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  Me arrumei rapidamente. Acordei atrasada. Eu teria que estar no círculo de oração, pois amo cultuar a Deus pelas manhãs. Não sei explicar. É prazeroso.
  Peguei minha Bíblia e sai andando nas pressas pelas ruas de Filip's. Sábado era o dia em que a cidade recebia muitos visitantes. Me sinto na Europa devido a quantidade de comércio de frutas, verduras e vários coffer's. Aquelas mesinhas tão delicadas na parte externa dos estabelecimentos.
   Vamos combinar que os lanches são carinhos, mas para sentar numa mesa dessa e tirar uma bela de uma foto, valeria a pena.

— Paz do Senhor, pastor. — cumprimento ao vê-lo.

— Paz. Como estás?

— Muito bem. Meus pais já chegaram aqui?

— Sim.

   Assenti e entrei. Após ter ajoelhado,  levantado e sentado, observei as pessoas ao meu redor. Meus olhos viram um jovem de pele escura, cabelo encaracolado. Era ele. Meu coração deu um certo pulo, mas não era de saudades e sim de... Raiva.
  Pedi perdão a Deus mentalmente por estar com aquele sentimento no meu peito, mas... O que ele estava fazendo ali? Tudo bem que ele tem o livre arbítrio de visitar congregação ao qual fez parte, mas porque justamente nesse dia? Minha alma não estava preparada para vê-lo, pois ainda estou em processo de esquecimento, superação...
   Por que estou com raiva? Eu já havia perdoado por tudo que o mesmo me fez.
  Observei suas reações e acabei percebendo que parecia estar incomodado. Óbvio! O maior sonho dele foi sair daqui e ainda por cima não ter um pingo de consideração por nenhuma das pessoas ao qual o ajudaram.

— Oi. — Ethan surge do meu lado.

— Oi. — tentei disfarçar meu péssimo humor, mas não adiantou. Sou muito transparente.

— Acordou com quem hoje, querida? Aliás deixe-me adivinhar... você precisava ver como o mesmo entrou aqui, todo "não me toque", sorriso falso... — revira os olhos.

— Achei que ele tinha mudado, porém percebi que não passa de um ingrato! — murmurei.

— De uma coisa é certa: só Deus mesmo para tratar de coração orgulhoso.  Pelo menos você reagiu meio que tranquila.

— Minha vontade é de chegar perto dele e mandar ele sair daqui. — digo e logo após solto uma gargalhada ao ver a expressão assustada de Ethan. — Brincadeira. Agora vamos prestar atenção no culto, porque no final, quero ver se ele não vai falar comigo.

   Pensei que prestaria atenção na palavra, porém me enganei. A ideia da presença dele aqui não foi nada agradável era como se um  filme passasse em minha mente, nos momentos ao quais congregávamos juntos, que por alguma brincadeirinha besta, me tirava a atenção, que não conseguia disfarçar a indignação quando algum irmão agia como inconveniência... Ele era o melhor amigo do mundo e me fez muito bem. Só que nessa mesma proporção, destruiu a minha alma. Levou tudo e nada restou.

— Oi Maressa. — disse ele. Acho que consegui captar ironia e desgosto em sua voz. Mas se ele pensa que vou ficar por baixo, está muito enganado.

— Paz do Senhor, Diego. Como estás? — abro o sorriso mais lindo da minha coleção. E confesso que não estava sendo irônica.

— Bem.

— Graças a Deus. — virei as costas e fui cumprimentar outros irmãos. Eu não conseguia ficar muito tempo perto dele, porque estava muito decepcionada. Parecia até que prejudique sua vida ao ponto dele não querer mais falar comigo. De diversas formas procurei falhas, mas não obtive resultados. Como disse Ethan: "não posso me culpar por algo que não dependia apenas de mim."

   Disfarcei por longos minutos e o vi desaparecer por aquele portão. Meu coração se partiu em mil pedaços; mais do que já estava partido. Mas eu não podia me desanimar. Eu não podia vacilar ou ceder. Mas do que tudo precisava ser forte! Nunca estive sozinha.

— Algum problema, moça? — novamente ele surge.

— Nenhum. Está tudo perfeitamente sobre controle. — sorrio. — Nunca me senti tão bem em toda minha vida.

— Gostei disso. — abre um sorriso cativante. — Estou até prevendo a cena em que o príncipe arrependido pede desculpas a sua amada e confessa diante de todo seu orgulho e de toda a pátria que você é a mulher da vida dele. — brinca.

— Confesso que não estou no clima para recomeço. Me encontro em construção.

(...) 🔥

   Emanuelle, através de uma chamada de vídeo, me apresentou ao aplicativo Wattpad. Ele é maravilhoso! Baixei no mesmo instante.
   Ela me disse que eu sou muito boa em aconselhar as pessoas e percebeu que minhas dores curariam outras pessoas. Então, pediu para que eu escrevesse para elas anonimamente. Pensei muito e consultei a Deus em oração. Pedi para quê me instruisse nas palavras e me desse um tema. Foi tudo tão rápido.
  "Cartas da PROMESSA". Este é o tão sonhado tema. O enredo será sobre minha vida e algumas aspirações sobre mim mesma.
    Coloquei em pauta no caderno o enredo, prefácio, etc.

  Depois de horas, notei que havia deixado um hábito para trás: escrever para Deus. Criei esse costume desde criança, quando não tinha forças para falar com Deus, quando as palavras sumiam dos lábios, eram entendidas pelo coração. E quando olhava, estava lá; pronta e grande. Depois eu guardava e colocava dentro de uma caixinha de sapato.

   Quando fui crescendo, pensei que tudo aquilo era besteira, então, fiz questão de pegar todas elas e rasgar, dizendo que o vento as levaria para Ele. Assim como o Espírito Santo colhe nossas lágrimas, depositando no odre e levando para o Céu. Eu cria que com as cartas não era diferente. Esse é o grande problema: eu cria.
   Só posso descobrir se creio, se as palavras que escrevi para Ele se realizou. Bom, a maioria sim. A grande questão é: aquele versículo me deixa intrigada: devemos preferir acreditar naquilo que não podemos vê, porque dura para sempre.

Deus e essa mania de confundir os sábios. Deus e essa mania de pegar as coisas loucas deste mundo.

  Tirei de cima do meu guarda-roupa, a grande caixa de MDF. Meu pai me presenteou assim que soube que escrevia. Nela estava minhas folhas em branco, envelopes, canetas, tantas coisas. E ainda a famosa e velha caixinha de sapato. Não era a mesma ao qual eu escrevia para Diego.

  A sensação de pegar uma folha, um lápis e borracha, me trazia um friozinho na barriga. Nostalgia. Eu era uma criança indefesa e sonhadora. Porém deixei de sonhar. A muito tempo abri mão disso.

  "Amigo? Sei que já sabe todas as palavras que serão escritas nesse papel. Mas gostaria de deixar registrado, porque creio que também opera em pequenos detalhes. Registros são importantes para comprovar sua grandeza. Sei que não é necessário, basta crer. Todavia, um dia gostaria de mostrar para todos o que o Senhor realizou em mim, gostaria de ser a PROMESSA, viver a PROMESSA e cumprir a PROMESSA. Essa CARTA não é um pedido. A CARTA sou eu e também o PEDIDO. Sei que entendeu. E sei que um dia o Senhor vai ler a minha vida para o mundo. Sei que minhas lágrimas também são textos escritos e será usado como tinta em seu pincel para novos capítulos, para novos recomeços e uma possível reconstrução.
   Quero que leia todos os dias a minha vida e que se for possível, apague algumas lembranças, mude o roteiro, faça o que quiser. Afinal, estou em Suas mãos. Sou teu o livro. Tu és o autor. Escreva em todas as linhas o que desejas realizar; descarte personagens, crie outros, faças o que bem entender. Gostaria que a introdução começasse com PROMESSA e terminasse com REALIZADA. Já sei que o conteúdo tem prova de fogo. Parece interessante, mas não me deixe desistir. Sei que estou sendo PROVADA, mas me ajude a ser APROVADA. Confio em sua criatividade."

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MARESSA em Prova de Fogo. (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora