Como Arrumar Um Namorado Em 17 Dias

Viane.

Henrique guardou o celular assim que o lanche chegou, o que pra mim resultou em alguns minutos olhando para o nada e calada.

Eu estava chateada, não sabia se dava para notar, mas eu sabia que não conseguia esconder meus sentimentos, então se Henrique não percebesse era porque não me conhecia nenhum pouco.

— O lanche de vocês. – disse o garçom nos servindo e logo depois saiu.

Evitei qualquer tipo de contato visual com Henrique, não queria deixar na cara a minha insatisfação com o mesmo.

— Tudo bem?

Não.

— Sim, por que? – perguntei sem levantar o olhar.

— Por nada.

Por nada?

Henrique começou a comer e eu também, ficamos alguns minutos calados até ele quebrar o silêncio, o que de certa forma me animou.

— É muito bom estar com você, queria ter te conhecido antes. – disse o mesmo.

Olhei intrigada.

— Qual o problema de conhecer agora?

— Nada. – ele riu. — Não tem problema, é que eu não sei.. quando conheço alguém legal, fico me perguntando porque não conheci antes pra ter aproveitado mais.

Dei um sorriso ao mesmo.

— A gente ainda tem tempo pra aproveitar.

— Temos mesmo. – falou ele tocando minha mão.

Era em momentos como aquele que eu entendia o que tinha visto nele, quando ele falava coisas fofas e me tratava bem.
O problema era que esse mesmo Henrique que era um amor, também era o mesmo que era estúpido e vivia seguindo minha prima e não parecia se importa com seus escândalos e humilhações.

— Eu não quero que mais nada atrapalhe a gente, então vou falar com sua prima, pra ela larga do seu pé.

Meu coração quase saltava pela boca.

— É sério? Não precisa fazer isso, mas se fizer, eu vou ficar feliz. – respondi animada.

Henrique estava conseguindo reverter os acontecimentos anteriores e voltando a ser uma pessoa agradável novamente.
Não que eu precise que ele me defendesse, mas pequenos atos como aquele me arrancavam suspiros.

— Eu vou sim, amanhã mesmo. Quero que ela te peça desculpas também. – ele me olhou. — E você pode falar com seus amigos para fazerem o mesmo.

Olhei para ele sem entender.

— Fazerem o que?

Ele deu de ombros como se parecesse óbvio.

— Me pedir desculpas ué, principalmente a Duda e o Guto, eles dois foram os que mais pegaram no meu pé. – respondeu ainda massageando minha mão.

Afastei minha mão lentamente, fugindo de seu alcance e coloquei uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, para parecer que aquela era minha ação dês do princípio.

— Eles não vão fazer isso. – olhei para ele franzindo a testa. — Isso não é necessário.

— Sua amiga jogou um copo de suco em mim e aquele Guto implica comigo sempre que me vê. – explicou o mesmo parecendo levemente irritado.

Duda havia se sentindo ameaçada e Guto apenas queria me proteger, mas os dois não estavam corretos, e eu sabia disso, Henrique sabia disso e eles também.

— Não vamos falar sobre isso. – pedi.

Aqueles horas eu não tinha mais apetite e nem vontade para continuar uma conversa, o que resultou em Henrique pegar seu celular mais uma vez.

— Está bem interessante aí não é!? – falei depois de um tempo.

Ele olhou para mim, deu um sorriso sem graça e guardou o celular, mas sua atitude não me deixou muito animada.

— Você tá muito calada.

Sério que você percebeu?

— Vamos tirar uma foto, quero postar no Instagram. – continuou ele.

Ele se levantou e colocou sua cadeira ao meu lado, tudo isso antes que eu pudesse responder.

— Não tô muito no clima pra tirar foto. – falei educadamente.

Ele balançou a cabeça dando um sorriso.

— É só uma foto. – disse, antes de ligar o flash do celular e começar a disparar sequências de fotos.

Depois disso, o mesmo começou a selecionar as melhores, minha vontade era de jogar aquele celular fora.

Olhei em meu relógio e já eram 20:07, lembrei que Henrique prometeu ir me deixar as nove, aquilo foi um soco no estômago.
Nós fizemos outro pedido, mas eu quase não come.

— Tudo bem mesmo?

Pra mim existem duas versões de se estar com uma pessoa, na primeira você pode gostar dela e tudo nela vai ser legal, a conversa, as piadas o sorriso até o silêncio, nada é constrangedor e tudo é meramente bom, perfeito e brilhante.
Mas no segundo caso, por mais que você goste da pessoa, não é como se a sua presença fosse tão necessária, pode ter muito mais sentimento envolvido, mas algo não flui.

Eu não sabia como eu me sentia em relação a isso com Henrique, estava dividida e aquilo não era bom.

— Sim, só estou um pouco cansada.

Cansada.. não deixava de ser verdade, cansada do plano, da minha prima, daquele encontro, cansada de toda a tensão para a minha festa de aniversário.

— Você vai participar do show de talentos da escola? Ouvi falarem seu nome. – comentou ele.

— Não sei. – falei depois de um tempo. — Nem dei para as meninas o benefício da dúvida, só disse que não iria.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Não diga que é por causa da Letícia! Por favor, Viane.

Dei dei ombros.

— Ela sempre ganha mesmo, e eu também não tô a fim de arrumar outra confusão com ela. – respondi sem dar importância.

Ele balançou a cabeça parecendo não estar convencido.
Porém aquela era a verdade, Letícia já estava no limite comigo e não era porquê eu tinha medo dela, na verdade eu não tinha, eu só não queria arrumar ainda mais confusão.

— Eu acho que você deveria, sua voz é linda e você tem grande chance de ganhar.

Dei um sorriso tímido ao mesmo em resposta.

— Talvez.. – apertei os lábios, pensando no que iria falar em seguida.  — Eu acho melhor a gente pedir a conta.

Ele me olhou surpreso.

— Mas já? Ainda tá cedo e sua mãe disse que podíamos ficar fora até às nove.

Respirei fundo.

— Eu sei, mas é que eu tô cansada e amanhã tem aula, e eu gosto de dormir cedo.

Ele careta de reprovação e disse:

— Pensei que você estivesse gostando da minha companhia.

— Não é como se eu tivesse ela completamente. – falei com desdém.

Ele continuou olhando para mim, não piscou nem nada, sua respiração parecia mais pesada, depois de um tempo ele levantou a mão chamou o garçom e pediu a conta.
E ali dava fim ao meu primeiro encontro.