III - living in a nightmare

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Passos lentos e absolutamente preguiçosos.

As mãos estavam no bolso de seu casaco. Calmamente observava o movimento ao redor.
O caminho de volta para casa estava tranquilo, o vento frio bagunçava seus fios vermelhos os deixando foram de ordem.

Tirou uma das mãos de seu bolso para ajustar os fones de ouvido. A voz da cantora Lana era como mel aos seus ouvidos.

Olhando a vida aparentemente alegre da paisagem, não conseguiu evitar o peso em seu coração. As pessoas sempre parecem tão saudáveis quando passam por si. A vida é bela, diziam eles. Mas todo mundo tinha problemas certo? Todo mundo tem problemas. Cada um com seu nível próprio. Mas, observando-os passar pela rua, permitindo que o vento bagunçasse seus cabelos, pareciam em paz. Todo mundo sempre parece perfeito. E Taeil? Bem, os olhos de Taeil praticamente clamavam por socorro. Ele se odiava por isso.

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Após trancar a porta, voltou-se ao sofá para largar sua mochila por lá mesmo. Sua casa era aquela coisa clichê de "simples porém bonita". Na verdade, Taeil diria que era só por fora mesmo. A poeira por lá sempre era presente. Haviam objetos seus por toda a parte da casa, coisas que deveriam ficar apenas em seu quarto. Também era escuro, algumas lâmpadas foram retiradas propositalmente. Mas no momento nem estavam ligadas, afinal ainda era cedo. A casa, na verdade, deveria ser banhada pela luz do dia, mas como Taeil insistia em trancar absolutamente tudo, então a casa se tornava uma verdadeira e obscura prisão.

O ruivo entrou calmamente na cozinha e pôs um pouco de água em um copo. Após beber todo o líquido, pôs o objeto de vidro sobre a pia, em seguida, apoiando suas mãos sobre a mesma. Abaixou a cabeça respirando fundo, de olhos fechados.

Ao abrir os olhos, deparou-se com a visão da pia de cor prateada, fazendo com que flashes invadissem sua mente em uma fração de segundo.
Lembrava de algumas semanas atrás, quando seu sangue escorregava misturado a água por este mesmo ralo. Lembrou-se de seu desespero ao tentar lavar seus braços sob a água corrente. Aquela dor no peito. Uma espécie de peso na consciência. Sabia que não era o certo.

O tal líquido parecia não ter fim.
Desesperou-se mais e foi buscar um pano, quando o achou enrolou em seu braço, em seguida permitiu-se jogar seu corpo exausto no piso de sua cozinha. Lembrou-se de como sua respiração estava descompassada naquele momento. As lágrimas saíam sem parar... Ele recordava. Estava incontrolável.

Balançou a cabeça apertando os olhos. Era horrível ter que pensar nisso de novo.
Mas, voltando ao contexto, ninguém estava vendo, certo? Ninguém sabia. Naquele dia ele estava só.
Em meio a suas crises de ansiedade constantes, naquele dia havia decidido que iria fazer de novo.
Precisava ver novamente a aparência brilhante e espessa de seu líquido vermelho.

Mas, após o fazer, teve medo.

Medo porque viu que havia sido bem mais fundo que o comum. Medo porque poderia até ter acertado uma veia.
Medo porque ele estava sozinho, sendo assim sua própria sobrevivência dependia apenas dele, sem ninguém para impedir ou protestar.
Medo, principalmente porque, mesmo que morresse ali, ninguém sentiria sua falta.
Não faria diferença pra ninguém.

No final das contas, concluiu que ele realmente não queria morrer...
Quem deveria morrer ali era sua angústia, seu sofrimento, suas mágoas, suas lembranças.

Mas estas apenas o atormentavam cada vez mais.

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Nota: A cantora Lana, citada no terceiro parágrafo, se refere à cantora de gênero indie Lana Del Rey.

be my sun • johnilOnde histórias criam vida. Descubra agora