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   No ensaio, era o momento em que os jovens aproveitava para colocar o assunto em dia. Contavam tudo o que aconteceu em suas vidas no dia de hoje e ainda aproveitavam para "zoar" um ao outro.
   Ethan me olhava e depois virava o rosto, empinando em seguida. Ri da situação e me aproximei. Ele conversava distraidamente com Samuel, seu melhor amigo.

— A paz do Senhor, menos para alguém que está com magoa do próximo. — comprimento e logo Samuel percebe o código.

— Paz do Senhor, lindinha, o que aconteceu dessa vez? — segura o riso.

— Nada não. Apenas existem pessoas por aí que guarda mágoa dos outros, é rancoroso para perdoar. — brinco. — Enfim, a salvação é individual. Como você está, Muca?

— Eu odeio esse apelido e você sabe disso. — murmura. — Estou muito bem. Eu e o Malik estávamos falando sobre a Igreja que irei ministrar amanhã. 

  A maioria dos jovens pregam. Confesso que é o meu maior sonho, porém tenho medo do que as pessoas vão dizer. Não sou tímida, consigo me desenvolver muito bem com o público, porém... Não sei.

— Hum, nem convida para te acompanhar. — uso o "drama leve" da minha grande coleção.

— Sabe que não preciso convidar.

— Podemos sair daqui? Estávamos numa conversa tão legal e de repente, alguém carregado de orgulho atrapalha. — indaga.

  Eu e Samuel nos encaramos e em seguida soltamos várias gargalhadas, chamando a atenção de outros jovens.

— Eu não consigo levar vocês a sério, me perdoe irmão. — diz Samuca entre risos.

— Palhaçada. — reclama. — Maressa, nem adianta tentar voltar a falar comigo só para que eu te leve em casa. Isso não vai acontecer! — diz sério.

— Quem está te pedindo alguma coisa? Eu sei o caminho de casa e ainda por cima, tem vários jovens que moram perto de mim. Posso ir com eles numa boa.

— É Malik, Isaías mora na mesma rua que lindinha; eles podem ir juntos para ela não correr perigo. — Samuca provoca. Isaías é um jovem que chegou a gostar de mim durante algum tempo. Ele é bem cheio de Deus e tem ótimos conselhos, mas...

— Beleza, então eu vou te levar. — diz irritado, fuzilando Samuel por lembrar daquele detalhe. — E chegou de gracinhas por hoje, vocês estão me tirando do sério.

— Ficou com ciúmes, mano? Calma.

— Samuel, atribulado, minha mão vai voar no seu rosto. — ameaça. — Você sabe muito bem que o garoto ainda gosta dela e nunca vou permitir que "algo a mais" aconteça. Maressa, pare de rir, porque não quero levar bronca de seu pai. Ele pediu que eu cuidasse de você.

Ok, mocidade! Acabou o assunto, vamos ensaiar!

(...)


Depois do banho, apaguei tudo e deitei em minha cama. Nessas horas era o momento mais difícil, pois tudo é silencioso, minha mente trabalha a todo momento, não parava de pensar em possibilidades, em escolhas, renúncias... Vinha a vontade de chorar, porém tinha que inibir. Eu não podia dar esse gosto para alguém que não vale a pena.
  Pode ser frescura, mas só quero uma resposta para sair disso. Apenas uma palavra! Se sim ou se não, se deve investir ou se devo recuar; procurar seguir minha vida porque é tudo  que mais quero.

No dia seguinte...

  Acordar cedo demais nunca foi meu forte, mas para alguém que está com a mente cheia de tristezas, se distrair acaba sendo uma diversão. Era assim a minha rotina: ocupar-me para não surtar.
Arrumei a minha bolsa da faculdade e a do trabalho. Logo o Uber buzina em minha porta. Tranco tudo e entro no carro.

— Bom dia. — cumprimento.

— Bom dia, senhorita. Jesus abençoe seu dia.

— Amém e que Ele te dê um bom trabalho. — sorrio. Eu já estava acostumada a me encontrar com esse senhor. Com ele até me sinto mais segura porque é cristão e acabou se tornando um conhecido quase próximo.

— Me desculpa se sou curioso demais, mas é que todas as vezes em que sou acionado e vejo que é o mesmo endereço em que quase estou acostumado todas as manhãs, percebi que seus olhos carregam uma preocupação muito grande ao ponto de fazer com que haja o cansaço psicológico já atingindo o físico. — comenta.
Fechei os olhos com força, controlando a imensa ousadia de minhas lágrimas.

— O senhor acha? — o olho porém rapidamente desvio meu olhar.

— Sim. Sou um velho de 62 anos e gosto muito de ler livros, de preferência cristão. Tem um que  já li mais de cem vezes só para decorar suas palavras para compartilhar com meu próximo e para encaixar na minha mente que sou capaz. Na página 35 desse livro vai dizer: *¹ESPERAR QUE A CRISE MELHORE PARA DECLARAR QUE É CAPAZ, É  ACEITAR A CRISE SEM A CAPACIDADE DE SER CAPAZ. Eu gosto muito dele. E em seguida ele vai falando das atitudes que nós temos que tomar; daí na página 37 o autor escreve: "Tente mais uma vez. Não são poucas pessoas capazes que devido a um fracasso, uma queda, uma decepção, um desapontamento, uma traição, uma perca, deixaram-se abater; e apesar de serem capazes, desistiram de avançar, desistiram de sonhar, desistiram de querer ir mais longe, acomodaram-se, desistimularam-se, abraçaram o que lhes sobrou e já não pensam no que poderiam ter, ser e alcançar, porém dentro delas ainda permanece a capacidade dada por Deus em Cristo, para a superação dos desafios, para a conquista dos obstáculos, para a vitória nas batalhas e eles precisam tentar mais uma vez, você precisa tentar mais uma vez".

Meus olhos umedecem. Estou confusa.

— Suspiro. — O senhor acaba de desvendar um enigma. — passo o dedo nos olhos rapidamente, tirando o excesso de lágrimas.

— Jura?

— Eu amo quando estou passando por um momento difícil e alguém, do nada, me para e fala de Deus, para e fala desses propósitos. É muito significante.  — sorrio.

— Fico feliz. Você vai conseguir menina, por mais difícil que seja. Deus não esquece os seus.

   Eu só preciso gravar em isso em minha mente: que Deus não esquece os seus. Eu não quero duvidar do seu poder porque que as experiências que já tive com O mesmo são provas de que nunca me esqueceu. Como sinto falta das experiências, mas não consigo! Eu não consigo reatar a comunhão.


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*¹ Pastor Márcio Braga - Livro: EM CRISTO SOU CAPAZ. 

MARESSA em Prova de Fogo. (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora