Heaven Is A Place Full Of Nothing - ChaeKura [EM HIATUS]

You Can Cry

Sakura estava cabisbaixa quando atravessou a porta de vidro do consultório.
Ela sempre me pareceu uma garota tão alegre e animada... Isso me fez pensar o que teria acontecido.
Talvez, se ChaeWon ainda estivesse aqui conosco, nós três perguntáriamos a ela o que havia acontecido...

Infelizmente, ou felizmente, ela não estava.
Apenas Chaeyeon e eu.

Apesar da nossa conversa ontem ter nos aproximado bastante, ainda não me sentia confortável para me abrir cem por cento com ela. Mesmo morta, lembrar daquilo machucava muito.
Só de pensar nas palavras dele, no toque dele... Eu sentia nojo de mim.
Mesmo que agora eu não tenha um corpo e mesmo que, segundo Chaeyeon e ChaeWon, esqueçamos a maioria das coisas após algum tempo de morte, as memórias daquela época continuam bem vívidas em minha mente (se é que ainda tenho uma, não sei do que deveria chamá-la).
Ainda me lembro de cada palavra suja. De cada toque que fazia minha pele arrepiar de medo já sabendo o que vinha a seguir.

Inconscientemente, me encolhi como forma de me proteger dele, mesmo que ele não estivesse aqui e que, mesmo que estivesse, jamais poderia me tocar novamente.

Meus pensamentos foram imediatamente interrompidos por um toque no meu ombro, o que me fez dar um pulo de susto. Era ele. Só podia ser. Nenhuma outra coisa se passava pela minha mente naquele momento.

—Ei, sou eu. – a voz doce de Chaeyeon invadiu meus ouvidos, e me virei encarando seus olhos – Calma, Minju-ya. Tá tudo bem... – ela se sentou ao meu lado, sem quebrar o contato visual estabelecido por mim, nesse pouco tempo me permiti acalmar. Eu diria até que parei de prender a respiração que segurava sem perceber, porém eu não respiro... – O que houve, Minju-ya? – perguntou calma.

Não consegui formular nenhuma frase sequer. Abri a boca mas palavras não saiam. Queria dizer que estava tudo bem, que apenas estava distraída, mas não conseguia...
Sem conseguir controlar meu pensamentos ou ações, meus olhos romperam em lágrimas e iniciei um choro soluçado, a visão completamente embaçada pelas lágrimas que saiam rápidas sem que eu pudesse segurá-las.
Senti os braços de Chaeyeon me envolvendo e me permiti apoiar a cabeça em seu ombro enquanto ela acariciava meus cabelos em silêncio.

Eu realmente achava que a morte iria fazer tudo ficar melhor. Que, se eu morresse, toda a dor acabaria. Tudo aquilo que eu passei sumiria.
Mas não.
As memórias daquele tempo continuam me perseguindo, mesmo morta. Mesmo enquanto tento contar aquele choro involuntário.

Chaeyeon deve ter percebido o quão tensa eu estava ao tentar controlar as lágrimas que escorriam por minhas bochechas.

—Não segure... – murmurou próximo ao meu ouvido em meio aos carinhos que fazia em meu cabelo – Mesmo mortas, nós ainda somos seres humanos, Minju... – ela se afastou um pouco, olhando novamente em meus olhos e abrindo um sorriso – Você pode chorar quando não se sentir bem. Não é vergonha e também não vai lhe causar nenhum mal.

As lágrimas, que eu mal havia controlado, conseguindo que descessem com menor intensidade, agora voltavam a fluir rápidas.
Puxei a pra perto de mim novamente, me deixando afundar no conforto do seu abraço.