XXIII - i trust you.

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As mãos trêmulas eram somente um reflexo de como seu interior se encontrava naquele momento.

As costas da sua mãe... Ele não abriu a porta, somente espiou pela janela, mas teve certeza de que, realmente... Sim, era ela.

Perto dela, aquele homem que chamava de pai estava sentado no sofá. Eles não o notavam, estavam conversando com alguém logo a frente, mas Taeil ainda não conseguia ver.

Na verdade, ele queria mesmo era entrar e fazer um barraco enorme, mas não contava com a presença de uma terceira pessoa ali. Ainda lutava para saber de quem se tratava ou sobre o que falavam sem ser notado. Tentava não mover um centímetro.

ㅡ ...eu espero do fundo do meu coração que você não fique com medo e nem nada parecido. ㅡ Ouviu a voz de sua mãe e em seguida uma risada forçada da mesma. Seu estômago revirou.

ㅡ Até porque, eu mesmo tenho um pouco! ㅡ Ouviu a voz de seu pai dessa vez, em seguida ambos riram.

Seu pai sempre esteve ocupado demais então, naquele momento, Taeil imaginava o que o teria feito aparecer ali. Nada daquilo fazia o menor sentido.

ㅡ Bem, eu... Eu sinceramente nunca tive motivo para ter medo... ㅡ A terceira voz disse, depois forçou uma risada de maneira esquisita. ㅡ Ele é uma boa pessoa, muito gentil inclusive.

Taeil sentiu algo esquisito. Ele conhecia aquela voz...

ㅡ Ahh, tudo bem meu filho! Mas talvez vocês só estejam se conhecendo ainda, afinal, qualquer um é aparentemente perfeito no início! Não é, amor? ㅡ Ela riu e segurou a mão do Sr. Moon, que riu junto concordando. ㅡ Taeil ainda tem esses problemas de adolescentes na puberdade, eu espero que não se importe. Eu me lembro de quando ele chorava quando chegava da escola, ahm, quando mesmo? Ah, acho que era na época do fundamental. Eu perguntava o motivo e ele dizia "a culpa é da vida, eu não aguento mais viver" e blá blá blá ㅡ Riu alto, acompanhada do homem perto de si. ㅡ Onde já se viu alguém daquela idade pensar que sabe algo da vida? Eu sinceramente-

ㅡ CHEGA!!!!

Taeil estava a ponto de explodir. Os punhos estavam cerrados e seus olhos carregavam um misto de dor e ódio. Todos na sala se viraram para ele, a força com que empurrou a porta talvez tivesse sido ouvida pela vizinhança inteira.

Sua mãe parecia surpresa. Seu pai, o mesmo. Já Johnny... Bem, Taeil não viu, mas Johnny, que era terceira pessoa no cômodo, também não estava gostando nada daquilo e, se Taeil não interferisse, ele provavelmente iria tratar de fazer aquilo.

ㅡ Filho! Que bom ver você! Nós estávamos-

ㅡ Cala a boca. ㅡ Disse entredentes, havia amargura em sua voz. É claro que não devia ter falado dessa maneira, mas ele já não raciocinava direito.

ㅡ Não fale assim com a sua mãe garoto! O que é isso? ㅡ Seu pai foi se levantando.

ㅡ Que porra vocês dois estão fazendo aqui?! ㅡ Literalmente gritou. Johnny estava boquiaberto, nunca havia visto Taeil daquela maneira.

ㅡ Eu vim te fazer uma visita seu grosso! ㅡ Sua mãe justificou. ㅡ Não vai nos dar um "oi"?

Taeil já sentia suas bochechas cobertas por lágrimas. Sua mãe debochou de suas situações vergonhosas e, pior: contando para uma outra pessoa. E, pior ainda: essa pessoa era Johnny. Nenhuma palavra no mundo definiria a dor e a angústia que dominavam Taeil naquele momento.

ㅡ Por que você tá fazendo isso comigo? ㅡ Abaixou o tom de voz, falava dolorosamente.

ㅡ Só estava tentando alertar seu amiguinho aqui sobre o adolescente problemático que você nunca deixou de ser, algum problema nisso, Taeil? Eu estava ajudando você!

ㅡ À troco de quê? Já me humilha particularmente e agora inventou de fazer isso na frente das pessoas?! É isso mesmo?! Você nem o conhece!

Sua voz soava embargada pelo choro, mas ele não conseguia se calar. Qual era o problema daquela mulher? Por que ela sempre tinha que arranjar um jeito diferente de o machucar?

Sua mãe se aproximou mais de Taeil mesmo ele dando um passo para trás, então disse de forma baixa:

ㅡ Sabe, mudando de assunto esse aí faria um belo par com a sua irmã, não acha? ㅡ Sorriu. ㅡ Alto e muito gato, uau! Ele deve ser rico!

Taeil ficou boquiaberto. Não acreditava no que havia acabado de ouvir e não queria acreditar em nada do que estava acontecendo. Mais lágrimas saíam e seu peito só pesava cada vez mais.

ㅡ Ela... ㅡ Taeil disse baixo. Em seguida, verdadeiramente gritou: ㅡ Ela é casada, sua louca!

ㅡ Fale mais baixo! O que você quer, uh? Me matar de vergonha?!

Taeil não aguentou. Seu sangue havia passado para os olhos e suas batidas se descontrolaram. Não dava mais, não dava!

ㅡ Eu CANSEI!!!! Cansei de você me humilhando o tempo todo! Cansei de você me tratando como um pedaço de merda! Cansei de você rindo de todo o meu sofrimento como se não fosse nada! Chega! Some da minha vida, inferno! SOME!!!!

Sua voz se tornou áspera no último grito enquanto puxava seus cabelos de tanto descontrole. Antes que a mulher pudesse dizer qualquer coisa, Taeil passou desviando da mesma, indo em direção a Johnny.

Ele olhou no fundo dos olhos brilhantes de Taeil, ele via a vermelhidão presente em ambos, as lágrimas que encharcavam sua face. Segurou o rosto do menor com ambas as mãos e o viu fechar os olhos.

ㅡ Me tira daqui... ㅡ Taeil sussurrou. ㅡ Por favor...

Johnny assentiu rapidamente e olhou ao redor. Lá fora, a chuva já caía. Voltou a olhar para Taeil.

ㅡ Por favor... ㅡ Ele repetiu, Johnny não pensou nem mais duas vezes.

O americano tirou seu moletom com rapidez, ficando somente com uma camisa branca. Cobriu Taeil com o mesmo e saiu, o puxando pelo pulso.

Os pais de Taeil tentaram protestar, mas ele não deu ouvidos. Johnny saiu correndo com Taeil por baixo da chuva. As gotas que pingavam em si pareciam doer de tão geladas, sua pele estava completamente arrepiada, mas ele tentava ignorar. Corria sem descanso e sem soltar o menor.

Taeil chorava ainda mais, dessa vez soluçando por baixo do moletom preto que o cobria. Ele também se molhava, porém bem menos. Percebeu Johnny soltar seu pulso somente para segurá-lo devidamente pela mão. Taeil entrelaçou seus dedos firmemente e fez o possível para correr no mesmo ritmo que o maior.

Não sabia para onde Johnny o levaria. Só o que tinha certeza, naquele momento, era que podia confiar nele. Taeil estava confiando verdadeiramente nele e, de fato, iria para onde quer que ele o levasse.

be my sun • johnilOnde histórias criam vida. Descubra agora