XVIII - trust me.

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7:20 am.

O sol brilhante trazia uma coloração confortável àquela manhã de segunda, mesmo que a brisa fosse quase congelante.

Johnny devia estar a caminho do curso mas em vez disso, lá estava ele andando pela rua, segurava um copo de café quente em uma das mãos.

Ele não parava de pensar na conversa do dia anterior, apesar de ter se irritado brevemente, Yunoh tinha razão. Internamente, tentava decidir o que de fato deveria fazer a partir daquele momento.

Dobrou na rua à direita com sua outra mão no bolso do moletom. O dia estava mais frio que o normal, muitas pessoas e alunos que passavam estavam muito bem agasalhados.

Tomou mais um gole e seu olhar se direcionou a alguém de fios avermelhados do outro lado da rua por causa da visão periférica. Quase se engasgou e sentiu uma ansiedade quase inevitável. Estava feliz em vê-lo, de alguma forma. Precisava falar com ele.

Atravessou a rua confiante e essa mesma confiança se desfez completamente logo que chegou perto dele. Ele ia em sentido contrário ao que Johnny andava. Johnny sugou todo o líquido e jogou o copo em uma lixeira mais a frente, querendo chamar atenção descaradamente. Porém se segurou pra não rir de si mesmo ao ver que o menor usava headphones e não teria como ouvir o barulho que havia feito ali.

Chegaram à uma rua onde alguns carros passavam, então precisavam esperar o sinal fechar para atravessarem. Esse era o momento, pensou Johnny. Taeil parou com as duas mãos nos bolsos observando cada carro que passava, sua expressão parecia sonolenta.

Johnny estava com muito medo de assustá-lo, mas não podia mais perder tempo. Resolveu retomar sua confiança perdida e resolveu também fazer o que sempre fazia: chegar na cara de pau mesmo.

Parou bem ao lado do menor como se não quisesse nada. Taeil não moveu um centímetro naquele momento e Johnny quase decepcionou-se. Porém de repente Taeil juntou as sobrancelhas levemente. Seu olhar foi virando aos poucos até chegar no do maior em pé ao seu lado. Ele não tinha nenhuma expressão.

Johnny o encarou sério e depois sorriu fechando os olhinhos.

ㅡ Oi! ㅡ disse acenando.

Taeil pressionou seus próprios lábios um contra o outro como se tentasse não rir. Balançou a cabeça negativamente e voltou o olhar para frente. Tirou uma das mãos do bolso somente para abaixar seu headphone e deixá-lo cair sobre o pescoço.

ㅡ Agora eu tenho certeza: você realmente está me seguindo.

Johnny soltou uma risada e nessa mesma hora o sinal abriu. Johnny se recompôs e tratou de ir atrás de Taeil que já havia continuado seu caminho.

ㅡ Está indo para a escola?

ㅡ Infelizmente.

Johnny assentiu e mordeu o lábio inferior.

ㅡ Posso... Falar com você?

Taeil desviou o olhar.

ㅡ Eu não sei, eu... Eu preciso assistir aula agora então-

ㅡ Eu prometo que vai ser rápido ㅡ Johnny se pôs em sua frente o fazendo parar de andar. ㅡ Por favor.

Taeil o olhou nos olhos e depois assentiu.
Johnny os guiou para uma lanchonete próxima e eles sentaram frente a frente na primeira mesa perto da porta.

ㅡ Johnny, eu não queria ter... Ter fugido ontem, eu... Olha se for sobre isso...

ㅡ Não, Taeil, você não precisa justificar. Está tudo bem. Eu só queria...

Johnny parou de falar. Afinal, o que falaria? "Ah me desculpa por interromper seu caminho para a escola mas é que eu queria só te ver mesmo"? Isso com certeza estava fora de cogitação. Era como se realmente tivesse algo para dizer, o problema era que ele próprio ainda não sabia o que era.

Mas Taeil mencionou o dia anterior... Johnny realmente ficou preocupado, mas é claro, como não lembrou disso? Taeil saiu chorando e Johnny só queria ter feito mais por ele.

ㅡ Taeil, o que eu quero saber é... Você ficou bem ontem?

Taeil desviou o olhar. Johnny mordeu o lábio inferior o olhando atentamente, prestava atenção até em sua forma de respirar naquele momento. Tudo parecia tenso, Taeil somente assentiu sem dizer nada.

ㅡ Me desculpa se falei algo de errado ontem, tudo bem? ㅡ Johnny calculava suas próprias palavras atenciosamente, afinal não queria dizer nada que não fosse útil. ㅡ Eu devo te confessar que eu realmente não sabia o que fazer, quando eu te vi chorar... ㅡ Viu Taeil morder o lábio. ㅡ Taeil, eu venho guardando isso há muito tempo. Sei que passa por coisas difíceis, eu te conheço há muito pouco mas pra chegar a essa conclusão só precisava ser óbvio. É óbvio que tem algo de errado além de só ter ficado magoado com o esquecimento breve da sua família. É óbvio que suas olheiras não foram por ficar no celular até tarde. É óbvio que seu desmaio naquele dia na rua não foi por acaso e nem nada a ser considerado "normal"... Taeil. ㅡ O menor tinha os olhos marejados, mas se recusava a encarar o outro. Johnny abaixou o tom de voz em um quase sussurro: ㅡ É óbvio que suas marcas representam algo que te tortura... Mas você tem a mim agora, e eu realmente quero saber o que se passa em você. Taeil, por favor. ㅡ Johnny esticou o braço por cima da mesa. Suas mãos tremiam levemente de forma inevitável. Com delicadeza, tocou o queixo de Taeil e o trouxe para olhar para si. Dos olhos alheios, uma singela lágrima escorregou. ㅡ Me deixe saber quem você realmente é.

Johnny não sabia de onde havia tirada tamanha confiança para dizer tanta coisa de uma vez. Ele sempre foi uma pessoa positiva. É claro que notou o quanto Taeil era quieto desde o início, mas nós sempre tendemos a confudir estado emocional com traço de personalidade. Todos se podem se confudir, ninguém conhece ninguém somente olhando a aparência.

Johnny encarava os olhos alheios sem desviar. Ele realmente esperava que Taeil pudesse confiar em si, não queria que fugisse de novo, isso sim ele temia. Do contrário, Taeil continuava ali, olhando em seus olhos sem dizer absolutamente nada.

Johnny limpou uma lágrima sua usando seu polegar. Taeil umedeceu os lábios e fechou os olhos. Mais lágrimas saíram, mas ele realmente parecia estar pronto para dizer algo.

ㅡ D-do que adianta...? ㅡ disse com dificuldade. Seus olhos permaneciam fechados. ㅡ Saber dos meus problemas não os farão sumir, não importa o que você faça, John... P-por favor... ㅡ Taeil respirou fundo. ㅡ Por favor, não perca seu tempo.

Taeil abriu os olhos devagar. Johnny sentia seu olhar... Para ele, era como se pudesse sentir sua dor interna somente ao olhar em seus olhos. Era tão triste.

ㅡ Eu não estarei perdendo meu tempo, Taeil. Então não me diga nada agora, só... Sinta.

Johnny se levantou e segurou a mão de Taeil o fazendo se levantar também. A diferença de altura era muito bem notável. Johnny tentou enxugar suas lágrimas enquanto o mesmo o observava. Johnny o olhou mais um pouco e logo o envolveu em um abraço forte que foi logo retribuído da mesma maneira. Taeil afundou seu rosto no pescoço do outro como se precisasse somente disso e Johnny nunca se sentiu tão grato. Taeil era tão pequeno para ter tanto peso dentro de si, Johnny pensou que queria somente protegê-lo de tudo o que o pudesse estar fazendo mal e, de fato, era o que tentaria fazer.

Confia em mim, Taeil. ㅡ sussurrou.

Taeil o abraçou mais forte. Em seguida, respondeu da mesma maneira:

Eu confio.

be my sun • johnilOnde histórias criam vida. Descubra agora