XXVIII - drunk at the dawn

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4:00 am.

As mãos trêmulas e suadas. Não acreditava que aquelas cenas de horror haviam voltado a perturbar sua mente. Sentado em sua cama, as lágrimas desciam sem que ele ao menos pudesse evitar. O coração acelerado doía, o som da torneira ligada ecoava em sua mente. Aquela banheira. Transbordando água. Doía em seu peito. A aflição o possuía.

Taeil deu um tapa forte em seu próprio rosto e escondeu o rosto nas mãos. Soluçava alto, não havia ninguém para escutar. Virou-se somente para ligar a lâmpada, finalmente dando luz ao ambiente.

Lembrou-se também de ter visto a própria mãe em seu sonho, ela demonstrava seu desgosto como sempre. Pensou ter visto Johnny... Sim, definitivamente era ele. Ia andando, se afastando, como se... O abandonasse.

Não, não. Taeil fazia de tudo pra tentar arrancar aquelas cenas de sua mente, mas era impossível. Só de imaginar Johnny o deixando...

Taeil levantou bruscamente e derrubou seu pequeno armário de madeira, quebrando várias coisas que estavam em cima dele. Chutou papéis, chutou objetos, chutou seus cadernos repletos de palavras profundas de tristeza, onde não escrevia há quase duas semanas. Mas ali estava ele, como se tudo ao seu redor o castigasse.

Socou a parede, gritava de dor. Mas a dor estava em sua alma, em seu coração partido, não no pé cortado derramando o líquido vermelho que sujava o chão. Havia pisado em cacos de vidro por quebrar um copo com água que nem sabia que estava ali. Mas nem notava. Não era esse seu sofrimento principal, longe disso.

Sentou em sua cama novamente, apoiando a testa nas mãos, apertava os olhos ao ter notado só naquele momento a ferida profunda em seu pé. Sua respiração pesada era o som mais alto no ambiente. Tossiu algumas vezes, o rosto inchado de tanto chorar. Viu os pequenos pedaços de vidro pelo chão e sua vontade insana o consumia. Curvou-se e pegou um pedaço de uns cinco centímetros. Mordeu o lábio inferior com força e gemeu de dor, o pedaço cortou um dos dedos de sua mão, mas nem havia sido proposital. Deixou seu pulso à mostra e aproximou o objeto cortante. Não, havia uma pequena parte nele que não queria fazer aquilo. Mas a maior parte... Ele já não sabia. Encostou o pequeno pedaço na pele. Mais lágrimas amargas encharcavam seu doce rosto. Mordeu os lábios com força novamente.

Quando sua visão acabou desviando, focando em um papel no chão. Era uma foto. Taeil juntou as sobrancelhas, sua respiração ainda estava muito acelerada. Decidiu deixar o pedaço de vidro sobre a cama e curvou-se dessa vez para pegar o papel.

Ele soluçou alto, cobrindo sua boca com uma de suas mãos. Apertou os olhos novamente, não acreditava que ainda tinha tantas lágrimas. Ver aquele sorriso parecia ter o atravessado como uma faca. As palavras de Johnny vieram em sua mente, no dia em que lhe deu aquela fotografia que apertava em suas mãos no momento.

"Eu quero te dar isto. É só uma foto minha, mas acho importante que, caso eu não esteja com você, você possa me ver através dela e saber que nunca estará sozinho."

Taeil correu para seu guarda-roupa e vestiu um moletom. Dobrou a fotografia e a enfiou no bolso. Precisava vê-lo, acima de tudo, só queria vê-lo. Necessitava vê-lo.

Desceu as escadas com pressa, quase tropeçando. Ainda chorava mesmo após atravessar a porta e a trancar por fora. Chorava mesmo andando pela rua. Chorava enquanto a tontura o embriagava. Tropeçava, passava pelas pessoas bêbadas que tomavam conta da rua, mesmo que faltasse pouco mais de duas horas pro sol nascer. Dobrava esquinas como se estivesse prestes a cair no chão. Mulheres chegavam a se aproximar, se oferecer em troca de dinheiro. Taeil sequer respondia. Passava com pressa, faltando poucas ruas para chegar onde queria.

Usou a manga comprida do moletom cinza para enxugar o rosto, fungando em seguida. Seus olhos vermelhos o tornavam insano. Ele de fato parecia estar em um momento de descontrole. A boca entreaberta já estava seca.

Já em frente a casa, uma música animada era abafada. Taeil não entendeu, mas preferiu não se questionar. Umedeceu os lábios e parou em frente a porta. A música ficou mais alta com a proximidade, o que estava acontecendo?

Pôs a mão na maçaneta e notou que estava destrancada. Girou e a abriu, de início não viu ninguém. Mas haviam muitas vozes e risadas vindo da cozinha. Olhou de longe e conseguiu ver por cima do balcão que separava a sala da cozinha. Um grupo de pessoas sentadas à mesa conversava alto. Riam sem parar enquanto aproveitavam os vários tipos de bebidas que estavam espalhadas por lá. Johnny também ria, divertindo-se como nunca.

Taeil apertou os lábios um contra o outro, uma única lágrima foi derramada. Sentiu-se totalmente inútil. Vendo-o ali, divertindo-se. Sorrindo. Brincando. Bebendo. Com amigos. Só queria que o confortasse, mas percebeu que estava sendo egoísta demais. Estaria atrapalhando se fosse desabafar sobre seus problemas. Ele só queria um abraço...

Abaixou a cabeça e fechou a porta com força no exato momento em que a música acabou para então começar outra. Taeil saiu correndo, mas não viu que todos na cozinha notaram que alguém havia saído dali. Todos, inclusive Johnny. Mas, de alguma forma, era como se houvesse sentido quem poderia ser.

Porém não tinha certeza, então, o que poderia fazer?

.

.

Taeil andava como se estivesse bêbado, perdido pelas luzes fortes do centro da cidade. Casas de show faziam barulho, pessoas dançavam, bebiam, davam uns amassos. Alcançou algumas notas em seu bolso e comprou um cigarro. Havia esquecido seu velho hábito fazia um tempo, mas de repente sua mente pareceu ter o pedido e ele não estava em um momento tão consciente para saber dizer não.

Tragou calmamente e riu pro nada. Seu rosto ainda estava inchado depois de tanto choro, seu corpo estava fraco, parecia se arrastar. Não estava nada bem e, do nada, queria chorar. Seus olhos encheram-se de lágrimas que chegaram a arder. Tragou novamente sentindo suas bochechas molharem pela milésima vez em tão poucas horas. Continuava andando sem rumo. Sem companhia. Sem orientação.

Estava profundamente machucado, de alguma forma. Sentia que era um peso na vida de Johnny, mas sequer sabia dizer se isso era resultado de seu raciocínio lógico ou da vodka que acabara de comprar correndo em suas veias.

Pensou até ter ouvido a voz de Johnny e ria pro nada novamente, mas se virava quase caindo e só via as luzes coloridas das baladas em cada esquina.

A tontura tomava conta de si. Pensava ver coisas que, na verdade, não existiam. Ria e chorava. Talvez tivesse arrumado algumas brigas enquanto andava inconsciente de seus atos. É, foi o que aconteceu, era explícito na cor roxa logo abaixo de seu olho. Os passos em ziguezague, até que, de repente, caiu. Em algum lugar. Não sentiu dor, estava bêbado demais para isso. E a última coisa que viu, antes de fechar os olhos, foi o azul forte indicando que o dia estava quase pra amanhecer.

be my sun • johnilOnde histórias criam vida. Descubra agora