Outburst

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Com o surgir das estrelas, todas as outras presentes se foram e o lugar parecia ainda mais vazio sem ChaeWon. A loja agora está fechada e apenas Minju, a Cartomante e eu permanecemos aqui.
Depois da conversa da jovem irmã de Minju com a Cartomante, a garota permaneceu chorando por alguns minutos enquanto era consolada por Yujin e notei que a própria Minju também parecia triste. Senti tanta falta de ChaeWon naquele momento, ela saberia exatamente o que dizer pra Minju, enquanto eu não conseguia nem imaginar uma forma de chegar perto dela naquele momento sensível...
Agora nós duas estamos no quartinho ambientalizado, como de costume.
Minju está sentada em um canto com as costas apoiadas na parede. Sua expressão habitualmente vazia hoje deixa transparecer uma tristeza incomum.
Apesar de eu já estar observando-a há alguns minutos, ela não olha ora mim. Na verdade, parece que seu olhar não está fixado em nada especificamente.
Nunca tive muitos amigos em vida, mas tinha agora, não é? Alguma hora eu precisaria aprender a lidar com esse tipo de situação, mais cedo ou mais tarde, então disse a primeira coisa que me veio a cabeça.

-Quer conversar? - disse chamando sua atenção.

Minju pareceu despertar de um transe ao ouvir minha voz. Ela olhou para mim durante alguns segundos antes de balançar negativamente a cabeça. Mesmo com sua negação, não desisti.

-Tem certeza? - disse movendo-me para mais perto dela e sentando ao seu lado. - Eu também tenho uma irmã mais nova viva... Entendo um pouco como se sente. - Neste momento, toda a atenção de Minju se voltou pra mim. - Ela passou a morar com a nossa tia, em Busan, depois da minha morte...

-E seus pais? - seus olhos tinham uma curiosidade ainda desconhecida por mim.

-Eu não me lembro do meu pai, nunca cheguei a conhecer ele. Já a minha mãe... - senti uma tristeza profunda começar a crescer dentro de mim ao falar sobre aquele assunto - Minha mãe morreu quando eu tinha doze anos. Chaeryoung só tinha a mim... - meus olhos começaram a se encher de lágrimas, mas eu me recusava a deixá-las cair por minhas bochechas pálidas. Chaeryoung está bem melhor sem mim...

-Nos somos mais parecidas do que eu imaginava, Chaeyeon... - Minju disse encarando a parede a nossa frente.

Olhei pra ela a fim de mais explicações, aquela frase parecia muito vaga aos meus ouvidos... Mesmo sem olhar pra mim, ela continuou.

-Quer dizer, eu lembro do meu pai, mas ele morreu quando eu era muito pequena... - seu tom era mais triste do que de costume - Minha mãe se casou depois, e aí ela teve a WonYoung com o novo marido, e, desde que a Wonie nasceu, eu sempre fui a bastarda que só ocupava espaço na casa dele. - Ela abaixou a cabeça - Não que eu culpe a Wonie, pelo contrário. Ela e minha mãe sempre fizeram de tudo pra eu me sentir melhor naquela casa, mas... - ela suspirou pesadamente, se virando pra me encarar - Não dava.

Eu queria entender o que aquelas duas palavrinhas significavam, mas fiquei com receio de perguntar e desencadear algum sentimento pior em Minju. Ela já havia se aberto comigo sobre sua vida passada, nesses poucos minutos, mais do que em todas as outras semanas. Eu não queria estragar isso pressionando-a a dizer mais coisas desconfortáveis, então apenas fiquei calada ao seu lado. Nós duas passamos aquela noite apenas encarando a parede a nossa frente sem trocar mais uma palavra se quer.

Heaven Is A Place Full Of Nothing - ChaeKura [EM HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora