8.0 Decisões

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     Alguns dias haviam se passado. O pastor nunca chegou a anunciar que, possivelmente, Diego estaria congregando conosco. Só sei que todos os dias ele estava presente nos cultos com o olhar perdido e clamando por ajuda.
Ethan e Samuel fizeram amizade com o mesmo e todos os dias os três chegavam juntos. Eu estava ficando preocupada. Sei muito bem o que esses dois são capaz de tramar.

— Amanhã iremos ao parque. — Samuca me alerta.

— Divirtam-se. — não dei importância.

— Hahaha. Você não entendeu muito bem, lindinha. Estás inclusa também. — revirou os olhos.

— Hum, não estou no clima. — disse. Realmente não estou com vontade. Estou vivendo uma das melhores fases da minha vida com Deus.

— Vamos, por favorzinho. Garanto que não vai se arrepender de nada. E além do mais temos uma missão aqui na terra de ajudar alguém que precisa, espiritualmente.

   Eu estava entendo perfeitamente tudo que ele queria dizer. A minha raiva só aumenta. Por mais que eu queira ajudar, mas também não quero que atrapalhem meu relacionamento com Deus. Levei tanto tempo para estar como estou agora. Será mesmo que superei?

   Cheguei em casa amargurada. Não acredito que 750 dias ainda mexem comigo! Deus durante todo esse tempo em silêncio. Não posso tomar decisões, porque Ele simplesmente NÃO QUER FALAR! Sendo assim, Diego que arranje alguém para aguentar o peso que carrega sobre as costas.

— Irmã? — Eloá coloca a cabeça pela brecha da porta.

— Oi. — sorri fraco. — Entre. Como estás?

— Ótima! Eu estava em meu quarto desenhando e pensando: Deus é maravilhoso. Durante muito tempo convivi com minha mãe duvidando que existia um HOMEM que conversava comigo acerca das dores. Ele sempre me falava que queria curar as cicatrizes mais profundas que ela deixou, mas como era difícil convencê-la! E quando estava em coma, Ele sempre me falava de tempo. Descobri que minha mãe criou uma certa mágoa do meu pai, porque ele morreu. Então, chega um determinado momento em que começou a culpá-lo por sua infelicidade. Rabi me disse que aquilo não poderia acontecer, que independente das suas dores, do que ela iria suportar, o que ela viveu com ele foram momentos maravilhosos. Apenas isso deveria ser lembrado.

— Por que está...

— Não sei. Apenas senti vontade de falar sobre isso. Irmã, o que quero dizer é que por muito tempo minha mãe conviveu com a falta de respostas de Deus em relação aquilo e
Ele enviou diversas pessoas para dizer que estava a esperando. Deus precisou tratá-la para que assim ela pudesse cuidar de alguém. E esse alguém foi Jônatas. Nosso pai. — abre um sorrisinho.

   Pedi perdão ao Pai mentalmente por ter murmurado. Se eu superei ao longo desse tempo, não importa estava sendo egoísta com meu próprio sentimentos e com a própria vontade de Deus. Aquele sonho que o mesmo me deu não foi em vão! Jamais iria confirmar algo sem propósito.

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  Chegou o momento mais esperado. Não sei quantas vezes pedi para que Deus acalmasse meu coração, pois estava ansioso demais e eu creio que agir pela emoção não dá certo.
  Os meninos vieram me buscar e em seguida passaram na casa de Diego. Depois disso permaneci em silêncio. Não tinha palavras para conversar com ele. Era tudo muito estranho.
  Ao chegar no parque, acampamos debaixo de uma árvore frutífera. Colocamos um pano por cima da grama e depois espalhamos os alimentos.

— Sei que está um clima muito tenso, mas precisamos tirar, porque os servos de Deus tem que viver em comunhão. — Ethan se pronuncia. — Chamei Diego aqui pois percebi que sua vida com Deus estava em decadência. Ele precisa muito da nossa ajuda, então iremos ajudá-lo. Tudo bem? — pergunta a ele concorda.

— Gostaria de agradecer a vocês pela bondade. — sorri, sem jeito.

— Por nada. Antes de mais nada, gostaria de dizer a você, Maressa, que esse convite aqui tem um motivo muito especial; onde você vai deixar que Deus tome a direção dos seus lábios e espero que tudo dê certo. — Ethan e Samuel se levantam.

  Eu sabia que eles iriam aprontar alguma coisa.

— Chegou o tempo de acertar as coisas. — retiram-se.

  Respirei fundo antes de tomar a iniciativa de sair dali correndo.

— Oi, Maressa. — disse depois de um tempo.

— Oi.

— Eu gostaria de te pedir perdão por tudo que aconteceu. Fui um rapaz muito imaturo. Nunca imaginei que estaria aqui em sua frente, novamente. Fui um burro por não ter dado ouvido as suas palavras e hoje posso dizer que quebrei a cara e quebrei bem feio! Não sei como ainda estou aguentando estar nesse estado, porque, confesso que por diversas vezes pensei em tirar minha própria vida. Você conhece minha situação e sabe que desde pequeno venho enfrentando uma luta interna. Nem eu me entendo. Meus pensamentos são tão esquisitos e chego a pensar que não tenho utilidade nesta terra. Me perdoe por todas as palavras, por todas as vezes que rejeitei sua ajuda, por ser tão imbecil. Você não desistiu de mim em nenhum momento.

  Segurei as lágrimas ainda que não tinha vontade alguma de chorar. Depois de alguns segundos o encarei, seriamente.

— Eu te perdôo. Eu te perdoei desde quando foi embora. Te perdoei depois de me dizer tantas palavras que feriu meu coração e que até hoje me pergunto como sobrevivi. Durante esses dois anos e alguns dias, me perguntei a Deus como ele permaneceu em silêncio. Foram dias de batalhas espirituais travadas, uma prova de fogo que parece não ter fim! Adquiri, sim, maturidade e superei aquilo que não pude esquecer. Por onde andei, as lembranças dos momentos tão bons estavam lá. Rejeitada. Admito que foi bonito sua atitude de pedir perdão, afinal nunca imaginei que um coração tão orgulhoso um dia confessaria seu erro. Só quero entender o que requer agora.

  Ele desviou o olhar e depois retornou a encarar o meu.

— Você não desistiu de mim e agora não quero desistir de você. Sei que, provavelmente, não haverá uma amizade, mas assim como insistiu em querer me tirar da escuridão, quero encontrar novamente a luz que me ilumina.

As palavras que um dia poderiam me deixar feliz, hoje, só me trazem lembranças de dias sofridos.

— Não posso acreditar em você. — e elas desceram sobre meu rosto sem minha permissão. — Sabe quantas vezes você me prometeu que deixaria eu te ajudar? Acho que não, não é? Esteve tão ocupado no fundo do poço que esqueceu que tinha uma mão estendida para você.

— Sim! Tenta entender meu lado...

— Para quê?! — interrompi. — Para depois dizer que não entendo? Que não sei lhe ajudar? Que não tenho capacidade?! Era a única coisa que você me dizia: que eu não tinha capacidade de tirar de um lugar tão profundo.

— Rejeitei sua ajuda por causa da sua felicidade.

  Eu paralisei.

— Se eu aceitasse namorar com você, só lhe traria desgosto. Descobri que te amava depois que te perdi, pois se eu não sentia uma vida próspera lá na frente, então não sentia o amor. Só descobri o conceito desse sentimento após ele ser tirado de mim. Estava perdido nesse mundo sem saber que fui achado por uma mulher tão incrível quanto você. — ele chora. — Fui encontrado e não sabia. Estava tão desaparecido que quando alguém me encontrou, nem notei. É como me disse a alguns anos atrás: meus pés estavam preso na água salgada.

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MARESSA em Prova de Fogo. (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora