Viane.

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Entrei na rua sentindo minhas pernas tremerem, Duda estava certa eu tinha que ir lá e falar com ele, pedir desculpas por ter sido uma idiota e depois voltar para casa sem aquele fardo.

Eu não precisava temer por aquilo já que Guto era um amor de pessoa e não me trataria mal, quer dizer... Depois da forma que eu o havia tratado eu já não tinha certeza, mas preferia acreditar na primeira opção.

Logo na esquina eu vi Guto afinando seu violão sentado na varanda de casa, sua cabeça estava baixa ele parecia bastante concentrado.
Ver ele fez toda a minha coragem ir embora, eu só conseguia lembrar da maneira que havia tratado ele:

"Você vai me ajudar quando cuidar da própria vida."

Como eu era idiota..
Dei um suspiro aflita e continuei pedalando, conclui que não conseguiria conversar com ele.
Então olhei uma última vez, o mesmo usava uma regata exibindo seus pequenos músculos e um calção de seda, era estranho vê-lo daquele jeito, já que eu só via ele de uniforme.

Assim que me voltei para a rua vi o caminhão de lixo parado, minha bicicleta não tinha freio então eu teria que desviar se não quisesse cair dentro do lixo, fiz uma manobra muito rápida e acabei batendo na lateral do caminhão e caindo no meio da rua.

— AAaii! – gritei.

Os funcionários foram em minha direção e me ajudaram a levantar, eu tinha cortado o joelho e meu cotovelo.

— Obrigada. – falei.

Outro funcionário levantou minha bicicleta, eu já estava quase subindo novamente em minha bicicleta e fugindo daquela situação quando ouvi uma voz atrás de mim:

— Viane? – perguntou Guto. — Você tá bem?

Olhei para ele envergonhada e deixei a bicicleta cair novamente, engoli em seco e me abaixei para levanta-lá.

— Vem co.. comigo. – disse ele.

Segui o mesmo sentindo que iria desmaiar de vergonha, mas poderia ter sido pior, eu poderia ter caído dentro do caminhão.

— Você tá bem mesmo? – perguntou assim que me sentei em um dos degraus de sua varanda.

— Tô sim, é que eu sou meio cega e não enxerguei aquele caminhão enorme. – respondi evitando contato visual.

Ele sorriu.

— Eu entendo bem. – respondeu ajeitando o óculos.

Eu queria inventar alguma desculpa e sair pedalando até chegar em casa, mas eu já estava lá, então eu precisava ir até o fim.

— Vem entra, eu posso fazer um curativo se você quiser. – disse me ajudando a levantar.

Entramos em sua casa e eu percorri meus olhos curiosos, a casa era pequena, com os cômodos principais, sala, cozinha, banheiro e dois quartos que pareciam pequenos.
A cozinha era minúscula, possuía fogão, geladeira, uma mesa pequena e um armário de parede que ficavam espremidos.

Guto puxou uma cadeira para mim, me deu um copo com água e pegou um quit de primeiros socorros encima da geladeira, ele se abaixou limpou o corte e colocou a bandana.
Eu estava sentindo meu rosto queimar e minha vergonha aumentava cada vez mais, Guto ali ajoelhado cuidado dos meus ferimentos me dava certo constrangimento.

— Eu queria falar com você.

Ele arqueou a sobrancelha e disse:

— É mesmo? Antes ou depois de passar da minha casa.

Dei um sorriso nervoso e continuei:

— Eu admito pensei em fugir, mas agora que eu já tô aqui queria te pedir desculpas, eu realmente entendo que você só tentou me defender e agradeço.

Ele balançou a cabeça.

— Tudo bem, mas eu ainda acho aquele cara um idiota.

Suspirei.

— Você não precisa gostar dele, e também ele não é daquele jeito acho que ele só estava chateado.

— Desculpa a pergunta, mas vocês estão namorando ou alguma coisa assim?

— Na, não sei.. quer dizer não! – respondi confusa.

Ele revirou os olhos e comprimiu lábios, parecia querer falar algo, mas se controlou no mesmo segundo.

— O que foi?

Ele molhou os lábios e disse:

— Só acho que se ele te trata assim, antes de namorarem..

— Nem termina essa frase. – falei o interrompendo. — Vai por mim se você conhecer ele bem vai ver como ele é legal.

Ele deu de ombros.

— E antes que eu me esqueça obrigada pela ajuda, você é bom.. – falei olhando para o curativo.

Ele deu um sorriso tímido e se levantou, Guto sentou do meu lado e disse:

— Meu pai me ensinou, ele era enfermeiro, me deu umas dicas de primeiros socorros também.

Olhei para ele animada.

— Ele tá trabalhando agora?

— Não.. morreu faz quatro anos. – disse e depois desviou o olhar.

Senti todo meu corpo gelar e minha garganta fechar, olhei para Guto e lhe dei um sorriso triste, eu não sabia o que dizer então tive que me contentar com um "Sinto muito".

— Sem problema, eu tenho minha mãe.. ela tá trabalhando agora, tem também o Devid meu irmão. – ele sorriu. — Acho que você vai gostar dele, tem cinco anos.

— Onde ele tá?

— Na outra rua, na casa da minha avó.

Assenti.

Poderia ser maldade da minha parte, mas eu me sentia tentada a perguntar mais sobre seu pai ou sua família, eu e minha curiosidade.
Observei a cozinha novamente e vi um porta retrato encima da geladeira, onde estava a família de Guto, o homem no qual eu deduzi ser seu pai era bonito, alto e forte, as expressões de seu rosto eram serenas e bem desenhadas, tinha os cabelos negros e ondulados e também usava óculos, Guto era uma cópia fiel dele.

— A gente tirou essa foto um ano antes do acidente. – disse ele seguindo meu olhar.

Concordei.

— Você se parece com ele.

— Eu também acho, eu e todo mundo da família.

Sorri.

— Você trabalha muito na lanchonete pra ajudar sua mão não é? Você quase não tira folga.

Ele concordou.

— Não da pra mim deixar ela fazer tudo, as coisas ficam difíceis e só um salário não dá pra muita coisa.

Eu não imaginava que Guto poderia ter uma vida difícil, mesmo sendo reservado o mesmo nunca parecia de mal humor ou coisa do tipo.
Ele parecia tão determinado e forte para mim naquele momento, eu queria dizer como o admirava, mas não sabia como o mesmo entenderia aquilo.

Como Arrumar Um Namorado Em 17 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora