Capítulo 9 • Give me some morphine

2.1K 177 138
                                    

POV Camila Cabello

É engraçado imaginar como você pode mudar completamente o rumo da sua vida com apenas uma decisão. Existem diversas e diversas opções que você poderia ter tomado, mas  apenas uma te leva ao momento atual de sua vida. Em um momento você pode estar perdida e em outro pode se sentir incrivelmente completa. Você pode decidir entre fazer birra e não ir ao acampamento de verão em que seu médico te recomendou diversas vezes, continuar na mesma vida monótona e muitas vezes mais difícil do que deveria, ou pode aceitar facilmente ir e mudar a sua vida de uma vez para todas.

Caso eu escolhesse cegamente o meu destino de forma diferente, eu jamais estaria onde estou hoje, nunca teria descobrido o que agora me faz ter um motivo a mais para continuar:

Amizade; ter alguém a mais na sua vida que não seja a si mesma, alguém que possa conhecer seus medos e insegurança, alguém que esteja verdadeiramente ali para você idependente da ocasião. Amor; um misto de amizade, paciência, mãos frias e corações acelerados. É sobre estar com a pessoa e gostar de te-la, cuidar e proteger, gostar dos erros e das imperfeições. É dor e alegria, escuro e o claro, frio e o calor. Não é sobre quantos "eu te amos" você consegue dizer, quantas flores você consegue comprar ou quantas jóias você pode presentear. Trata-se de dar um pedaço de si, se fazer presente e nunca desistir. Muito mais do que presentes materiais, amor define-se por tudo que você tem dentro de si.

O destino a qual escrevi me fez entender que ter esquizofrenia, TOC, ansiedade ou depressão não é uma condenação de morte ou de uma vida horrível, é apenas um obstáculo a mais dentre dos diversos que a vida nos dá. Como em um vídeo-game, onde algumas fases são mais difíceis que outras para alguns jogadores.

Cruzar minhas fronteiras, ignorar os meus medos mais obscuros e tentar foi o que cada vez me tornou mais forte. Nascer com um distúrbio, ou adquirir o mesmo ao passar dos anos, é de longe um problema. Problema seria se considerar mais fracos que os outros, não se tratar e não se ajudar. Quando você faz de tudo para conseguir alcançar o seus objetivos, eles se tornam cada vez mais acessíveis. Eu estou a caminho do meu; me manter feliz e bem na medida do possível, sem fraquejar e sem sentir medo. Claro, não somos perfeitos, erramos, fraquejamos, perdemos tudo. Mas não tentar de novo é a verdadeira chave para perder quem você realmente é, sua essência e tudo que você poderia ter feito em seu pequeno tempo na terra.

Meus olhos castanhos prendiam-se a água cristalina do lago recém descoberto, enquanto meus braços abraçavam minhas pernas contra o meu abdômen.

Como em um flashback rápido e invasivo, um pequeno filme se passou por minha cabeça enquanto imaginava toda a minha história antes da mudança acontecer. Todos os amigos que não tive, todas as vezes que eu achava ser o erro. As noites passadas lentamente em claro, as incontáveis vezes em que fui diminuída pelos alunos da minha atual escola, culpa é claro, de ser uma esquizofrênica maluca. Todas as vezes que tive uma crise no meio de tantos outros jovens, que optaram por dar risadas e  fazer comentários maldosos ao invés de me ajudar com o que mais precisava; um abraço, uma única palavra amiga. Se eu tentasse contar todas as vezes que me exporam em redes sociais, deixaram de fazer trabalhos escolares comigo ou simples sentiram medo, eu demoraria anos para finalizar o cálculo. Talvez o pior de todas essas situações não se passaram com desconhecidos, mas com as próprias pessoas que partilham meu sangue. Familiares distantes, vez ou outra até mesmo minha irmãzinha Sofi, sentiam medo de qualquer aproximação comigo.

Em minhas bochechas, algumas lágrimas tratavam de correr tão rapidamente quanto a dor que se hospedou de forma rápida em meu peito. Meus lábios - também molhados por lágrimas - se entreabriam um pouco, dando assim vasão para o ar que meu corpo não conseguia captar com o nariz.  Fechei os olhos, sentindo como as lágrimas acumuladas correram mais rápido com o ato.

The CampOnde histórias criam vida. Descubra agora