IV - time wasted

398 61 20
                                    


A música agitada tocava incessantemente.
Era somente seu telefone.

Rolou para trás na cama ainda com os olhos fechados, tateando ao redor para tentar encontrar o aparelho barulhento.

Achou o telefone e abriu os olhos para procurar o botão na tela que indicava para parar, porém sua expressão era duvidosa ao perceber que não era seu despertador. A tela mostrava o número que reconheceu em menos de dois segundos.

Mãe...?

Atendeu sem vontade e pôs o aparelho em contato com seu ouvido.

ㅡ Alô...? - Seu tom ainda era sonolento.

"Bom dia filho, como você está?"

ㅡ Estou curioso. Lembrou da minha existência, foi isso?

"Ora meu amor, não seja tão mal!"

Taeil revirou os olhos. Apenas ouvindo.

"Como está por aí? Aposto que já está de olho em alguém não é? Pelo que sei, nesta escola há muitas garotas interessantes..."

Os olhos de Taeil estavam levemente marejados. Não acreditava na falta de bom senso de sua mãe em ter ignorado totalmente o assunto de sua sexualidade. Ela sabia muito bem o seu gosto, mas jamais aceitaria para si mesma um filho homossexual. Ele sabia disso.

ㅡ V-você... Você não presta...  ㅡ Sussurrou enxugando as lágrimas teimosas.

"O que disse amor? Não pude ouvir, fale mais alto!"

ㅡ Nada... Mas afinal, por que ligou? Com certeza não foi apenas para saber se ando bem.

"Aish, de onde você tirou todo esse mau humor ein? Maaas, já que tocou no assunto... Adivinha!"

ㅡ Não sou cartomante.

"Sua irmã vai se casar!"

Ela praticamente gritava ao telefone. O entusiasmo era totalmente audível.
Taeil mantia a expressão de tédio.

ㅡ Ah. É mesmo?

"Sim!!!"

ㅡ Ah. Com quem mesmo?

"Ela o apresentou, não se lembra?"

ㅡ Quando? Há cem anos atrás?

"Sim, ela está com aquele mesmo rapaz de poucos anos atrás! Que amor lindo não é mesmo? Estou tão orgulhosa de minha menina...!"

Ela parecia emocionada. O aperto no coração de Taeil doía. Sua mãe nunca havia dito isso para si. Fora que ela ligava uma vez na vida e outra na morte. Mas sua irmã mais nova... Ah, ela sempre foi o orgulho. A família só teve interesse na vida dela depois que se envolveu com um homem de boa condição financeira, um homem praticamente rico.
Taeil sabia que era horrível admitir isso de sua própria irmã, mas tinha ódio dela.

ㅡ Ahm... Parabéns então.

"Parabéns? O casamento está chegando e ela é sua irmã. Você achou mesmo que ia ficar de fora?"

ㅡ Achei.

"Achou errado!" Ela ria. "Ande Taeil, faça um esforço pelo menos uma vez. Precisarei de você para me ajudar! É super importante!"

Ele sabia... É claro que queria algo.
Não ligaria apenas para perguntar se estava tudo bem muito menos para fazê-lo se sentir importante dizendo que ele era um convidado especial por ser irmão da noiva.

"Taeil? Ainda está aí? Ande...! Faça isso pela sua irmã mais nova tão querida..." Ela pedia com tom triste. Taeil sabia que era uma farsa apenas para fazê-lo aceitar.

ㅡ Eu... Eu não quero ir. Para ser sincero, minha disposição está a zero por cento.

"O que?! Ora, deixe de ser preguiçoso! Você nunca muda não? Sempre que te peço algo você nunca colabora!"

ㅡ Deve ser porque sou inútil... ㅡ Acabou deixando escapar. Em seguida bateu em sua própria testa por ter dito aquilo. Idiota.

"Ahh, começou! Você e essas suas frescuras de adolescentes! Todos vocês ficam nessa fase sem fim de 'aii meu Deus! Eu sou tão inúutil, não presto pra nada!' " Havia drama falso em sua voz.

Taeil mordeu o lábio inferior com força, digerindo cada palavra que sua mãe havia proferido. Apertou os olhos numa tentativa de conter suas lágrimas.

"E sabe de um coisa Taeil? Você já é maior de idade. Tem seus bons vinte anos. Não é mais uma criança, muito menos um adolescente problemático e infantil!" Ela ficou em silêncio. "Espera, você tem vinte né?"

ㅡ Sim.

"Ah, que bom" Taeil podia imaginar o seu sorrisinho tosco. Revirou os olhos com puro desgosto mesmo sabendo que na verdade tinha 21, porém não queria perder tempo protestando.

ㅡ Olha, eu tenho que ir.

"Você vem me ajudar?"

ㅡ Não.

Antes que ela protestasse com gritos e reclamações, Taeil tratou de encerrar a ligação e desligar seu telefone. Assim ela não encheria mais o saco.

Bufou afundando a cabeça no travesseiro. Dessa vez já não controlava as lágrimas. Olhou para o relógio vermelho de formato circular pendurado na parede. Estava atrasado. Todo esse tempo de conversa furada o fez perder a noção das horas.

Respirou fundo e sentou-se em cima da cama passando a mão em seus cabelos. Nem sabia se ainda tinha forças para ir a escola. De qualquer forma, tirou os lençóis de cima de seu corpo e levantou-se.

Sua expectativa hoje era de que a aula começasse ás oito e terminasse ás oito e quinze, de preferência.

be my sun • johnilOnde histórias criam vida. Descubra agora