CAP. 8

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Estacionei com uma certa dificuldade e assim que saí do carro, me apoiando nas muletas, Ricardo surgiu do nada, gritando feito um louco quase me matando do coração :
- Não acredito que você veio dirigindo!

Me virei para ele quase em um pulo, completamente sério. Não sei como não caí. Mesmo assim, me mantive calmo:
- O carro é automático. Deu pra dirigir de boa!
Ele franziu a testa, como se fosse um pai reprovando minha atitude.
- Você é teimoso demais, Rodrigo!
- E você é chato demais, Ricardo. Eu sei dos meus limites.

Entortando a boca e sem mais broncas, me esperou bipar o carro para caminhar ao meu lado à passos lentos em direção à uma de suas casas. Na verdade, essa era nossa, onde havíamos crescido, onde vivemos com nossos pais. Mas era ele que vivia lá com a esposa. Confesso que nem fazia questão dela. Nunca fui muito apegado à bens materiais. Só à minha moto mesmo ...
No total, eram três casas e mais um apartamento. Essa daqui, uma na cidade para onde costumava ir resolver as pendengas da empresa da família, uma no campo (saudades) e o apartamento perto da praia, que era seu mais novo investimento.
Essa nossa residência era enorme, de três andares, com uma arquitetura antiga. Digo que era charmosa e completamente nostálgica. De frente pra ela tem uma praça meio arborizada onde o pessoal costuma passar o tempo, fofocando da vida alheia ou olhando as crianças brincarem em um ambiente de plantas floridas com uns pequenos espaços de grama verde. No meu tempo de infância, aquele espaço era só uma área limpa com algumas árvores onde iamos brincar até de noite, antes de papai chegar do serviço, pra não apanhar. Ele só ameaçava, mas poucas vezes batia na gente. Mamãe gritava da porta de casa como uma doida mandando a gente entrar, pois logo seria o jantar.
Lembro que Ricardo já corria pra dentro, enquanto eu continuava a brincar feito um louco varrido, porque era bom demais. Mas não demorava alguns minutos pra ele voltar e me puxar pelo braço com tanta força que parecia que ia deslocar. Eu era magricela e ele, mais velho e maior, tinha essa vantagem sobre mim.
Sempre odiei esse jeito extremamente cuidador, mas entendo que tal proteção é resultado das minhas inconsequências. Até hoje ajo feito um jovem irresponsável, surpreendendo a todos com uma ousadia nova. Mas mesmo assim, mesmo sabendo que a maioria das pessoas me olham como um adulto imaturo, não ligo. Realmente não me importo. Não faço nada que vá foder com a vida do meu próximo. Todos que estavam comigo nas minhas loucuras vieram por livre e espontânea vontade.
- Cadê sua namorada? - Ricardo quis saber, interrompendo meus pensamentos.
- Foi pra casa!
- Por que não a trouxe?
Entortei a boca, olhando com o canto do olho, já entendendo :
- Me poupe, Ricardo!
Ele sorriu fraco, provocativo. Que idiotice... Não sei o que o fazia acreditar que namorar com outra me faria esquecer a Samanta.
- Ela tem te ajudado bastante, não é mesmo?

Tinha que concordar com ele. Cecí estava sendo maravilhosa comigo, sem receber nada em troca além de carinho e admiração.
- Verdade. Nem sei como agradecer a ela...
- Casando!
- Vai te foder! - retruquei impaciente, vendo Mariana se aproximar para me saudar com um abraço enquanto ele gargalhava da minha cara.
- Como está essa perna, meu cunhado querido ?

Sorri, olhando para baixo para vê - la. Estava muito bonita,  o cabelo encaracolado volumoso e comprido, vestida em algo que acredito ser um vestido florido. Gostava dela pra caralho! É nítido que ela ama meu irmão...
- Está bom de melhorar, Mari. Eu não vejo a hora de tirar os pinos.

Ela observou um pouco, como se analisasse, mas sei que estava admirando minhas coxas grossas :

- Já não está tão inchado, não é mesmo? Já fez quantos meses?
- Vai fazer cinco meses... Cinco meses sem saber o que é sexo.

Ela gargalhou muito e gostava de fazer os outros rirem. Assim que se recompôs, bateu no meu ombro de maneira amigável :
- Você não muda, Rodrigo!

PROIBIDO ESQUECEROnde histórias criam vida. Descubra agora