XXIX - i don't wanna make you waste your time

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As pálpebras pesadas abriam-se quase sem força. A seguir, Taeil via um teto absolutamente branco e liso. A luz do dia ardia em seus olhos, se perguntava onde havia ido parar.

Continuou encarando o teto como se não tivesse forças sequer para mover o pescoço. Só então percebeu o aparelho azul cobrindo o seu rosto lhe fornecendo oxigênio. Ouvia vozes, mas sua visão ainda estava turva. Nada vinha à mente, não conseguia se lembrar de nada. Até que alguém surgiu em seu campo de visão, mas o ruivo demorou a racionar quem estava lá.

ㅡ Taeil? Você está me ouvindo? Taeil, por favor, diz alguma coisa... Por favor ㅡ Ouvia a voz doce dizer, só então reconheceu o ser que o chamava com preocupação.

ㅡ J-Johnny...? ㅡ Conseguiu virar o rosto na direção do maior, aos poucos tudo parecia mais claro. Já tinha certeza de onde estava, só não sabia o porquê.

ㅡ Oi, Taeil ㅡ Johnny aproximou sua mão para ajeitar os cabelos do menor, sorria docemente, mesmo que a preocupação ainda fosse visível em sua face. ㅡ Ainda bem que acordou, como se sente?

Taeil desviou o olhar, sentindo uma sensação totalmente esquisita. Parecia que algo o bloqueava, o fazia sentir-se mal. Sua cabeça dolorida não o ajudava a pensar, mas ainda estava se esforçando para lembrar ao menos de alguma coisa.

Arrumou a postura com cuidado, recebendo ajuda do maior. Retirou o aparelho que cobria sua boca e o deixou pindurado no pescoço, mesmo que não se sentisse pronto para dizer alguma coisa. Ao redor, praticamente tudo era da cor branca. A enfermeira o observava no canto da sala, sorria confortavelmente para si. Haviam vários aparelhos desconhecidos para Taeil e, ainda, um sofá ㅡ também da cor branca ㅡ que se encontrava próximo de sua cama, próximo de onde Johnny estava.

ㅡ Você está bem Taeil? ㅡ Johnny observava seu rosto pálido, estava realmente preocupado mas Taeil não dizia nada. Queria saber o que se passava em sua mente.

ㅡ Eu... Acho que sim. ㅡ Disse, finalmente, depois de uma breve pausa. ㅡ O que aconteceu comigo? ㅡ Sua voz saía fraca, quase rouca.

ㅡ Ahm, na verdade, sou eu quem deveria perguntar, não acha? ㅡ Arrumou a postura cruzando os braços. Olhava para Taeil mas este parecia muito confuso ainda. ㅡ Só o que eu sei te informar é que você arrumou briga com duas pessoas. Uma delas te agrediu e, a segunda... Bem, o cara não tava afim de papo.

ㅡ O que aconteceu? ㅡ Taeil sentiu medo, em toda a sua vida nunca imaginou que faria algo do tipo.

ㅡ Ele também estava bêbado, só que sem um pingo de paciência. Te lançou contra um carro que passava. Por sorte ele te acertou de raspão. ㅡ Taeil estava horrorizado, era óbvio em sua expressão. Johnny continuou: ㅡ Bem... Poderia ter sido pior, você acabou caindo na beira da estrada com força, se machucou todo e perdeu a consciência.

ㅡ Acho que eu já tinha perdido a consciência bem antes disso, você não acha?

Johnny riu, Taeil ainda tentava assimilar tudo aquilo.

ㅡ Sim, eu tenho certeza. Quer dizer, tudo isso foi o que me contaram. Daí te levaram pro hospital e é aí que eu entro na história. ㅡ Taeil pareceu mais confuso ainda. ㅡ Ontem... Hoje, na verdade, eu vi o pessoal te levando pra lá, e aí te reconheci. Desde então, estava esperando você acordar.

Johnny juntou ambas as mãos atrás do corpo, esperando que Taeil pudesse dizer algo. O menor encarava o próprio colo distraído, Johnny se perguntava se ele refletia sobre tudo ou se pensava em outra coisa. Sentia-se levemente ansioso.

ㅡ Eu... Eu realmente não me lembro de nada disso, só... Eu acho que... ㅡ Mordeu o lábio inferior. Finalmente, era como se sua mente estivesse realmente funcionando. ㅡ Johnny, você... Eu vi você. Você... Estava em casa, e...

ㅡ O quê?

ㅡ Comemorava com... Acho que eram seus amigos, eu não sei. Ahm... Ria, conversava, e... Céus, você parecia tão bem.

ㅡ Do que você tá falando? Oh, espera. Você foi em casa? Quando?

ㅡ E-eu não sei, Johnny. Só... Me deixa pensar. Eu... Juro que te vi. Não me lembro direito, mas estava de madrugada, você estava na cozinha, estava tão feliz.

Johnny finalmente se lembrou. Amanheceu esperando Taeil acordar e havia se esquecido totalmente do que havia acontecido antes. Como poderia ter feito isso?

ㅡ Sim...! Sim, meu Deus, eu havia esquecido... Ahm, alguns amigos do curso que eu faço resolveram marcar de ir lá em casa, eu nem esperava por isso. ㅡ Taeil desviou o olhar, Johnny notou algo de estranho. ㅡ Mas... Então quer dizer que você foi lá, certo? Taeil, o que aconteceu? Por favor, me explica tudo isso, por que você bebeu tanto? Você pode, por favor, esclarecer isso? ㅡ O ruivo não o encarava, e nem dizia nada. Johnny sentiu seu coração apertar, inevitalmente. ㅡ Taeil, me escuta. Olha, você ficou internado aqui a manhã toda, são quase meio dia. De repente, eu deixo alguns amigos em casa e quando volto encontro um pessoal te ajudando a chegar até o hospital, você não tem noção do quanto eu me preocupei, então... Por favor ㅡ Taeil virou para ele, Johnny encarava seus olhos sentindo um misto forte de tristeza e desespero. ㅡ Me ajuda a te ajudar.

Taeil mordeu o lábio inferior novamente, sua respiração havia ficado estranha, sentia algo realmente estranho. Ou talvez só não soubesse o que sentir. Nunca foi do tipo que corre atrás de uma pessoa em específico quando está com problemas, aquela foi a primeira vez, mas o arrependimento foi muito mais forte do que esperava. Do fundo do coração, sentia que poderia somente atrapalhar. Acabou sentindo também que todo esse tempo só vinha atrapalhando. Não queria ser um peso na vida de Johnny, mesmo sabendo que precisava dele mais que qualquer coisa.

ㅡ Você não precisava ter vindo até aqui.

Johnny o olhou surpreso. Um pouco decepcionado, talvez. Imaginou que Taeil sequer tivesse prestado atenção em tudo o que disse. Seu coração sentia-se triste.

ㅡ Taeil, eu... Olha eu não pude simplesmente evitar, ok? Eu não iria simplesmente voltar para minha casa e te deixar sozinho aqui.

ㅡ Sim, poderia sim. Na verdade, se quisesse me visitar, poderia muito bem vir aqui pela manhã. Você realmente ficou acordado até agora? ㅡ Encarou Johnny tentando manter sua expressão firme, o maior abaixou a cabeça.

ㅡ Sim... Eu fiquei. E sei que poderia muito bem ter simplesmente voltado a minha casa e dormido tranquilamente até que o dia amanhecesse mas você está agindo como se não me conhecesse. ㅡ Sentou-se no sofá próximo à cama de Taeil e se curvou sobre a mesma, Taeil acompanhava seus movimentos sem dizer nada. ㅡ Taeil, eu jamais faria isso, como pode pensar isso de mim? Eu não iria te abandonar desse jeito, eu realmente me importo com você e já te disse isso! Acredita em mim, por favor. Por que está agindo assim comigo? Não confia mais em mim?

O silêncio se fez presente. Taeil apertou os lábios um contra o outro. Seus olhos arderam sem que ele pudesse evitar, o nó em sua garganta era dolorido. Ah, como ele queria contar a verdade. Confessar o quanto queria chorar neste exato momento, confessar o quanto se sentia egoísta mas também confessar o quanto queria seu carinho. Queria confessar que também se importava com ele, porém era inseguro demais. Confessar que, apesar de não querer dar trabalho, não queria que ele soltasse sua mão em hipótese alguma. Taeil não queria ficar longe de Johnny, mas sentia que era um erro o considerar seu único refúgio, era um erro encher sua vida tão feliz com seus problemas medíocres.

Mas não somos nós que escolhemos quem nos faz bem ou não.

E, definitivamente, não foi Taeil quem escolheu Johnny para ser seu porto seguro. Afinal, quem poderia ir contra os impiedosos desejos do coração?

"Eu só queria não ser tão tóxico pra você..."

be my sun • johnilOnde histórias criam vida. Descubra agora