They See Me

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O rosto pálido e morto de Minju era choroso mas, mesmo que parecesse ter chorado ou querer chorar, não haviam lágrimas.
Seu corpo tinha ematomas roxos que eu não pude entender.
Chaeyeon estava ao seu lado, com a mão em seu braço como se a confortasse.

No momento em que ela apareceu na sala do Grêmio, não tive muito tempo de pensar no assunto, mas me intrigava saber o motivo de ela estar aqui. Chaeyeon não saia do consultório de Madame Yun desde que foi lá pela primeira vez...

Minju fez som de fungado, como se realmente chorasse, e a expressão de Chaeyeon se suavizou, como nunca vi antes. Sua armadura de indiferença havia, finalmente, caído. Sem saber o porque, senti uma leve pontada em meu coração quando ela finalmente virou seu rosto de frente para mim por completo e eu pude vislumbrar que talvez estivesse tão triste quanto o resto de nós.

Chaeyeon fez como se fosse tocar meu braço também, como se esquecesse que não podia, mas logo abaixou a mão e fez um movimento com a cabeça, me chamando para conversar longe de Minju.

— Sakura, sabe se há algo que eu possa fazer para ajudá-la? Acha que a cartomante pode acolhe-lá no consultório como fez comigo? – me bombardeou de perguntas logo que já estávamos longe o bastante

—Chaeyeon, você está parecendo... Aflita. – não conseguia deixar de prestar atenção no fato de que ela estava demonstrando emoções – Por que? O que houve, Chaeyeon? Por que essa mudança de repente?

Chaeyeon suspirou e encarou-me nos olhos.

— Eu a vi morrer. – Chaeyeon disse vacilante – Agora pouco, na entrada, quando ela se atirou. Eu vi a irmã dela... Como chorava... Eu... – Ela gaguejava, parecia a ponto de chorar – Eu me lembrei da minha morte quando vi aquilo... – Ela abaixou o rosto e a voz, parecia não conseguir mais me encarar nos olhos, ou talvez não conseguisse encarar outra coisa – As sirenes, os paramédicos, as luzes, os gritos... – apertou os olhos fechados – Foi tudo como se eu tivesse voltado no tempo. – Ela tornou a me encarar, os olhos determinados e cheios de pesar – Não quero que ela passe pelo mesmo que eu, Sakura. Desolada e sozinha perdida num mundo frio, sem cor e sem ninguém.

Neste momento percebi o quão pouco eu entendia sobre o que realmente as almas presas sentiam: nada. Um completo vazio. E eu não tinha parado para enxergar esse lado de Chaeyeon, não tinha parado para pensar em sua realidade.
Mentalmente, me martirizei por te-la criticado mesmo que mentalmente por sua falta de entusiasmo ou esforço todas as vezes que tentávamos ver ser ela conseguia fazer levitar as ervas no consultório de madame Yun.

— E se ela e-evaporar... Como você disse que pode acontecer? – tornou a dizer, ainda mais preocupada, sua voz revelando medo.

Isso fez com que o peso de minhas palavras para Chaeyeon me atingissem e eu visse o quão dura fui com ela.

— Não se preocupe, Chaeyeon. Eu vou ajudá-la no que for possível. Tenho certeza de que madame Yun ajudará também – forcei um sorriso. Queria parecer confiante em minhas palavras, mas não sei se consegui.

Talvez o retorno da suavidade a face de Chaeyeon fosse um sinal de que, no mínimo, ela tentava se convencer de que minhas palavras eram verdadeiras também.

。・°°💮°°・。

Chaeyeon e Sakura se afastaram de mim, para conversar sobre mais coisas que eu não sabia.
Até agora não entendia como Sakura podia me ver. Como podia nos ver.
Isso tudo de "pós-vida" ainda é muito novo para mim, já que eu não costumava acreditar em fantasmas, espíritos e coisas do tipo.
Bom... Por ironia do destino, acabei por me tornar um.

Por uma fresta na porta entreaberta, pude ouvir o choro baixinho de WonYoung e me senti péssima, mas logo o sentimento cessou.
Minha intenção nunca foi magoá-la, e eu sei que não havia. Ela estava apenas em choque. Ver alguém se matar faz isso com você, ainda mais quando se tem pavor de sangue, como minha irmã.
Realmente deve ter sido horrível para ela ver a imagem de meu corpo ensanguentado no chão.
Mas, assim que o choque passar, depois de alguns diazinhos ou semanas, ela vai se esquecer de mim e será mais feliz.

Mesmo convencida disso, entrei na sala com cautela. A porta balançou, reagindo minimamente ao contato de meu ser fazendo força contrária à si.

WonYoung chorava abraçada a EunBi.
Vê-las daquele jeito me fez sentir algo ruim. Um vazio maior do que o que estava desde que tive o impacto com o chão. O vazio que eu sentia ao vê-las daquele jeito era mais sufocante do que o da perda da vida.
Nunca gostei de ver chorar as pessoas que me são importantes, muito menos quando é por minha causa.

Diante daquela visão e sob pressão daquele pensamento, abracei meu próprio corpo e dei meia volta, só então percebendo que tinha atravessado metade a sala e me aproximado delas inconscientemente.

A caminho da saída, acabei esbarrando com uma garota, pouca coisa mais baixa que eu, de cabelos cobre, quase castanho escuros, pouco abaixo dos ombros.

—Sinto muito. – ela fez uma mesura e eu também, nos desculpando mútua e simultaneamente.

Segui meu caminho para a porta, tornando a cercar meu corpo com meus braços mortos, quando ouço meu nome ser pronunciado pela voz da mesma garota que antes havia trombado comigo.
Sua voz era carregada de incerteza e espanto.
Logo, todas presente naquela sala tinham seus olhos virados na minha direção.

— Yujin! – uma das outras garotas a repreendeu – Isso não é hora de fazer graça!

。・°°💮°°・。

Quando notamos que a Jeon recém morta já não estava mais no lugar onde a havíamos deixado, Sakura e eu percebemos o som de uma confusão vinda da mesma sala de onde eu havia feito Sakura sair. A sala onde a jovem irmã de Minju chorava junto a uma das amigas de Sakura.

— Yujin, o que foi? – Sakura disse, entrando na sala comigo em seu encalço – O que está acontecendo?

— E estou vendo a Minju, ela está bem aqui! – A garota, Yujin, disse. Parecia assustada, no minimo – Sakura, você acredita em mim, não acredita?

— Sim, Yujin, eu acredito. – Sakura respondeu minimamente após um suspiro – Eu também a vejo

Heaven Is A Place Full Of Nothing - ChaeKura [EM HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora