Dejavu

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Foi como um Dejavu.
Muitas pessoas em volta de um corpo cheio de sangue quente escorrendo por diversos cortes a machucados nos mais diversos lugares do corpo. Paramédicos com seus uniformes azul-escuro saiam da ambulância com luzes vermelhas e azuis piscando. Pessoas chorando e gritando. Do outro lado, uma garota em choque via inerte enquanto punham seu corpo em uma maca e a colocavam na ambulância, mas o medidor cardíaco já indicava que não havia mais nenhuma forma de trazê-la de volta, ainda que os paramédicos usassem o desfibrilador.

Foi como reviver minha própria morte.

Caminhei devagar até a garota que morrera dessa vez analisando seu corpo.
Diferente do corpo mortal, que estava cheio de lacerações, cortes, sangue, torções e luxações, sua alma tinha apenas algumas marcas arroxeadas na pele pálida. Eu as conhecia, também tinha marcas assim quando morri.
Eram machucados na alma. São adquiridos com o tempo, e com ele também se vão.

—Como era o seu nome? – perguntei ao me aproximar dela

—O-o que que tá acontecendo? – ela olhava para a ambulância, cujas portas traseiras estavam sendo fechadas por dentro pelos paramédicos. – Aquele é o meu corpo... Onde estão levando meu corpo?! – seu tom subia e descia, sua voz transbordando medo.

—Como se chama? – Insisti novamente, com calma, tocando seu braço frio, dando a ela algo que não tive no momento de minha morte – Eu vou lhe explicar, apenas me diga seu nome.

Ela abraçou o próprio corpo e então me olhou, os olhos grandes arregalados de medo.

—Jeon Minju – sua voz agora saia num sussurro apavorado – O-oque está acontecendo?

—Não há jeito fácil de dizer isso, Jeon Minju, mas você está morta. – eu disse com cautela, encarando seus olhos com minha melhor expressão de compreendimento e empatia – Você acabou de se matar...

Apesar de seus olhos continuarem arregalados, sua expressão se suavizou.

—E você está aqui... Pra me levar pra o além? – fiquei muda alguns segundos.

Não queria lhe dar esperanças, mas não queria acabar com todas elas lhe contando que estava presa assim como eu.
Por fim, soltei um suspiro pesado

—Você não faz ideia de como eu queria poder fazer isso por você, mas estou presa aqui a muito tempo.. – foi minha resposta – Não sei ir para o além...

—Isso quer dizer que... – ela baixou os olhos – mesmo depois de tudo, até mesmo depois de morrer... – ela parecia pronta para chorar – eu continuo presa aqui? – seus olhos me encararam cheios de tristeza

Se eu tivesse um coração, ele teria se partido por completo. Mesmo sem um pude sentir um pouco de sua tristeza e me solidarizar com ela. Entendo o sentimento com o qual ela está lidando, mas talvez seja mais fácil para ela passar por isso, eu posso ajudá-la a suportar e superar assim como eu gostaria que alguém tivesse me ajudado.

。・°°💮°°・。

EunBi e WonYoung agora choravam abraçadas uma a outra.
Foi preciso arrastá-las para dentro da escola para fazer com que se acalmassem. Estiveram incontroláveis por um tempo.
Nos usamos da sala do Grêmio, onde havia uma mesa e um sofá confortável para acomodá-las e uma mini cozinha e um kit de chá para podermos ficar, fiz um chá calmante que madame Yun me ensinará e dei para que bebessem. Isso as fez acalmar os ânimos, mas não mudou em nada o fato de que todas estávamos extremamente abatidas pelo suicídio de Minju. Todas chorávamos sua perda a nossa maneira; WonYoung a perda de uma irmã, EunBi a perda de um amor, e o resto de nós a perda de alguém de quem apenas começávamos a nos aproximar...

Escorei-me à mesa, a cabeça girando. Não conseguia entender direito ainda o que havia acontecido, precisava processar aquilo ainda.
Gostaria de poder perguntar à WonYoung o que estava acontecendo com Minju para tê-la levado a fazer aquilo, mas não queria fazê-la sofrer ainda mais.

Derrepente ouvi uma voz chamando meu nome. Eu reconheceria aquela voz rouca em qualquer lugar, então levantei meus olhos em sua direção na mesma hora. No entanto, não foi a visão de Chaeyeon que me chocou, e sim quem atravessava a porta fechada ao seu lado que me fez arfar e sussurrar, descrente:

—Minju?

Heaven Is A Place Full Of Nothing - ChaeKura [EM HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora