MARESSA em Prova de Fogo. (Concluído)

9.1

  Dias vem e dias vão. Minha amizade com Diego tem voltado a cada dia ao normal. É como se eu tivesse ganhado um presente que esperei durante anos! Me sinto realizada, feliz e tentando não manter minha consciência pesada.

— O que houve? — Eloá pergunta.

— Estou com medo. — suspirei. — Hoje... Diego me chamou para sair.  Disse que tem algo muito importante para falar.

— Está com medo do que ele tem a te dizer ou está com medo dos planos de Deus? — ela senta na beirada da cama.

— Os dois. — sorrio sem jeito.

   Às vezes se tornava estranho conversar com uma criança sobre relacionamento.

— Acho que não deveria ter medo daquilo que estava esperando há muito tempo. Se isso realmente for medo, por que pediu?

— Esse é o questionamento que enfrento todos os dias. Mas não é em um sentido ruim... Aconteceu muito rápido nossa reconciliação. Tenho muita vontade de esfregar na cara dele tudo que passei. — disse, frustrada e ela riu.

— Você amadureceu e ele não ficou para acompanhar isso, mas pense comigo... Ambos precisavam se distanciar por um tempo para amadurecer, porque juntos sofreriam. Mas não pode se esquecer que não estava sofrendo por ele e sim pelo propósito que Deus tem! Vocês estavam em uma guerra constante contra as potestades, porém a perseverança lhe tirou de afundar. Diego? Bom, Diego acabou afundando, mas graças a luz que te ilumina, ele foi salvo da escuridão. Então, minha irmã, troca essa saia vermelha pela azul e vai ao encontro do grande amor da sua vida.

(...) 💕

  Lá estava ele com um sorriso largo no rosto. O brilho do Espírito Santo voltou a residir em sua linda face. Foi um longo processo de libertação, mas ele venceu.

— Está linda. — disse, admirado.

— Obrigada. — minhas bochechas coraram. — Onde irá me levar?

— Vai saber assim que chegarmos. — responde calmo. — Me desculpe ter que fazer você andar, mas ainda não tive a honra de tirar minha carteira de habilitação.

— Você sabe que não me importo com isso. — disse.

— Eu sei, mas nós merecemos.

  A caminhada foi totalmente em silêncio. Às vezes ele falava algumas coisinhas, mas eu apenas concordava.
  Conhecia perfeitamente bem aquele caminho. Faz tanto tempo. Tantas boas recordações. Era aqui que vínhamos quando minha vida era um terrível tédio.

— Eu... Nem sei o que dizer.

— Não precisa. — ele segurou em minha mão. Meu coração sofreu com esse choque. — Deixa que eu fale por você: senti falta deste lugar. Ele me traz recordações muito boas sobre nós dois. Sobre refúgio, sobre abrigo, sobre dois adolescentes felizes, descobrindo um novo sentimento. No fundo eu sabia o que era sentir, mas a sua felicidade eu colocava em primeiro lugar. E por sentir lá no fundo, eu também sabia que um dia seria o caco de vidro que machucaria suas mãos ao tentar me ajudar.

  Finalmente tive coragem de me virar para encarar seu rosto negro que é tão lindo.

— Lhe devo mil desculpas. E todas elas nunca pagarão o que você fez por mim. Mas graças a Deus que me fez sentir e ver que os planos Dele para minha vida são bons. Estou começando a amar esse chamado, tenho vontade de cantar com toda autoridade do Espírito, de pregar a Verdade, estou com muita fome de Cristo! Mas para que um plano seja totalmente quebrado em minha vida, eu preciso uma adjuntora. Você se lembra do que a nossa antiga conselheira disse?

— Que existia um elo maligno em você e que precisava de mais alguém para te ajudar a quebrar? Só que você não queria porque tinha... Medo?

Agora parece que tudo faz sentido.

— Sim. Eu confirmava minha felicidade com você, sabendo que iria te fazer mal. Acho que não estava totalmente liberto do meu passado. Agora me sinto livre das cadeiras, das prisões... Maressa, quer ser novamente o meu par? Quer amarrar nossos laços? Quer construir uma HISTÓRIA comigo SEM interrupções? A garota que me olhou com um olhar diferente, para um jovem com um passado terrível como o meu, sem saber ao certo a que sexo pertencia ou o porquê aquilo foi me escolher... Eu amo você. — ele começa a chorar. — É isso! Agora sinto... Eu te amo. Amo muito. Muito. Muito. — ele ri. — Nossa como é bom dizer isso sem dúvidas e incertezas. Eu te amo.

Era tudo que queria ouvir de seus lábios durante todos esses anos.

— Eu aceito. — me emocionei. Ele me abraça.

💕

— Se eu soubesse antes que te amar era tão bom assim, estaríamos casados hoje. — beija o topo da minha cabeça.

  Estávamos sentados na grama.

— Somos tão novinhos. — comentei.

— Não importa! Nossa história começou desde o ventre de nossas mães. Nunca mais vou separar você de mim. Me responda uma coisa: Ethan chegou a gostar de você?

— Se sim, não fiquei sabendo. Mas ele nunca insinuou isso. Nossa relação era de irmandade. Ele que me consolava quando minha mente só lembrava de você. — expliquei.

— Já eu não tive esse refúgio. Uma vez, vi a foto de vocês juntos, na internet. Em minha época de orgulho, pensei: que ela seja feliz. Mas quando a ficha caiu, achei que te perdi para sempre.

— Isso nunca vai acontecer.

— Nunca. Nossos laços foram reatados. Agora seremos UM em Cristo Jesus e nada, absolutamente nada poderá nos separar. Nem dá para acreditar que sinto o amor... — comenta admirado. — Maressa, nossa filha será...

— Como assim?

— Desculpa. — ele solta uma gargalhada. — Só queria saber qual é a cor da pele dela.

— Espero que seja morena que nem o pai. Gosto do tom da sua pele.

— Mas que tenha o seu cabelo. E que se depender de mim, ela nunca vai cortar.

— Meu pai também é assim. Se eu ficar uma semana com o cabelo preso, ele já desconfia que passei a tesoura. — comentei com ar de riso.

— Admiro a capacidade do seu pai de criar uma jovem tão pura como você. Uma jovem de respeito e que está sempre disposta a ajudar aqueles que precisam. Em breve estarei em sua formatura, minha psicóloga. Aquela quem vai cuidar da minha saúde mental.

— Prometo que não serei tão chata. — disse.

— Não importa como você seja. Só sei que já perdi tempo demais da minha vida longe de ti e agora quero aproveitar cada momento ao seu lado.  Serei muito orgulhoso ao te ouvir dizer que as coisas se resolvem na base da conversa e ao eu lhe ver brava, quando perguntar o motivo, me responder: "nada". — comentou e eu soltei uma gargalhada. — Por que as mulheres são assim?

— Não sei... Mas, na maioria das vezes, só queremos que o homem descubra o real motivo da nossa chateação.

— Estarei pronto para dizer "Ei, estou aqui. Pronto para ouvir o que tem a dizer. Pode me dizer onde foi que errei e prometo consertar."  — disse com um tom de voz tão meigo.

— Nossa... Com um homem desse... Com essas palavras... Não tem raiva que permaneça. Com isso, aprendo que o tempo fez bem para nós, principalmente para você. Eu... Eu te amo, Diego. — disse tímida. Ele me olha surpreso.

— Saiba que todas as vezes que me disser isso, lembrarei que fui achado entre os cascalhos. Eu também te amo, minha Maressa.

☕

*Fim*