Capítulo 3 • It's okay not to be okay

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POV Lauren Jauregui

Eu sempre me encaixei no clube de pessoas diferente. Diferente mesmo - tão diferente que nem eu mesma conseguia me identificar com algum padrão -. Eu não era uma garota com TOC como as outras, era uma garota com TOC que gostava de ter adquirido tal distúrbio. É claro, eu não amava ficar com o meu corpo suando, trêmulo e fraco, devido a uma ansiedade intensa que se dava por conta dos meus pensamentos compulsivos sobre estar sendo infectada por uma colônia de bactérias, que iriam me matar. Muito menos gostava de vez ou outra ficar internada em um hospital, por estar em um estado tão lamentável, sem a existência de um fio de sanidade. Eu obviamente odiava perder oportunidades por estar pensando compulsivamente em como aquilo poderia dar errado. Mas eu amava como ter TOC me tornou quem eu sou hoje. Eu poderia ser qualquer uma das milhares de personalidades e estilos que haviam por ai, mas obstáculos me fizeram ser quem eu sou hoje. As vezes, minha mente se esquecia disso, esquecia de quem eu realmente era. Mas, mais uma vez, seria a compulsão e não eu.

Existe uma diferença catastrófica entre Lauren Jauregui e a compulsão que mora dentro de Lauren Jauregui. Lauren, como um todo, sou eu. São meus gostos, meus ideais, minhas paixões, minha essência. E a compulsão de Lauren Jauregui é um mal - ainda sim, que fez uma única coisa boa - que me fazia acreditar no oposto do que eu realmente era. Eu perdia a cabeça, pensava que tudo estaria acabo, inclusive a minha vida. Uma única palavra se tornava um ímã que atraia cada vez mais e mais pensamentos negativos, me destruíam por dentro aos poucos, como a orthopoxvirus, que se alimenta de você aos poucos, sugando tudo até que a sua vida seja levada embora, restando apenas um corpo que um dia já hábitou uma alma.

Andava pelos corredores do meu bloco, com o cabelo bagunçado e os olhos murchos por ter acabado de acordar. Xinguei tudo que podia mentalmente, irritada pelo fato de; A) acordar relativamente cedo. E B) andar até o banheiro e enfrentar o mesmo lotado. Não era a primeira vez que aqueles pensamentos invadiam minha mente e com certeza não seria a última vez. Ainda tenho muito tempo aqui.

Nesses momentos, gostaria de dividir quarto com uma das meninas. Dinah ficava com Mani, Ally ficava com Camila e eu.. estava com uma garota que... bem, possuía uma história complicada comigo. Já fomos algo um dia, mas hoje tudo que me resta são as vagas lembranças de portas se batendo, olhos inchaços de tanto chorar e noites em claro bebendo cerveja barata para suprir o sofrimento. Caso eu estivesse com uma das garotas, minhas manhãs seriam levadas com muito mais facilidade.

Ao chegar no banheiro, me surpreendi em achar algumas cabines para ainda banho vazias. Esse lugar costumava ser como o inferno ano passado. Acomodei meus itens nos ganchos que ali haviam. Despi-me completamente e entrei embaixo do chuveiro. Meus dedos tocaram o registro de água, abrindo o mesmo para que uma chuva de água fresca caisse sobre a minha cabeça. Junto com as impurezas de minha pele, foram embora também o estresse matinal que eu estava sentido.

Banhos, chuvas e tudo relacionado a água possuíam um poder incrível sobre a minha mente. Algo que eu nunca irei entender, mas que amo.

Em minha bandeija para o café da manhã podia-se encontrar uma maçã, um copo de suco de laranja e uma barrinha de proteínas já pela metade. Uma curiosidade sobre a minha alimentação é que eu parei de ingerir alimentos de origem animal desde os meus cinco anos, quando tive uma crise de pensamentos compulsivos de como aquilo havia parado em meu prato e tudo de ruim que poderia acontecer comigo caso eu comesse. Fora a primeira crise. Eu fiquei tão desesperada que precisei ser levada ao hospital clínico, onde me deram além de proteínas nas veias - eu não comia a dias - me deram também o meu primeiro acompanhamento com um psiquiatra.

Me lembro como se fosse ontem do desespero da minha mãe, a preocupação evidente em seus olhos de que eu talvez nunca tivesse uma vida normal.

Dinah e Normani já estavam a mesa, conversando entusiasmadamente sobre algo que não fiz questão de identificar. Elas atacavam suas panquecas com ovos mechidos, me levando a ter um grande calafrio.

The CampOnde histórias criam vida. Descubra agora