz meu caminho pela avenida principal, passando pelo retorno da mesma avenida em que persegui Murphy anos atrás e virei à direita. Pacientemente esperando um dos grandes caminhões pipa abastecer o posto de gasolina antes de seguir em frente e virar mais uma vez. Encontrando a praça central, que tinha a grama podada por um grupo de voluntários. Um deles até mesmo cantava com a grande tesoura na mão.

- Aqui votaram para seu comando... - Jake comentou ao encarar o centro verde a nossa esquerda. Enquanto o Mustang virara na pista a direita, buzinando em um rápido cumprimento para as duas crianças sorridentes para meu rosto.

- Foi aqui que tudo mudou. - Assenti com um sorriso, virando à direita para encontrar uma pilha de pedras que antes formavam uma grande sorveteria. A mesma que costumava frequentar com meu pai.

Enquanto meus pensamentos e memórias colocavam uma sensação morna e suavemente dolorida em meu peito, o rádio de Jake chamou por atenção sobre o painel do Mustang. Meus olhos finalmente abandonaram o que restou da fachada colorida além do para brisas e se voltaram para o aparelho escuro sob a luz do sol.

- "Peixe Dourado este é Baleia Azul. Na escuta?" - Arian questionou e eu franzi o cenho.

- Ele tem mudado os codinomes quase todo dia, para evitar problemas com um possível infiltrado. - Jake suspirou ao alcançar o aparelho e lhe aproximar da boca. - Peixe Dourado está ouvindo em alto e bom som, Baleia Azul. Prossiga, Câmbio.

EXITIUMOnde histórias criam vida. Descubra agora