7.2

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— Você não vai convidá-lo? — pergunta Ethan depois de muita insistência.

— O pastor já fez isso por mim, convidando toda a Igreja. Diego foi uma ocasião diferente, mas pelo que parece deve estar fazendo parte, novamente, da nossa congregação. _ expliquei.

— Eu te disse. — graceja. — Daqui a pouco vocês estarão andando de mãos dadas pelas ruas.

— Não viaja. Esse sentimento me machucou muito e não pretendo aceitá-lo dentro de mim tão cedo. Levei dois anos da minha vida pedindo desculpa para mim mesma por ter me sujeitado a situações que eu nem deveria ter enfrentado. Passei e ainda passo por uma batalha espiritual constante. Ainda que minha história pareça ser curta, só Deus sabe o quanto 730 dias passaram devagar. Achei que morreria. 730 dias no deserto, 730 dias lutando para esquecer alguém. Até hoje não consigo, por mais que ele mereça todo desprezo do mundo. — confessei, angustiada.

— E quanto a ele? Você não acha que o mesmo deve ter várias explicações para te dar?

— Com certeza. Não coloco sobre a mesa apenas o que eu vivi. Preciso de respostas para as inúmeras perguntas que todos esses dias me fizeram criar. — disse.

— Claro... Sei que não quer falar dele, mas percebeu como está o seu estado emocional?

— Sim... Está acontecendo alguma coisa que não sei explicar e acho que nem o mesmo sabe. Enfim... Me conta sobre sua amizade com a Emanuelle.

— Ah, nós conversamos pouco. Ainda que a amizade tenha continuado, ela tem se afastado aos poucos para se recuperar. — explica. — Foi difícil para mim... Machuquei uma vida.

— Ethan, não você não machucou ninguém. Pelo contrário, confessou seu sentimento, agiu como um homem de verdade e não alimentou as esperanças.

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   Pedi tanto a Deus que me curasse e agora estou com medo dos sonhos e dos planos. Será que mais alguém além de mim tem medo dos sonhos de Deus, devido a sua proporção?
   Só tenho medo porque sei que é grande e não mereço. Talvez eu esteja resistindo demais, mas, ao mesmo, tempo acho que será melhor. Está bem melhor assim. Ainda que a curiosidade aumente a cada dia, querendo saber o que se passa dentro daquela cabeça. 730 dias não foram fáceis e desejo compensar a cada momento a minha superação.

  Meu espiritual foi cem por cento recuperado, mas o sentimental... Não sei descrever. Ainda que sinta que falta de algo, prefiro não viver o que se falta.

— O que tanto pensa? Será... — faz uma leve pausa, sentando-se ao meu lado. — Aquele garoto que, provavelmente retornou ao recinto?

— Eu estou muito triste, porque sinto que tem alguma coisa acontecendo com ele. — disse.

— Entendo. Também notei que não é mais o mesmo. Mas, será que é só isso mesmo que te preocupa?

Nem sei porque estou preocupada.

— Tantas coisas me preocupam.

— Acho que vocês deviam conversar e não tem essa de quem machucou. Dê espaço para que ele se abra novamente. Não adianta ficar fingindo que não se importa. Se é somente por ele que seu coração bate, se é somente por ele que a sua alma deseja viver lindos momentos ao lado, se é somente por ele que Deus confirma alguma coisa, então...

— Deus se calou sobre esse assunto durante dois anos, então não sei mais o que Deus requer de mim. — as lágrimas ardem em minha garganta. — Eu já perdi a direção do propósito. Perdi a vontade de sonhar. O que é sonhar? Como se sonha? Ele levou isso consigo. Eu tinha sonhos quando estava com ele.

— Me parece que ambos estão com o coração maduro. Provavelmente Deus fará com que o caminho de vocês se cruzem novamente.

(...) 🔥

   Alguns dias se passaram e andando pelas ruas de Felip's, em busca de uma loja para comprar algumas coisas para levar pro batismo, acabei encontrando alguém que não sei se poderia dizer "agradável". A mãe de Diego.

— Oi sumida?! — estreitou os olhos antes de me reconhecer. — Quanto tempo! Por que nunca mais foi lá em casa? Brigou com Diego?

  A verdade é que nunca entendi a mãe dele, porque por mais que eu demonstrasse ser uma pessoa de confiança, ela permanecia fechada. Ele me dizia que esse era o seu jeito, mas quando gosta de uma pessoa seu comportamento muda. Comigo era sempre a mesma coisa. Então... Não sabia se ela gostava ou não de mim, mesmo sendo apenas amiga dele.
 
— É... — murmurei, sem jeito. — Precisamos conversar. — A outra verdade é que também queria vê-la antes de completar dois anos. Precisava entender o que estava acontecendo.

— É... Acho que precisamos mesmo. Está com muita pressa?

— Não. Vamos para a pracinha? — sugeri e fomos caminhando. De uma coisa é certa: ele era sua cópia sem cabelos longos. Olhar para quem eu achava que um dia seria minha sogra me deixava perturbada. Pareciam irmãos.

— Pode falar. — disse, após sentar.

— Eu... Gostaria que a senhora falasse primeiro. O que está acontecendo com Diego?

Me lança um olhar confuso.
— Achei que teria respostas suas. Eu... Sinceramente não sei. Por que nunca mais foi lá?

— Quais eram as explicações que ele te dava sobre mim? — temo ao que pergunto.

— A verdade é que meu filho é muito estranho. Nunca sei se o que está falando é verdade ou mentira, mas o que sempre me dizia era que cada um seguiu seu rumo. Confesso: não me agrada nenhum pouco do que me respondeu. — suspira.

— Seu filho, depois de mudar de ministério parou de falar comigo eu literalmente.

   Eu não podia ir mais afundo nesse assunto, porque ela não sabia dos traumas que seu filho carrega do passado.

— Ele tem conflitos sérios com si próprio. — suspirei. Não consegui desvendar suas expressões.

— O grande problema dessa história é que ele nunca se abre comigo. Tem dias que acorda estressado e desconta em mim, tem dias que parece que está no mundo da lua, que se tranca no quarto e esquece que tem uma família. Eu nunca entendi meu filho. Só sei que depois que mudou de ministério ficou pior: soberbo, orgulhoso... Não que antes não fosse, mas ele... Sei lá! Era diferente. Brincava mais. Quero que me responda uma coisa; algo que desejo saber a muito tempo: você eram namorados?

  Ainda bem que não. Seria frustrante respondeu um sim para alguém que me olhou com tanto desprezo, depois que se mudou.

— Não. O sentimento era recíproco, mas nunca chegamos a ter um relacionamento.

— Por que?

— Ele queria e não queria. Tinha momentos que se declarava, como eu estava explicando a minutos atrás: ele entrava em conflito com si próprio. Bom... — disse depois de um tempo. — Ultimamente ele tem ido lá na nossa congregação, não sei se a senhora está sabendo.  — conto e ela nega.

— Ele nunca me diz para onde vai. A única coisa que posso te afirmar é que aparenta estar triste, porém não me deixa ajudar.

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MARESSA em Prova de Fogo. (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora