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"Opa, opa! Já orou antes de ler?"

— Maressa, espera! — o ouço gritar, porém permaneço andando. Odeio que me gritem quando estou em público. E ele sabia disso. Aposto que estava fazendo aquilo para que eu me irrite e pare. — Maressa! Ei?! — toca em meu ombro. Suspira. — Me desculpa. Eu não queria te irritar e tampouco dizer aquelas coisas.

Paro de imediato e viro-me.
— Eu que peço desculpas. Não queria te meter na minha medíocre "história de amor desconfigurada".

— Não diga essas coisas. — mantêm seu olhar firme. — Na minha opinião, você merece uma felicidade maior e melhor, na minha opinião esse rapaz não merece suas lágrimas, tampouco seu desgaste mental, porém se verdadeiramente há um propósito para vocês, então lute e invista. — sorri. — Estarei orando por você e não por ele, porque sei que de rebelde, Deus está tratando. — se aproxima e me puxa para um abraço confortável. É disso que mais preciso. Envolvi meus braços ao redor de sua cintura e afoguei minhas lágrimas em seu peito.

— Obrigada. — sussurro.

— Vai ficar tudo bem. — alisa meu cabelo.

— Você sabe que palavras não me consola mais. — minha voz vacila. — Nada me consolam porque não vejo mais NADA em minha volta.

— Ainda que não console, continuarei dizendo para que nunca esqueça. E quando tudo, finalmente, dar certo, lembrarás. — beija o topo da minha cabeça.

— O que seria de mim sem você? — desfaço o abraço, enxugo as lágrimas e o encaro. — Você é o melhor amigo do mundo.

— Poderia ser mais do que isso, mas é uma pena que aquele...abençoado, sortudo de uma figa, chegou primeiro . — finge estar irritado. Solto uma risadinha abafada.

— Obrigada por falar essas coisas só para me ver sorrir, porque sei muito bem que é mentira e já conheci a garota que você está amando. — deixo-o com a expressão de dúvida e sigo meu caminho.

  Emanuelle é uma jovem lá da nossa congregação. Eu super admiro sua paixão por Deus e pela obra, porém um defeito que sei perfeitamente bem que não vai agradar ao Ethan: o ciúmes. Ela não demonstra na frente dele. Óbvio. Mas se engana se acha que alguém não percebeu. 

— Quem te contou? Como sabe? — pergunta desesperado.

— Ninguém me contou. Eu percebi. Homens. — revirei os olhos. — Nunca percebe quando uma mina tá na sua cola.

— Maressa! Para de graça, vai!  — bufa irritado.

Parei de andar.
— Já cagou hoje querido? Não, "né"? Pois bem. VÁ CAGAR. — seguro o riso e volto a caminhar em passos largos.
    Essa é nossa brincadeira quando um consegue irritar o outro.

— Muito bem! — aumenta o tom de voz devido a distância. — A noite, no culto, venha me pedir para te deixar em casa. Já sabe a resposta, não é? Atribulada!

  Solto uma gargalhada, porém continuo andando.
  Ethan, sempre quando a gente briga, deixa de me levar até em casa; achando ele que isso me afeta em alguma coisa. Coitadinho.

  Entrei em casa e tranquei a porta. Aqui em São Ângelo tudo é muito tranquilo, porém não tenho costume de morar sozinha. Às vezes, a prima de minha mãe fica aqui comigo e minha avó também, me fazendo companhia, porém ainda assim tenho medo.

♪  celular tocando ♪

— Oi pai. — sorrio.  — Fico feliz que tenha gravado meu novo horário de chegar em casa.

— Sou um pai bastante preocupado com minha princesa. Como foi seu dia hoje?

— Nada de diferente, a cada dia tenho me apaixonado pela aulas porém nada muda. Onde está minha mãe, minha irmã? — coloco a mochila sobre o sofá. Sento e tiro a sapatilha.

— Estão aqui. Inclusive seu tio está passando uma semana aqui em casa e depois vai voltar.

— Por que? Meu tio nem gosta de sair de casa. Aconteceu o que?

— Aquela garota que ele está apaixonado, porém não consegue admitir, está fazendo umas maldades com mesmo, então para não fazer nenhuma besteira, preferiu passar uns dias comigo e sem comunicar a ela, mas não diga que te contei. — explica, travesso.

— Pode deixar. Ainda com essa história? Achei que eles já estavam juntos.

Poderiam, porém a garota está com medo de se relacionar e meu irmão acabar decepcionando a mesma.

— Entendo, mas vejo que assim, meu tio pode acabar desistindo dela. Deve estar se odiando por estar apaixonado. — soltei uma risadinha.

— Pai, deixa eu falar com minha irmã? — ouço a voz de Eloá. — Maressa? Minha irmã, como você está?

— Oi anjinho! Como estás? — levanto e vou em direção ao paraíso: geladeira.

— Estou bem, mas perguntei primeiro.

— Estou ótima!! Como vai a escola?

— Perfeita. Estou me saindo muito bem em matemática, português... E sua faculdade?

— Tudo é diferente, sabe? Porém é divertido. Agora preciso desligar que daqui a pouco tem campanha de oração com os jovens e ainda ficarei para cultuar. Manda beijos para o papai e diga que mais tarde falo com ele. Amo vocês.

— Também te amamos.

Sorrio e encerro a chamada.

(...) 🌸

   Nas campanhas, nem sei mais o que é fervor. Minha oração é oca, pois não tenho palavras para falar com Deus. E ainda que por um milagre eu encontre, são poucas. Nossos diálogos não são mais os mesmos e juro que faço de tudo para que isso mude, mas não encontro forças suficiente.
   Ajoelhada, vejo todos os jovens orando sem dificuldade; ouço suspiros de quem está se derramando em prantos perante a Ele, outros clamando em alta voz, enquanto o fundo musical trabalha em trazer-nos uma bela reflexão de nossas vidas. É uma das coisas que mais amo no culto.

   Cansada de tentar falar, me levanto e sento na cadeira.
   A campanha é de uma hora de oração, mas vejo que em quarenta minutos de tempo perdido, fiquei ajoelhada sem dizer uma palavra a Deus. Estou muito sentindo mal por isso.

   Completado ás uma hora, a líder pede para que todos dessem as mãos e orassem, juntos, o salmo noventa e um. Assim fizemos.

— Amém. — ela finaliza. — Eu gostaria de deixar um versículo para meditação. Quando chegarem em suas casas, antes de dormirem, abram suas Bíblias e leiam: Segunda Coríntios, capítulo um e versículo 4 em diante. Não se esqueçam! Podem subir, que logo, logo iniciaremos o ensaio.


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MARESSA em Prova de Fogo. (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora